Quando o corpo fala e a mente busca significado
Ao longo de muitos anos de prática clínica, acompanhei mulheres que viveram algo que nenhuma palavra traduz completamente: o impacto psicológico do diagnóstico de câncer de mama.
É um instante em que o tempo congela. As certezas evaporam.
E o corpo, que antes representava feminilidade, poder e identidade, passa a ser lembrança de algo ameaçado — ou, em alguns casos, mutilado.
Lembro-me de uma paciente que, ao ouvir o diagnóstico, me disse: “Senti como se meu corpo tivesse me traído. Eu cuidava dele, e ainda assim, ele me adoeceu.”
Essa frase, carregada de dor e confusão, sintetiza o abalo emocional que o câncer de mama provoca. A doença não é apenas física; ela mexe com o senso de identidade, com a relação com o corpo e com o próprio significado de estar viva.
Neste artigo, quero compartilhar — a partir da minha experiência clínica e da psicologia baseada em evidências — como o câncer de mama afeta emocionalmente as mulheres, quais são os principais impactos psicológicos e de que forma a psicoterapia pode ajudar na reconstrução emocional e existencial após o tratamento.
O choque do diagnóstico: Quando a palavra “câncer” ecoa como sentença
O momento do diagnóstico costuma ser vivido como uma ruptura.
De repente, tudo o que era cotidiano se dissolve diante de uma palavra carregada de medo.
A incerteza sobre o futuro desperta uma ansiedade intensa — não apenas pelo risco à vida, mas pela perda de controle.
Do ponto de vista psicológico, esse instante é marcado por uma resposta emocional comparável ao luto antecipatório.
Há medo da finitude, negação, raiva, e uma sensação de injustiça existencial.
Em termos clínicos, observo reações variadas:
• Negação inicial: o cérebro tenta se proteger da dor emocional, adiando a aceitação.
• Raiva e culpa: surgem perguntas como “Por que comigo?” ou “O que fiz de errado?”.
• Desorganização emocional: o estresse ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, aumentando cortisol e dificultando o raciocínio racional.
Como psicólogo, aprendi que nesse momento o papel terapêutico não é oferecer respostas, mas sustentar o vazio — acolher a dor sem reduzi-la, permitindo que o paciente volte a habitar o próprio corpo sem medo.
“É no primeiro silêncio após o diagnóstico que a psicoterapia se torna refúgio: o espaço onde o caos começa a ser nomeado.”
O corpo transformado: Quando o espelho se torna um campo de batalha
Entre os maiores impactos psicológicos do câncer de mama está a alteração da autoimagem corporal.
A mastectomia, a alopecia causada pela quimioterapia e as cicatrizes físicas tocam diretamente a identidade feminina, despertando vergonha, repulsa e até perda do desejo sexual.
Em muitos casos, o corpo passa a ser visto como “inimigo” — um território de lembranças dolorosas.
Na psicologia cognitivo-comportamental, compreendemos que a imagem corporal é moldada por crenças internas como:
• “Meu valor está na minha aparência.”
• “Sem meus seios, não sou mais mulher.”
• “Meu corpo é defeituoso.”
Essas crenças, embora automáticas, geram sofrimento intenso. O trabalho terapêutico envolve reestruturação cognitiva, ou seja, identificar e transformar esses pensamentos em narrativas mais saudáveis.
Em uma sessão, uma paciente me disse: “Quando me olhei no espelho pela primeira vez após a cirurgia, chorei. Mas depois, aprendi a enxergar a cicatriz como um símbolo de sobrevivência.”
A psicoterapia, nesse contexto, não busca apagar a dor, mas ajudá-la a se tornar história — e não ferida aberta.
Ansiedade e medo da recaída: A mente em alerta constante
Mesmo após o término do tratamento, o medo de que o câncer volte é um dos temas mais recorrentes no consultório.
Essa ansiedade antecipatória é compreensível: o corpo, antes associado à ameaça, torna-se um lembrete constante.
Do ponto de vista neuropsicológico, há uma hipervigilância somática — qualquer dor ou alteração corporal é interpretada como sinal de recaída.
Clinicamente, isso pode evoluir para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), com flashbacks, insônia e evitação de exames.
Na prática clínica, utilizo recursos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), como:
• Exposição gradual aos gatilhos (consultas, exames, lembranças).
• Técnicas de respiração e grounding para conter a resposta de luta ou fuga.
• Exercícios de aceitação, ensinando o paciente a conviver com a incerteza sem ser dominado por ela.
“Trabalhamos para que o corpo deixe de ser um lembrete do trauma e volte a ser um lar habitável.”
Essa frase sintetiza o objetivo central da psicoterapia pós-câncer: reconstruir o vínculo com o próprio corpo.
Relações familiares e o peso invisível do cuidado
O câncer de mama afeta não apenas quem recebe o diagnóstico, mas todo o sistema familiar.
Cônjuges, filhos, pais e amigos vivenciam um sofrimento vicário, oscilando entre o medo, a impotência e a necessidade de demonstrar força.
Na prática, vejo com frequência:
• Filhos que se tornam “cuidadores emocionais” da mãe.
• Maridos que se retraem por medo de dizer algo errado.
