Em meu consultório, é comum receber pais que chegam com um misto de alegria e preocupação: “O bebê nasceu há dois meses, mas nosso filho mais velho mudou completamente. Ele está agressivo, manhoso e até voltou a fazer xixi na cama.”
Esses relatos me são familiares. O nascimento de um irmão é um evento profundamente transformador para toda a família — especialmente para a criança que, até então, ocupava o papel central no vínculo com os pais. A chegada de um novo bebê altera o equilíbrio emocional, desperta inseguranças e reorganiza os papéis dentro de casa.
Neste artigo, quero compartilhar — com base na Psicologia e em minha prática clínica — como o nascimento de um irmão afeta a criança, quais são as reações emocionais e comportamentais mais comuns, e como os pais podem lidar com o ciúme e a regressão de forma saudável.
Meu objetivo é oferecer não apenas um olhar técnico, mas também ferramentas práticas e reflexões profundas para quem deseja fortalecer o vínculo familiar e se autoconhecer nesse processo.
O impacto emocional da chegada de um novo irmão
A criança que ganha um irmão vivencia, muitas vezes, a experiência do “desalojamento afetivo”. Até então, ela era o centro da atenção e da rotina parental. De repente, tudo muda: horários, prioridades e até o olhar dos pais.
Segundo a Teoria do Apego (Bowlby, 1969), a base da segurança emocional na infância é construída a partir da previsibilidade e da disponibilidade emocional dos cuidadores. Quando essa base é abalada, mesmo que por um evento natural e positivo como o nascimento de um bebê, a criança pode reagir com ciúme, regressão ou comportamentos de busca por atenção.
Na clínica, vejo isso acontecer com frequência.
Lembro do caso de uma menina de 5 anos que, após o nascimento da irmã, começou a falar como um bebê e pedia para ser alimentada na boca. A mãe, exausta e preocupada, interpretava isso como “manipulação”. Mas, na verdade, era um pedido simbólico de conexão — uma forma da criança dizer: “Não me esqueça”.
Ciúme, regressão e medo de perder amor
É fundamental compreender que o ciúme não é sinal de problema, mas uma resposta emocional legítima à mudança de posição no sistema familiar.
A Psicologia do Desenvolvimento (Erikson, 1950) nos lembra que, entre os 3 e 6 anos, a criança vive a fase de iniciativa versus culpa — momento em que busca afirmação e aprovação dos pais. Quando um irmão nasce, ela pode sentir que perdeu esse espaço e reagir de diferentes formas.
Uma das reações mais frequentes é a regressão, quando a criança volta a comportamentos já superados — como fazer xixi na cama, pedir para ser alimentada ou falar como um bebê. Esse tipo de conduta não é manipulação: é uma tentativa inconsciente de reconquistar o olhar e o carinho dos pais. A resposta ideal não é repreender, mas acolher e reafirmar o vínculo afetivo.
Outra manifestação comum é a agressividade em relação ao bebê. Pode aparecer em forma de frases (“não quero ele aqui”) ou atitudes impulsivas. Esse comportamento traduz o ciúme e a frustração de quem se sente ameaçado na relação com os pais. Nessas situações, a punição tende a aumentar o ressentimento; o melhor caminho é nomear a emoção (“parece que você está com raiva porque o bebê está recebendo muita atenção”) e mostrar que todos os sentimentos são compreendidos, ainda que certos comportamentos precisem de limites.
Há também casos em que a criança se torna excessivamente dependente ou carente, buscando estar o tempo todo próxima da mãe ou do pai. Essa é uma forma sutil de insegurança emocional, indicando que ela precisa de previsibilidade, rotina e atenção individualizada para se sentir novamente em um lugar seguro.
Costumo dizer aos pais: “O ciúme é uma linguagem emocional. Quando o filho age diferente, ele não está desafiando — está pedindo segurança.”
Por isso, o papel do adulto é ler o comportamento com empatia, evitando interpretações moralizantes e respondendo com presença e constância afetiva.
O efeito na dinâmica familiar
A chegada de um novo filho não impacta apenas o primogênito — reorganiza o sistema familiar como um todo.
O casal precisa redistribuir funções, o tempo se fragmenta e o cansaço aumenta. Muitas vezes, os pais percebem que estão emocionalmente distantes e reativos entre si. Isso faz parte da adaptação, mas também revela a importância de autorregulação emocional dos adultos.
Na prática clínica, costumo dizer:
“Quando o adulto está sobrecarregado, o filho se torna o termômetro do sistema.”
Se os pais se culpam, discutem ou tentam “compensar” a criança com permissividade, o problema se intensifica. O que a criança precisa não é de mais brinquedos, mas de pais emocionalmente disponíveis e consistentes.
Treino de pais e psicoterapia para adultos
Em muitos casos, o ciúme do filho revela também a sobrecarga emocional dos pais.
Na terapia, trabalhamos regulação emocional, culpa parental e comunicação assertiva, para que o adulto se sinta mais seguro e consiga transmitir essa segurança aos filhos.
