A infância é um período crucial para o desenvolvimento emocional e cognitivo. Experiências positivas, como o apego seguro e o cuidado sensível dos pais, estimulam a empatia e promovem habilidades sociais saudáveis. No entanto, adversidades na infância – como negligência emocional e física, abuso sexual, maus-tratos físicos e abuso emocional – podem ter um impacto significativo no desenvolvimento da empatia e na saúde mental ao longo da vida. Mas afinal, eventos estressores na infância tornam uma pessoa menos ou mais empática?
A importância do apego seguro na infância
Desde os primeiros momentos de vida, a relação entre o bebê e seus cuidadores influencia diretamente a capacidade de se conectar emocionalmente com os outros. Estudos clássicos, como o experimento com filhotes de macacos realizado por Harry Harlow, demonstram a importância do contato e do apego. No experimento, os macacos tinham duas “mães” artificiais: uma feita de arame, que fornecia alimento, e outra coberta de pelúcia, que oferecia conforto, mas sem alimento. Os filhotes passaram mais tempo com a mãe de pelúcia, evidenciando que o afeto e o acolhimento são necessidades fundamentais para o desenvolvimento saudável.
Na natureza, o vínculo entre mãe e filhote também é essencial. Os orangotangos, por exemplo, carregam seus filhotes por até dois anos e continuam a ensiná-los por mais seis ou sete anos, reforçando o papel do apego na sobrevivência e no aprendizado.
Com base nessas evidências, organismos como a UNICEF e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam que bebês durmam no mesmo quarto que seus cuidadores até pelo menos os seis primeiros meses de vida e sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses. Essas diretrizes buscam fortalecer o vínculo entre mãe e bebê, proporcionando segurança e promovendo o desenvolvimento emocional saudável.
A relação entre adversidade na infância e empatia
Eventos traumáticos na infância podem comprometer significativamente a capacidade empática. Crianças que passaram por experiências precoces de violência ou estresse têm maior risco de desenvolver transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático, dependência de álcool e drogas e transtorno bipolar. Além disso, essas experiências podem afetar áreas cognitivas fundamentais, como memória, atenção, motivação, julgamento e humor, além da própria empatia.
Geralmente, crianças que sofreram maus-tratos desenvolvem estilos de apego inseguros, o que pode prejudicar sua capacidade de compreender e se conectar com os sentimentos dos outros. Muitas dessas crianças se tornam hipersensíveis a sinais emocionais negativos, vivendo constantemente em estado de alerta e medo. Como consequência, quando confrontadas com o sofrimento alheio, podem reagir com intensa angústia emocional, retraimento ou mesmo agressividade, dificultando sua resposta empática.
Estudos indicam que a severidade do trauma também desempenha um papel crucial. Maus-tratos mais severos e prolongados tendem a gerar um impacto mais profundo na capacidade de regulação emocional e empática da criança. Por outro lado, pesquisas sugerem que crianças que tiveram experiências adversas, mas contaram com o suporte emocional de figuras protetivas, podem desenvolver uma resposta empática até superior, já que o apoio recebido ajuda a regular suas emoções e a compreender melhor o sofrimento alheio.
Diante disso, o treinamento da empatia é essencial nos programas de tratamento para vítimas de maus-tratos, ajudando-as a reconstruir sua capacidade de conexão emocional de forma saudável.
Empatia: Benefícios e desafios
A empatia é um componente essencial em diversas áreas da vida. Professores empáticos melhoram o aprendizado dos alunos; terapeutas empáticos facilitam a recuperação de seus pacientes; e médicos empáticos chegam mais rapidamente a diagnósticos corretos. No entanto, o excesso de empatia pode levar à exaustão emocional, especialmente em profissionais que lidam com sofrimento constantemente.
Algumas estratégias podem ajudar a evitar a sobrecarga emocional, como:
• Praticar a meditação – técnicas de mindfulness podem ajudar a regular emoções e reduzir o impacto do sofrimento alheio.
• Exercício físico – atividades físicas contribuem para a regulação do estresse e bem-estar emocional.
• Falar sobre as emoções – compartilhar sentimentos com pessoas de confiança pode aliviar a sobrecarga emocional.
Além disso, é importante diferenciar empatia de compaixão. A empatia envolve sentir a dor do outro, enquanto a compaixão permite sentir por outra pessoa sem necessariamente absorver seu sofrimento. Treinamentos baseados em compaixão têm mostrado que, enquanto a empatia isolada pode aumentar o afeto negativo, a compaixão promove sentimentos positivos e bem-estar.
A infância desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da empatia. Experiências de apego seguro e apoio emocional contribuem para a construção de uma capacidade empática saudável. Por outro lado, eventos estressores e traumáticos podem comprometer essa habilidade, tornando as vítimas mais vulneráveis a problemas emocionais e dificuldades de conexão social.
No entanto, o impacto da adversidade não é irreversível. Com suporte adequado e intervenções terapêuticas, é possível fortalecer a empatia e desenvolver relacionamentos saudáveis. O desafio, portanto, não é apenas entender como a empatia se forma, mas também como podemos promovê-la de maneira equilibrada e sustentável ao longo da vida.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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