O suicídio é um fenômeno complexo que atravessa os tempos, culturas e sistemas de crenças. Desde a Antiguidade até a contemporaneidade, a forma como as sociedades percebem e tratam o ato de tirar a própria vida passou por profundas transformações.
Neste artigo, você conhecerá a história do suicídio, explorando como ele foi interpretado na Grécia Antiga, na Idade Média, na Modernidade e na atualidade. Também abordarei as principais contribuições filosóficas, científicas e sociológicas sobre o tema, além de refletir sobre o suicídio assistido e a prevenção ao suicídio. Entenda por que essa discussão é essencial para a saúde mental e a construção de uma sociedade mais empática.
Visão histórica do suicídio: Da Antiguidade ao século XXI
O suicídio na Grécia Antiga: Honra e liberdade individual
Na Grécia Antiga, o suicídio era compreendido como um ato de heroísmo e liberdade, especialmente para os cidadãos livres. Não havia uma condenação moral ou religiosa, desde que o suicida não fosse um escravo, que não detinha esse direito. Era comum que um cidadão ateniense, desejando pôr fim à própria vida, solicitasse autorização ao Conselho dos Anciãos, podendo até receber cicuta — um veneno letal que provocava paralisia muscular e morte por asfixia. Esse contexto pré-figura práticas contemporâneas, como o suicídio assistido, legalizado em alguns países.
A Condenação Moral na Idade Média: O suicídio como pecado mortal
Com a ascensão do Cristianismo durante a Idade Média, o suicídio passou a ser considerado um pecado mortal, associado a influências malignas. Como punição, o cadáver do suicida era ultrajado: arrastado por cavalos, esquartejado ou pendurado nu e de cabeça para baixo em encruzilhadas. A família do suicida também sofria sanções, e o corpo não podia ser sepultado em solo sagrado.
No século XIII, Tomás de Aquino consolidou essa visão ao afirmar que o suicídio violava três leis fundamentais:
1. Lei Natural: preservar a vida é um instinto básico;
2. Lei Moral: o suicídio é um ato de desrespeito à comunidade;
3. Lei Divina: somente Deus pode tirar a vida.
Assim, o suicídio era percebido como uma afronta não apenas ao indivíduo, mas à Igreja e à ordem social.
O surgimento de explicações médicas: Loucura e melancolia
No final da Idade Média, algumas explicações começaram a relativizar o caráter exclusivamente moral do suicídio. Casos começaram a ser atribuídos à alienação mental, como a melancolia — também chamada de “bílis negra” (do grego melaina chole). Segundo a Teoria dos Humores, de Hipócrates, um excesso de bílis negra, produzido pelo baço, poderia gerar estados depressivos. Assim, surgia uma das primeiras tentativas científicas de compreender o sofrimento psíquico associado ao comportamento suicida.
Charlatães da época até realizavam trepanações para remover supostas “pedras da loucura”, evidenciando a busca arcaica por intervenções terapêuticas.
A abordagem científica na Idade Moderna: Rompendo com o dogma religioso
A partir do século XVII, com o advento das ciências modernas, o suicídio começou a ser analisado sob perspectivas laicas e científicas. O pastor anglicano John Donne escreveu a obra pioneira Biathanatos — o primeiro livro a discutir o suicídio fora da perspectiva religiosa, ainda que publicado postumamente.
Simultaneamente, o suicídio passou a ser representado nas artes. Na dramaturgia de Shakespeare, há 76 suicídios, transformando um antigo tabu em dilemas encenados, humanizados e compreendidos sob múltiplas perspectivas.
O Efeito Werther: Literatura e o impacto social do suicídio
No século XVIII, a literatura ampliou ainda mais a visibilidade do tema com a obra “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe. Inspirado em uma tragédia amorosa, o livro causou uma onda de suicídios entre jovens europeus, fenômeno que ficou conhecido como Efeito Werther — a demonstração do caráter contagioso do suicídio, sobretudo entre adolescentes e jovens impressionáveis. O impacto foi tão significativo que a obra foi proibida em vários países.
Este efeito é estudado até hoje no campo da comunicação e prevenção ao suicídio.
O suicídio como fato social: A contribuição de Émile Durkheim
No final do século XIX, o sociólogo Émile Durkheim publicou O Suicídio: Um Estudo Sociológico, obra seminal que tratou o suicídio como um fenômeno social. Durkheim demonstrou que as taxas de suicídio variavam conforme fatores sociais, como religião, estado civil e gênero. Ele classificou o suicídio em quatro tipos:
• Suicídio egoísta: baixa integração social;
• Suicídio altruísta: integração excessiva, como nos casos de kamikazes e homens-bomba;
• Suicídio anômico: resultado da desregulação social, comum em tempos de crise;
• Suicídio fatalista: quando o controle social é opressivo.