• Mães que sentem culpa por preocupar os filhos.
Essas dinâmicas geram sobrecarga emocional e culpa coletiva.
Por isso, o trabalho psicológico não deve se restringir à paciente — é fundamental oferecer suporte aos familiares.
“Em algumas sessões, costumo incluir o parceiro ou os filhos. Quando cada um encontra espaço para expressar o medo, o silêncio familiar se transforma em cuidado genuíno.”
A psicologia oncológica moderna reconhece o câncer como uma doença sistêmica, que adoece e transforma toda a rede de vínculos.
Espiritualidade, propósito e o reencontro com o existir
Muitas pacientes relatam que o câncer, paradoxalmente, desperta um processo de reconexão espiritual.
Mesmo aquelas que não têm crenças religiosas, frequentemente descrevem um senso de transcendência: a percepção de que a vida é finita e, portanto, preciosa.
Estudos mostram que a espiritualidade — entendida como a busca por significado — é um dos maiores fatores de resiliência psicológica no câncer de mama.
Ela oferece um sentido maior ao sofrimento, o que reduz sintomas depressivos e melhora a adesão ao tratamento.
Na terapia, não falo de fé, mas de presença. De ajudar a paciente a se reconectar com aquilo que ainda faz sentido: relacionamentos, pequenos prazeres, projetos adiados.
Uma paciente me disse: ‘Antes do câncer, eu vivia no piloto automático. Agora, aprendi a viver um dia de cada vez, e cada dia é um presente.’
A espiritualidade, nesse sentido, não é fuga da realidade — é um retorno a ela, com mais profundidade.
Reconstrução emocional: Quando o corpo cicatriza, mas a alma ainda sangra
A etapa de reconstrução é silenciosa.
Quando o tratamento termina, todos celebram a “cura física”, mas poucos percebem que emocionalmente a paciente ainda carrega um cansaço existencial.
A reconstrução psicológica exige tempo. Envolve refazer planos, reaprender a confiar no corpo e lidar com as marcas da jornada.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental, trabalhamos a reestruturação de esquemas — sistemas de crenças profundas sobre si mesma, o mundo e o futuro.
É comum encontrar pensamentos como:
• “Não sou mais a mesma.”
• “Minha vida acabou.”
• “Ninguém vai me desejar novamente.”
Transformar essas crenças requer exposição emocional gradual, aceitação do novo corpo e autocompaixão.
“Quando a paciente consegue olhar para a cicatriz e vê nela um símbolo de sobrevivência, não de perda, algo profundamente humano renasce.”
A reconstrução emocional não é retorno ao que era — é o nascimento de uma nova forma de ser.
Psicoterapia e o papel do psicólogo no tratamento do câncer de mama
A psicoterapia é um componente essencial do cuidado oncológico.
Estudos demonstram que o acompanhamento psicológico reduz sintomas de ansiedade e depressão, melhora a qualidade de vida e até aumenta a adesão ao tratamento médico.
Abordagens com eficácia comprovada incluem:
• Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): foca em pensamentos disfuncionais e estratégias de enfrentamento.
• Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): ensina o paciente a conviver com a dor sem ser dominado por ela.
• Mindfulness: reduz estresse e promove presença.
• Terapia Focada na Compaixão (CFT): trabalha culpa, vergonha e autocrítica.
Como psicólogo, percebo que cada paciente encontra um caminho próprio para reconstruir-se.
Meu papel é oferecer um espaço seguro onde a vulnerabilidade pode coexistir com a coragem.
“O câncer tenta dizer que a vida acabou. A psicoterapia responde: ainda há vida, e ela pode ser mais autêntica do que antes.”
Recomeçar é possível
Se você está passando por esse processo — ou conhece alguém que está — saiba que não precisa atravessar isso sozinha.
A psicoterapia especializada pode ajudar a:
• Lidar com o medo e a ansiedade.
• Reconstruir a autoestima e a imagem corporal.
• Reencontrar propósito após o tratamento.
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Perguntas Frequentes sobre o Impacto Psicológico do Câncer de Mama
1. Quais são os principais impactos psicológicos do câncer de mama?
O câncer de mama pode provocar ansiedade, depressão, alterações na autoimagem, medo da recaída e isolamento social. Esses efeitos podem ser minimizados com apoio psicológico especializado.
2. Quando é indicado buscar acompanhamento psicológico durante o tratamento do câncer de mama?
Desde o diagnóstico. O suporte psicológico ajuda na aceitação, reduz o sofrimento emocional e melhora a adesão às etapas médicas.
3. A mastectomia sempre causa baixa autoestima?
Não necessariamente, mas pode afetar a autoimagem. O acompanhamento psicológico auxilia na reconstrução da identidade corporal e da feminilidade.
4. Como a Terapia Cognitivo-Comportamental ajuda pacientes com câncer de mama?
A TCC identifica e transforma pensamentos disfuncionais, trabalha crenças negativas e ensina estratégias de enfrentamento e autocuidado.
5. O apoio psicológico no câncer de mama pode reduzir o risco de recaída?
Embora não interfira biologicamente, o suporte psicológico melhora o bem-estar geral, fortalece o sistema imunológico e contribui para uma recuperação mais equilibrada.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
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