Em minha prática clínica, acompanhei inúmeras histórias marcadas por algo que não aparece em exames, mas destrói vínculos silenciosamente: a alienação parental.
Lembro-me de um adolescente que dizia com convicção que o pai “não se importava”. O tom era frio, mas os olhos denunciavam o conflito interno. Só anos depois, com terapia, ele percebeu que aquela “certeza” havia sido construída — não vivida.
A alienação parental é uma forma sutil e devastadora de violência psicológica. Ela manipula a percepção afetiva da criança ou do adolescente, distorcendo memórias e vínculos, até que o amor se transforma em rejeição. E, como psicólogo cognitivo-comportamental, vejo diariamente os efeitos psicológicos profundos dessa experiência — tanto em quem sofre quanto em quem, muitas vezes sem perceber, pratica a alienação.
Se você está enfrentando essa situação, direta ou indiretamente, compreender seus impactos emocionais e cognitivos é o primeiro passo para interromper o ciclo de dor e reconstruir a confiança.
O que é Alienação Parental?
A alienação parental ocorre quando um dos genitores, ou alguém que detenha a guarda da criança, interfere na formação psicológica do filho, promovendo a rejeição injustificada ao outro genitor.
No Brasil, a Lei nº 12.318/2010 reconhece a alienação parental como uma forma de abuso emocional — e com razão.
Mas, na clínica, percebo que ela vai muito além do contexto jurídico.
Trata-se de uma invasão emocional, em que o adulto projeta sua dor, raiva ou frustração conjugal sobre a mente em desenvolvimento da criança ou do adolescente. O resultado é devastador: o filho passa a enxergar o mundo afetivo através de lentes distorcidas.
Do ponto de vista psicológico, a alienação parental se manifesta como um processo de condicionamento cognitivo e emocional.
O menor internaliza crenças negativas (“meu pai é perigoso”, “minha mãe me abandonou”) e desenvolve respostas emocionais automáticas — medo, culpa, raiva — que moldam seu comportamento por anos.
Como a Alienação Parental afeta o desenvolvimento emocional dos filhos
Distorção da realidade e formação de crenças disfuncionais
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), estudamos como experiências precoces moldam nossos esquemas cognitivos — estruturas profundas de crenças sobre nós, os outros e o mundo.
A alienação parental interfere diretamente nesse processo.
Crianças que crescem em contextos de alienação internalizam ideias como:
• “Não sou digno de amor.”
• “As pessoas sempre me abandonam.”
• “Expressar carinho é perigoso.”
Essas crenças tornam-se filtros mentais duradouros, influenciando relacionamentos, autoconfiança e regulação emocional até a vida adulta.
Muitos dos pacientes adultos que atendo, com dificuldades de apego, desconfiança ou medo de rejeição, trazem na história familiar traços de vínculos rompidos por alienação.
Culpa, Ansiedade e Lealdade Dividida
Em diversos atendimentos, percebi um padrão doloroso: filhos que sentem culpa por amar o genitor rejeitado.
É o chamado conflito de lealdade — a sensação de que demonstrar afeto por um dos pais é trair o outro.
Essa tensão constante gera ansiedade crônica, irritabilidade e comportamentos de evitação (“prefiro não falar sobre meu pai”, “não quero que ela saiba que fui vê-lo”).
O menor, sem ferramentas emocionais maduras, internaliza a culpa.
E com o tempo, pode apresentar sintomas semelhantes aos do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): hipervigilância, pesadelos, bloqueios emocionais e reatividade exagerada a conflitos familiares.
Repercussões na vida adulta
A alienação parental não termina na infância. Na fase adulta, os efeitos psicológicos podem aparecer como:
• Dificuldade de confiar em parceiros.
• Medo de abandono.
• Autoestima frágil.
• Padrões repetitivos de vínculos disfuncionais.
Estudos em psicologia do desenvolvimento apontam que o rompimento simbólico com uma figura parental pode gerar esquemas de desamparo, rejeição e privação emocional, típicos em pacientes que buscam terapia por problemas de relacionamento.
Sinais Psicológicos da Alienação Parental
Reconhecer os sinais precoces é essencial. Na minha prática, os principais indícios incluem:
• Hostilidade repentina e irracional contra um dos genitores.
• Repetição de frases adultas (“meu pai só pensa nele mesmo”).
• Ansiedade ou medo ao mencionar o outro genitor.
• Tentativas de agradar excessivamente o genitor alienador.
• Confusão sobre o que é verdade e o que foi contado.
• Reações de culpa intensa após encontros com o genitor rejeitado.
É importante distinguir alienação parental de conflito conjugal comum.
Nem toda divergência entre pais se configura como alienação — o critério central é a manipulação intencional da imagem emocional do outro na mente da criança.
Impactos Psicológicos nos Genitores
A dor do genitor alienado é frequentemente invisível, mas profunda.
A perda do vínculo com o filho gera sentimentos de impotência, tristeza crônica e até sintomas depressivos graves.
Em casos mais prolongados, observo o surgimento de ansiedade generalizada, ideação de desvalia e isolamento social.
Recordo-me de uma mãe que, por anos, tentou provar que nunca abandonou o filho. Cada visita supervisionada era vivida como uma prova de amor e resistência.
No entanto, a cada reencontro, o menino parecia mais distante.
