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Pomo da Discórdia: O que o mito de Éris revela sobre os conflitos humanos — e como isso aparece diariamente na minha prática clínica

Artigo Publicado: 14/11/2025
Por Osvaldo Marchesi Junior, Psicólogo | CRP 06/186.890 – Terapia Cognitivo-Comportamental

Pomo da Discórdia - Mito de Éris - Psicologia - TCC - Osvaldo Marchesi Junior - NeuroFlux

Há diversos anos trabalhando com psicoterapia, percebo como certos conflitos começam de maneira tão pequena que parecem irrelevantes. Às vezes, uma frase curta, um olhar atravessado, um comentário feito “sem intenção” ou até mesmo um silêncio. Mas basta isso para detonar uma sequência de reações emocionais em cadeia, muitas vezes desproporcionais ao evento original.

Sempre que vejo isso acontecer — e vejo com frequência — lembro imediatamente do Pomo da Discórdia, lançado por Éris, a deusa da discórdia, durante o casamento de Peleu e Tétis. O mito, apesar de antigo, é incrivelmente atual. Ele funciona como uma metáfora perfeita para o que chamo de micro-estopins emocionais, elementos aparentemente insignificantes que ativam conflitos profundos, crenças dolorosas e padrões relacionais autodestrutivos.

Neste artigo, compartilho — em um diálogo entre mitologia, psicologia e a minha prática clínica — como o Pomo da Discórdia funciona como um mapa simbólico para entender conflitos humanos, desde relações amorosas até ambientes profissionais. Vou explorar também como discordacionismo, como conceito psicológico moderno, ajuda a explicar por que reagimos exageradamente a pequenos estímulos, e como quebrar esse ciclo de tensão emocional.

O mito de Éris: Por que o Pomo da Discórdia é uma metáfora tão poderosa na Psicologia

O mito começa com um evento grandioso: o casamento de Peleu e Tétis, celebrado no Olimpo com a presença de todos os deuses. Todos, exceto uma: Éris, a deusa da Discórdia. Ela não foi convidada porque sua presença sempre trazia tumulto.

Ferida e indignada com a exclusão, Éris decide comparecer assim mesmo.

Ela caminha silenciosamente pelo salão, observando os sorrisos, os convivas, a harmonia aparente. Mas, em vez de causar caos abertamente, faz algo muito mais inteligente, muito mais humano — e muito mais perigoso.

Ela coloca sobre a mesa uma maçã de ouro brilhante, gravada com as palavras:

Para a Deusa mais bela”.

Essa pequena frase contém um mecanismo psicológico explosivo. Em poucos segundos, três deusas reivindicam o título:

• Hera — símbolo de status, reconhecimento e legitimidade;
• Atena — símbolo de mérito, sabedoria e competência;
• Afrodite — símbolo de beleza, amor, atração e validação emocional.

A disputa não nasce da maçã. A maçã apenas expõe a rivalidade, a insegurança e a necessidade de validação que já existiam.

Para resolver o impasse, Zeus determina que um mortal decidirá quem é “a mais bela”: Paris, príncipe de Troia. Cada deusa tenta suborná-lo da forma que melhor expressa seu domínio:

• Hera oferece poder político.
• Atena oferece inteligência e glória.
• Afrodite oferece o amor da mulher mais bela do mundo: Helena.

Paris escolhe Afrodite. Helena é raptada. E começa a Guerra de Troia.

Tudo por causa de uma maçã.

Ou não.

A maçã apenas ativou inseguranças antigas — exatamente como acontece conosco.

O Pomo de Ouro e a comparação social

A frase inscrita na maçã, “À mais bela”, carrega uma mensagem que, psicologicamente, é explosiva: quem é a melhor? quem merece mais validação? quem deve ser escolhida?

Essa disputa ecoa um padrão muito comum em consultório:

• “Por que ele elogiou minha irmã e não a mim?
• “Por que meu chefe disse que meu colega é mais organizado?
• “Por que minha parceira notou o esforço dele e não o meu?

A comparação social é um gatilho constante para inseguranças profundas. E assim como no mito, o conflito raramente nasce da maçã — nasce da ferida emocional preexistente.

Discordacionismo: Como pequenos eventos se transformam em grandes conflitos emocionais

O termo discordacionismo, aqui usado como releitura psicológica do mito, representa a ideia de que conflitos não surgem do evento em si, mas da interpretação emocional que damos a ele. Isso está alinhado com a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia do Esquema e com a Neurociência da regulação emocional.

O mecanismo psicológico do discordacionismo

Na prática clínica, percebo que eventos mínimos podem:

• Ativar memórias emocionais antigas.
• Reforçar crenças negativas sobre si mesmo (“não sou suficiente”).
• Acionar vulnerabilidades relacionais (“meu parceiro não me ama”).
• Desencadear padrões defensivos (“preciso atacar antes que me ataquem”).

Isso faz com que algo pequeno se torne grande — às vezes enorme.

Micro-estopins emocionais: Exemplos clínicos reais

Caso 1 – O “não é nada” que virou explosão

Um casal que acompanhei por meses vivia bem, até que uma noite ele respondeu “não é nada” quando ela perguntou se algo o incomodava. Para ele, era apenas cansaço. Para ela, era memória de uma infância onde adultos escondiam problemas e explodiam depois.