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Quando o ciúme se transforma em sofrimento
Embora o ciúme seja uma emoção normal, existem situações em que ele se torna persistente e prejudicial — tanto para a criança quanto para o ambiente familiar.
Alguns sinais de alerta incluem:
• Agressividade constante em relação ao bebê.
• Isolamento, tristeza ou apatia
• Regressões intensas e prolongadas.
• Negação da existência do irmão (“não quero ele aqui”).
Nesses casos, é importante que os pais não culpem a criança.
A orientação psicológica e, em alguns casos, a psicoterapia infantil, podem ajudar a nomear emoções, reconstruir segurança e restabelecer o vínculo.
Mas é igualmente relevante olhar para os pais.
Quando os adultos desenvolvem maior consciência emocional e autocontrole, o ambiente se estabiliza e o comportamento da criança tende a melhorar naturalmente.
Como preparar o filho para a chegada do irmão
A prevenção é sempre o melhor caminho.
Abaixo, compartilho as estratégias que costumo orientar aos pais em atendimentos clínicos e psicoeducativos:
1. Inclua a criança no processo
Permita que participe das preparações: ajudar a escolher o nome, montar o quarto ou escolher um brinquedo para o bebê. Isso cria sentimento de pertencimento, reduz rivalidade e estimula vínculo positivo.
2. Nomeie as emoções
Diga frases como: “É normal sentir ciúme. Eu também senti quando era criança.”
Validar a emoção é o primeiro passo para que ela seja elaborada.
3. Evite comparações
Comentários como “olha como o bebê é bonzinho e você não” são destrutivos.
Cada filho tem seu ritmo e estilo de vínculo. Comparar é dividir.
4. Mantenha rituais exclusivos
Reserve 10 a 15 minutos diários de tempo especial apenas com o primogênito — sem interrupções, celular ou distrações. Isso comunica: “Você continua sendo importante”.
5. Cuide da sua própria emoção
Crianças sentem o que os pais não dizem.
Se você está ansioso, irritado ou sobrecarregado, é natural que o filho manifeste isso no comportamento. O autocuidado emocional dos pais é a base da estabilidade familiar.
Perspectiva psicológica sistêmica
Do ponto de vista da Psicologia Sistêmica, o nascimento de um irmão é uma “crise de desenvolvimento familiar” — um momento de reorganização que, se bem conduzido, fortalece os vínculos e amadurece todos os membros da família.
Mas, se houver falta de comunicação, exaustão emocional ou expectativas irreais, essa transição pode gerar padrões de rivalidade e insegurança que perduram até a vida adulta.
A boa notícia é que pais conscientes são o principal fator de proteção emocional dos filhos.
E essa consciência se constrói com autoconhecimento — o mesmo que promovemos em psicoterapia.
Quando procurar apoio psicológico
Procure um psicólogo se:
• O filho apresenta comportamentos regressivos por mais de 3 meses.
• Há dificuldades de comunicação ou conflitos constantes entre os irmãos.
• Você se sente exausto, culpado ou sem estratégias para lidar com o ciúme.
A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental, ajuda o adulto a compreender suas próprias reações, desenvolver empatia e aplicar ferramentas práticas de comunicação e manejo emocional no cotidiano.
Treino de Pais e Psicoterapia para Adultos
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Desenvolvi um processo terapêutico voltado para pais que desejam compreender suas próprias emoções e melhorar a comunicação familiar — um verdadeiro treino de habilidades parentais com base na Terapia Cognitivo-Comportamental.
Durante as sessões, trabalhamos:
• Regulação emocional e culpa parental.
• Comunicação assertiva e empática com os filhos.
• Manejo do ciúme e da regressão infantil.
• Construção de vínculos seguros dentro da família.
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Perguntas Frequentes sobre Rivalidade entre Irmãos
1. Como explicar para o filho que vai ganhar um irmão?
Converse com simplicidade e empatia. Diga que o amor dos pais não diminui, apenas se multiplica. Incluir o filho nas preparações reduz o ciúme e fortalece o vínculo.
2. É normal o filho regredir após o nascimento do irmão?
Sim. A regressão é uma forma de buscar atenção e segurança emocional. Acolha, sem repreender, e mantenha rotinas previsíveis.
3. Como lidar com o ciúme entre irmãos pequenos?
Evite comparações e punições. Dê atenção positiva, valide sentimentos e mantenha momentos exclusivos com cada filho.
4. Quando o ciúme do irmão vira problema psicológico?
Quando há agressividade persistente, isolamento ou tristeza profunda. Nesses casos, é indicada avaliação psicológica para pais e/ou crianças.
5. A psicoterapia ajuda os pais a lidar com o ciúme dos filhos?
Sim. A terapia auxilia o adulto a regular suas próprias emoções e desenvolver estratégias eficazes de comunicação, fortalecendo o vínculo familiar.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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