A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para casais e famílias tem sido uma ferramenta fundamental no tratamento de dinâmicas conjugais e familiares disfuncionais. Ao focar nas crenças centrais e esquemas mentais de cada indivíduo, a TCC permite a transformação profunda de padrões de comportamento, proporcionando uma melhor compreensão entre os membros da família ou casal, resolvendo conflitos e promovendo o crescimento emocional.

Este modelo terapêutico, quando aplicado no contexto conjugal e familiar, segue uma estrutura rigorosa que envolve várias etapas de avaliação e intervenção. Neste artigo, irei abordar as fases e intervenções essenciais do tratamento.

Intervenções e processos terapêuticos: Criando ciclos positivos

Jeffrey Young, um dos principais teóricos da Terapia do Esquema, introduziu o conceito de relações reparentalizadoras, que é uma das bases da terapia cognitiva comportamental para casais e famílias. Essa abordagem se concentra em romper ciclos negativos de interação, oferecendo ao paciente o que ele precisou e não recebeu emocionalmente durante a infância. A reparentalização é o processo de voltar aos esquemas primitivos e à dor emocional, para então reestruturar essas crenças com uma vivência mais saudável. O objetivo da terapia é proporcionar ao paciente uma experiência emocional reparadora que ajude a modificar suas crenças centrais.

As fases do tratamento, são fundamentais para a mudança da dinâmica familiar ou conjugal. A primeira fase envolve a avaliação coletiva e individual. Embora as sessões individuais possam ser esporádicas, elas não são consideradas terapias individuais; elas servem para trazer informações que serão trabalhadas em conjunto nas sessões coletivas.

A Terapia em ação: Estratégias e técnicas

1. Fase Inicial: Compreensão e Educação

Na fase inicial do tratamento, o terapeuta trabalha com a conceitualização dos problemas de maneira clara, ajudando os membros do casal a entenderem como suas crenças centrais, esquemas e estratégias de enfrentamento afetam suas interações. A psicoeducação desempenha um papel crucial nesta fase. Os pacientes aprendem sobre o ciclo cognitivo e como suas crenças disfuncionais moldam seus comportamentos e interações.

A regulação emocional também é trabalhada na fase inicial. Quando os membros de um casal estão emocionalmente desregulados, eles tendem a se desconectar de suas emoções e das necessidades do parceiro, o que intensifica os conflitos. Ensinar a regulação emocional ajuda a trazer de volta a empatia e a conexão, elementos essenciais para resolver os problemas do relacionamento.

2. Manejo da raiva e conflitos

O manejo da raiva é um dos temas recorrentes no atendimento a casais. A terapeuta orienta o casal a passar por um passo a passo para lidar com a raiva de forma não destrutiva:

• Ventilar: Expressar a raiva de maneira construtiva, sem agressividade.
• Empatizar: Reconhecer a dor e as emoções por trás da raiva, criando empatia e compreensão mútua.
• Testagem de Realidade: Desafiar as percepções distorcidas, considerando outras perspectivas e promovendo uma avaliação mais realista da situação.
• Retomar a Assertividade: Após a expressão e compreensão da raiva, os casais são incentivados a se comunicar de forma mais assertiva, sem agressões.

3. Reparentalização e identificação de crenças centrais

Na TCC para casais e famílias, a reparentalização busca acessar e modificar as crenças mais profundas que os pacientes carregam desde a infância. Através de imagens mentais e técnicas experienciativas, o paciente é guiado a acessar suas experiências de infância, revivendo-as de maneira controlada e segura, com a intenção de curar a dor emocional que essas lembranças provocam.

Durante a avaliação cognitiva, o terapeuta também se concentra em identificar distorções cognitivas, como catastrofização, pensamento tudo ou nada e desqualificação do positivo, que são comuns em casais em conflito. Essas distorções fazem com que os membros do casal vejam a situação de maneira extrema e sem nuances, o que alimenta a negatividade no relacionamento.

4. Desenvolvimento de habilidades sociais conjugais

O treinamento de habilidades sociais conjugais é uma parte essencial da terapia. As habilidades sociais incluem a capacidade de se comunicar, resolver conflitos, expressar emoções de maneira assertiva e manter a empatia. Os casais aprendem a falar e ouvir de forma construtiva, praticando técnicas de escuta ativa, evitação de interrupções e reflexão das emoções do parceiro.

A validação emocional é outra habilidade crucial que os terapeutas ensinam aos casais. Validar os sentimentos do parceiro, ou seja, reconhecer e aceitar a emoção do outro sem julgá-lo ou tentar corrigir a percepção dele, é fundamental para fortalecer a conexão emocional.

Técnicas experienciais: Vivenciando a mudança

A TCC para casais e famílias utiliza uma variedade de técnicas experienciais, que permitem que os pacientes vivenciem as mudanças que precisam fazer, em vez de apenas entendê-las cognitivamente. Um exemplo importante dessa abordagem é o role-play das cadeiras. Essa técnica envolve alternar entre posições, ativando a crença central e a estratégia de enfrentamento, para que os casais possam observar como essas crenças afetam suas interações e como podem reagir de forma mais saudável.

Além disso, a simulação de cenas de conflitos também é uma técnica eficaz, onde o terapeuta pede permissão para trazer um conflito atual do casal para a sessão, permitindo que eles explorem e reflitam sobre como suas estratégias de enfrentamento estão afetando a resolução do problema.

Fase intermediária: Aperfeiçoamento das habilidades e alteração de padrões

Na fase intermediária, a terapia se concentra na identificação e alteração das distorções cognitivas. Os casais aprendem a identificar pensamentos disfuncionais, como leitura mental, adivinhação e raciocínio emocional, que frequentemente alimentam os conflitos. O terapeuta utiliza a balança decisória para ajudar os casais a refletirem sobre as vantagens e desvantagens de suas estratégias de enfrentamento, ajudando-os a perceber como essas estratégias podem aliviar momentaneamente a dor, mas a longo prazo, acabam por afastá-los emocionalmente.

Fase de manutenção: Consolidando os avanços e fortalecendo a relação

A última fase do tratamento envolve consultas mais esporádicas, com o objetivo de fortalecer as habilidades aprendidas durante a terapia e garantir que os avanços sejam mantidos. O terapeuta se concentra na manutenção dos resultados e na generalização das novas habilidades para outros contextos fora da terapia. É essencial que o casal aprenda a utilizar as ferramentas de maneira independente para lidar com futuras crises e dificuldades.

Um caminho para a cura e transformação

A Terapia Cognitivo-Comportamental para casais e famílias, especialmente quando aplicada de maneira estruturada e experiencial, oferece uma abordagem robusta para a superação de conflitos e o fortalecimento das relações. Ao focar nas crenças centrais, esquemas mentais e estratégias de enfrentamento, a TCC permite que os membros da família ou do casal construam uma compreensão mais profunda de si mesmos e dos outros, promovendo uma comunicação mais eficaz, empatia e resolução de conflitos. O processo terapêutico, ao transformar padrões de comportamento disfuncionais, possibilita a criação de relacionamentos mais saudáveis, equilibrados e satisfatórios, com um impacto positivo na vida emocional e relacional de cada indivíduo envolvido.