Essa desconexão afetiva forçada mina o senso de identidade parental — e, muitas vezes, leva o adulto a desenvolver crenças de incapacidade e desesperança.
Do outro lado, o genitor alienador também enfrenta sofrimento.
Por trás da manipulação emocional, frequentemente há traumas não elaborados, medo de perda ou rejeição.
Na terapia, quando esse genitor aceita olhar para dentro, é possível reconstruir uma narrativa mais consciente, quebrando o ciclo intergeracional de dor.
A Perspectiva da TCC sobre a Alienação Parental
A Terapia Cognitivo-Comportamental oferece uma lente única para compreender a alienação parental.
Em vez de focar apenas na dinâmica jurídica, analisamos os pensamentos automáticos, emoções e comportamentos que sustentam o conflito.
Com o genitor alienado, trabalhamos a reestruturação cognitiva de crenças como “sou um fracasso como pai/mãe” ou “nunca vou recuperar meu filho”.
Com o filho alienado, buscamos psicoeducação emocional, ajudando-o a diferenciar fatos de narrativas internalizadas.
Algumas intervenções que utilizo nesses casos:
• Técnica da seta descendente (para identificar crenças nucleares de medo e rejeição).
• Exposição gradual à verdade emocional (revisitar lembranças sem distorção).
• Técnicas de regulação emocional (respiração, mindfulness e autocompaixão).
• Trabalho de aceitação e perdão, não como esquecimento, mas como libertação cognitiva.
Como a Psicoterapia pode ajudar na Recuperação Emocional
Em qualquer configuração familiar, a psicoterapia é um espaço de escuta segura.
Para o menor, é o momento de nomear sentimentos que foram negados.
Para os pais, é a oportunidade de reconstruir o diálogo interno e lidar com a dor sem projetá-la sobre o outro.
Em um caso que acompanhei, um adolescente que rejeitava o pai pôde, ao longo das sessões, revisitar memórias afetivas positivas que estavam “bloqueadas”.
Essa reinterpretação emocional permitiu a reconciliação — e um reencontro real, sem culpa.
A terapia não apaga o passado, mas restaura a capacidade de confiar.
E quando o vínculo é reconstruído, mesmo que parcialmente, o impacto sobre o bem-estar emocional é imenso.
A terapia é um espaço para compreender, não para culpar. Se você ou seu filho estão enfrentando os efeitos da alienação parental, buscar apoio psicológico é um ato de coragem e cuidado.
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Caminhos de Reconstrução e Superação
A recuperação emocional após a alienação parental exige tempo e apoio contínuo.
Algumas estratégias que costumo propor aos pacientes incluem:
1. Reconhecer o trauma — aceitar que houve manipulação emocional é o primeiro passo.
2. Trabalhar o perdão — não como absolvição, mas como libertação interna.
3. Evitar revanchismo — focar na reconstrução do vínculo, não em “provar” quem estava certo.
4. Praticar comunicação assertiva — reduzir ataques e aumentar escuta empática.
5. Cultivar redes de apoio — familiares, amigos e profissionais de saúde mental.
No processo terapêutico, ajudamos o paciente a desenvolver resiliência emocional — a capacidade de reconhecer a dor sem ser dominado por ela.
Quando buscar ajuda Psicológica
Procure ajuda profissional se perceber:
• Isolamento social.
• Tristeza persistente.
• Crises de ansiedade.
• Culpa excessiva.
• Dificuldade em se relacionar.
• Medo irracional de perder vínculos.
Não espere que o tempo resolva o que exige escuta e reconstrução ativa.
A terapia é o espaço onde a dor pode se transformar em compreensão — e a compreensão, em liberdade.
A alienação parental não é apenas uma disputa de guarda — é uma ferida psíquica coletiva que atravessa gerações.
Como psicólogo, vejo que a cura começa quando alguém decide romper o silêncio.
Quando um pai ou uma mãe escolhe compreender, em vez de reagir.
Quando um filho descobre que pode amar os dois, sem culpa.
“Não há vitória possível quando o vínculo é o campo de batalha.”
Reconstruir exige escuta, empatia e, acima de tudo, presença. E a psicoterapia é o espaço onde essa reconstrução pode, enfim, acontecer.
Perguntas Frequentes sobre Impactos da Alienação Parental
1. Quais são os principais impactos psicológicos da alienação parental nas crianças?
A alienação parental provoca ansiedade, culpa, baixa autoestima e confusão emocional. Pode gerar crenças disfuncionais e dificuldades de confiança que persistem na vida adulta.
2. Como saber se meu filho está sendo vítima de alienação parental?
Sinais incluem recusa injustificada em ver o outro genitor, repetição de falas adultas, medo sem causa clara e mudança repentina de comportamento.
3. A psicoterapia pode ajudar a reverter os danos da alienação parental?
Sim. A terapia cognitivo-comportamental auxilia na reconstrução emocional, ajudando a diferenciar fatos de narrativas manipuladas e promovendo reaproximação saudável.
4. Qual a diferença entre conflito conjugal e alienação parental?
O conflito conjugal envolve desentendimentos entre adultos; a alienação parental ocorre quando um genitor manipula emocionalmente o filho contra o outro, distorcendo vínculos afetivos.
5. Pais alienados também precisam de apoio psicológico?
Sim. A alienação pode gerar depressão, ansiedade e sentimento de impotência. O acompanhamento psicológico é essencial para o fortalecimento emocional e a retomada da autoestima.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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