Para Durkheim, a modernidade, ao fragilizar os laços familiares, religiosos e comunitários, gerou novas formas de vulnerabilidade ao suicídio.
O suicídio e a filosofia existencialista: O Mito de Sísifo
No século XX, o filósofo Albert Camus, em O Mito de Sísifo, definiu o suicídio como a principal questão filosófica: “julgar se a vida merece ou não ser vivida”. Utilizando a metáfora de Sísifo, condenado a empurrar eternamente uma pedra montanha acima, Camus ilustra o conceito do absurdo da existência. Sua proposta é que, mesmo diante do absurdo, o homem pode encontrar sentido na própria luta: “é preciso imaginar Sísifo feliz”.
Essa visão filosófica amplia o debate sobre o suicídio, deslocando-o do campo religioso para uma reflexão sobre a condição humana.
A visão científica contemporânea: Genética, serotonina e saúde pública
Atualmente, pesquisas apontam para fatores biológicos associados ao comportamento suicida, como alterações no circuito da serotonina, ligadas à impulsividade e agressividade. Esse avanço transformou o suicídio em um tema de investigação neurocientífica, além de uma questão médica e de saúde pública.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou, a partir da segunda metade do século XX, um aumento preocupante nas taxas de suicídio, especialmente entre adolescentes e adultos jovens. Em resposta, foi criado o programa SUPRE (Suicide Prevention), que promove estratégias globais de prevenção.
O Debate atual: O Suicídio Assistido e a Bioética
Hoje, discute-se amplamente o direito ao suicídio assistido, legalizado em países como Suíça, Bélgica, Luxemburgo, alguns estados dos Estados Unidos e Colômbia. O suicídio assistido ocorre quando, mediante autorização judicial, uma pessoa recebe ajuda para pôr fim à própria vida, geralmente em casos de doenças terminais ou sofrimento insuportável.
Curiosamente, nem todos que solicitam a autorização concretizam o ato. O tempo médio entre o pedido e a autorização varia de seis meses a dois anos, tempo que pode propiciar novas perspectivas ou o alívio do sofrimento através de cuidados paliativos.
Estudos mostram que, quando há oferta adequada de suporte, tratamento e cuidados paliativos, as intenções suicidas diminuem significativamente, evidenciando a importância da atenção integral à saúde mental.
A importância de compreender a história do suicídio
Conhecer a trajetória histórica do suicídio é fundamental para compreender como diferentes sociedades moldaram as atitudes frente a esse fenômeno tão complexo e delicado. Da Antiguidade heroica ao debate bioético contemporâneo, o suicídio deixou de ser apenas um tabu religioso, passando a ser uma questão de saúde pública, um tema científico e um dilema ético.
Se você ou alguém que você conhece está passando por sofrimento emocional ou tendo pensamentos suicidas, é importante saber que não está sozinho. A ajuda profissional pode fazer toda a diferença.
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Perguntas Frequentes sobre a História do Suicídio
1. Como o suicídio era visto na Grécia Antiga?
Na Grécia Antiga, o suicídio era considerado um ato de heroísmo e liberdade, permitido aos cidadãos, mas vedado aos escravos. Era possível solicitar autorização ao Conselho dos Anciãos e até receber a substância letal, geralmente a cicuta.
2. Quando o suicídio passou a ser considerado pecado?
Na Idade Média, com o avanço do Cristianismo, o suicídio passou a ser visto como um pecado mortal, passível de punição após a morte, tanto para o corpo do suicida quanto para sua família.
3. O que é o Efeito Werther?
O Efeito Werther refere-se à onda de suicídios que ocorreram após a publicação do livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe. Esse fenômeno destaca o potencial de contágio social do suicídio.
4. Quais são os tipos de suicídio segundo Durkheim?
Durkheim classificou o suicídio em quatro tipos: egoísta, altruísta, anômico e fatalista, conforme os níveis de integração e regulação social.
5. O que é suicídio assistido?
Suicídio assistido ocorre quando uma pessoa, geralmente em sofrimento extremo ou com doença incurável, recebe autorização judicial e apoio médico para pôr fim à própria vida, prática legal em alguns países.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
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