O pomo da discórdia foi apenas a frase — o conteúdo emocional vinha de 20 anos antes.

Caso 2 – A comparação no trabalho

Uma paciente ouviu do gestor: “Você deveria ver como seu par organiza bem as planilhas.

Ela travou. Passou a semana inteira ruminando, chorando, evitando reuniões. Isso ativou seu esquema de defectividade, alimentado por críticas constantes na adolescência.

O comentário foi a maçã; o conflito, anterior.

A psicologia do Pomo da Discórdia: Por que reagimos assim?

Vieses cognitivos que amplificam conflitos

Alguns dos vieses cognitivos mais envolvidos nesses microeventos:

• Personalização:Foi sobre mim, ele quis me atingir.

• Leitura mental: Eu sei o que ele realmente quis dizer.

• Catastrofização:Se ele disse isso, é porque tudo está desmoronando.

• Viés de confirmação: Está vendo? Sempre me desvalorizam.

Esses vieses criam uma narrativa emocional onde o evento se encaixa perfeitamente — mesmo que não seja verdade.

Esquemas emocionais mais sensíveis a conflitos

Segundo a Terapia do Esquema, os seguintes esquemas tendem a ser ativados:

• Defectividade/Vergonha.
• Desconfiança/Abuso.
• Privação emocional.
• Subjugação.
• Autoexigência e autocrítica punitiva.

Se a pessoa já carrega essas vulnerabilidades, qualquer maçã lançada pela vida pode se transformar em guerra.

A metáfora clínica do Pomo da Discórdia

Eu uso essa metáfora com frequência em consultório:

O problema não é a maçã que jogaram no salão. O problema é quantas feridas já existiam antes dela cair.

Isso costuma gerar insight imediato.

Como nascem os conflitos: Um modelo psicológico em 5 etapas inspirado no mito de Éris

1. O microevento — a semente

Algo pequeno acontece: um comentário, gesto, silêncio.

2. A interpretação automática

O cérebro avalia rapidamente, usando filtros emocionais.

3. A ativação do esquema

Crenças antigas se reativam.

4. A reação defensiva

A pessoa ataca, se afasta, congela ou manipula.

5. A espiral da discórdia

O conflito cresce e retroalimenta a ferida original.

Como neutralizar o Pomo da Discórdia: Guia prático baseado em TCC e Neurociência

Passo 1 — Identifique seu “gatilho”

Pergunte-se:

Quais são os pequenos eventos que mais me desestabilizam?

Passo 2 — Questione a interpretação automática

Uma técnica que uso em consultório é:

• Que evidências tenho?
• Estou interpretando ou observando?
• Existe outra explicação possível?

Passo 3 — Reconheça vulnerabilidades emocionais

Qual esquema emocional foi ativado?

Passo 4 — Comunique de forma reguladora

Dizer algo como:

Quando você disse aquilo, eu senti “X”. Poderíamos falar sobre isso?

Passo 5 — Crie rituais de reconexão

Pequenos gestos cotidianos reduzem significativamente conflitos recorrentes.

O Discordacionismo nas relações: Amor, família e trabalho

Em casais

Ciúmes, comparações, competição invisível.

Em famílias

Triangulação, punições silenciosas.

No trabalho

Ambientes tóxicos, favoritismos percebidos, comunicação passivo-agressiva.

Neurociência: Por que pequenas ameaças parecem grandes?

A amígdala e a resposta de ameaça

Reage com rapidez, sem análise profunda.

O córtex pré-frontal

Regula, racionaliza e contextualiza.

Redes neurais da comparação social

O cérebro humano está biologicamente preparado para competir por status.

Memória afetiva

Eventos atuais reativam traços emocionais antigos.

O mito como espelho das nossas vulnerabilidades

O mito do Pomo da Discórdia não revela apenas que conflitos começam pequenos, mas que somos nós que os amplificamos a partir das feridas que carregamos. E compreender essas feridas é o primeiro passo para transformar relações, decisões e padrões emocionais.

Como psicólogo, posso te ajudar

Se você percebe que pequenos gatilhos desencadeiam conflitos intensos em sua vida — seja no amor, na família ou no trabalho — posso te ajudar a identificar padrões invisíveis e a criar estratégias para quebrar ciclos emocionais.

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Perguntas Frequentes sobre o Pomo da Discórdia e Psicologia

1. O que é o Pomo da Discórdia na psicologia?

É a metáfora para pequenos eventos que funcionam como gatilhos emocionais, ativando esquemas profundos e conflitos desproporcionais.

2. O que o mito de Éris ensina sobre relacionamentos?

Mostra como competições invisíveis, inseguranças e comparação social geram tensões mesmo em situações aparentemente simples.

3. Como identificar um pomo da discórdia emocional?

Observe quando pequenas coisas geram reações grandes — isso indica ativação de esquemas e vulnerabilidades antigas.

4. O que é discordacionismo?

É o mecanismo pelo qual eventos mínimos se tornam grandes conflitos devido à interpretação emocional e aos esquemas ativados.

5. Como evitar conflitos desnecessários no dia a dia?

Praticando regulação emocional, desafiando interpretações automáticas e comunicando vulnerabilidades com clareza.

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