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Fuga da Realidade: O que a Esquiva Emocional revela sobre nós

Artigo Publicado: 03/11/2025
Por Osvaldo Marchesi Junior, Psicólogo | CRP 06/186.890 – Terapia Cognitivo-Comportamental

Fuga da Realidade - Psicologia - TCC - Osvaldo Marchesi Junior - NeuroFlux

Quando a fuga parece alívio, mas se torna prisão

Quantas vezes você já se pegou dizendo: “não quero pensar nisso agora”?

Talvez tenha aberto o celular, assistido a algo no automático ou mergulhado em tarefas sem fim — apenas para não sentir o que estava lá dentro.

A fuga da realidade é uma das expressões mais sutis da dor humana. À primeira vista, parece uma escolha inofensiva: afastar-se de algo que incomoda. Mas com o tempo, torna-se um modo de existir — um afastamento silencioso de si mesmo.

Na clínica, vejo isso todos os dias. Pacientes que chegam dizendo “não aguento mais me sentir assim” e, pouco a pouco, percebem que o sofrimento não vem apenas do que viveram, mas do quanto têm evitado sentir. Evitar é uma forma de sobrevivência — mas também uma prisão invisível.

Neste artigo, quero te conduzir por uma compreensão mais profunda da esquiva emocional, esse mecanismo que protege e, ao mesmo tempo, nos aprisiona.

Você vai entender por que fugimos da realidade, como isso se manifesta, e o mais importante: como reconectar-se com suas emoções sem medo.

O Que é Fuga da Realidade?

A fuga da realidade é um padrão psicológico em que o indivíduo evita contato com pensamentos, emoções ou situações que provocam desconforto.

Não se trata apenas de distração momentânea — é uma tentativa persistente de anular a experiência emocional.

Em termos neuropsicológicos, o cérebro busca reduzir o estresse percebido. Quando algo ativa a amígdala (estrutura relacionada ao medo), ele dispara mecanismos de defesa para restaurar a sensação de controle. Entre eles, estão a negação, a distração e a dissociação leve.

Mas há uma diferença importante:

• Descanso restaura.
• Fuga adia.

Muitas vezes, o problema não é querer descansar, mas usar o descanso como forma de anestesia emocional.

Lembro-me de uma paciente que dizia: “Não estou fugindo, só quero esquecer um pouco.

Ela assistia a séries por horas, navegava nas redes sem rumo, e sentia alívio — até o vazio voltar. O que parecia autocuidado era, na verdade, um ciclo de fuga e retorno da dor.

A fuga da realidade começa como um alívio temporário, mas termina como um afastamento crônico do sentir.

E quanto mais tentamos fugir, mais a mente transforma o que é suprimido em sintomas: ansiedade, irritabilidade, insônia, ou uma sensação difusa de “não sei o que falta”.

O que é Esquiva Emocional e por que ela acontece

A esquiva emocional é o ato de evitar entrar em contato com emoções difíceis — como tristeza, medo, raiva ou culpa.

Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), entendemos isso como um comportamento de evitação reforçado negativamente: você evita, sente alívio, e o cérebro entende que evitar “funciona”. O ciclo se repete.

Essa dinâmica é aprendida desde cedo. Quando crescemos em ambientes onde sentir é punido, ridicularizado ou ignorado, aprendemos a desconectar-nos da emoção para preservar o vínculo.

Assim, adultos evitam chorar, confrontar, pedir ajuda — porque isso ativa memórias implícitas de rejeição.

Certa vez, uma paciente com histórico de perda recente disse: “Eu não quero chorar, porque se eu começar, acho que não vou parar.

O medo não era da emoção, mas do colapso que ela imaginava que sentir poderia causar. Essa crença de “não posso sentir, senão desabo” é o núcleo da esquiva emocional.

A esquiva também pode se manifestar como racionalização excessiva: transformar toda emoção em análise, sem permitir o sentir. O intelecto se torna um escudo — e o corpo, um repositório de tudo o que não foi vivido.

Mecanismos Psicológicos por trás da Fuga da Realidade

A fuga emocional não é fraqueza. É mecanismo de autoproteção.

Mas compreender como ela opera é essencial para transformá-la.

1. Negação e Racionalização

A negação nos permite lidar com o insuportável dizendo: “não é tão grave assim”.

A racionalização, por sua vez, tenta justificar a dor em termos lógicos.

Ambas reduzem o impacto imediato, mas impedem o processamento emocional genuíno.

2. Dissociação Leve

Em momentos de sobrecarga, o cérebro pode “desconectar” temporariamente.

É quando a pessoa diz: “sinto como se não fosse eu ali”.

Esse distanciamento é protetor — mas quando se torna frequente, gera alienação da própria vida.

3. Autocrítica e Evitação

Muitos evitam sentir porque julgam o que sentem.

Não devia estar triste.

Sou fraco por me sentir assim.

Essa autocrítica cria vergonha emocional, levando à repressão ainda maior.

4. Reforço Comportamental

Na TCC, chamamos isso de reforço negativo: o comportamento de evitar é recompensado pela redução imediata da ansiedade.

Com o tempo, o cérebro aprende: “fugir funciona”.

Mas o preço é a redução da tolerância emocional — cada vez é preciso fugir mais.

Exemplos de Fuga da Realidade no Cotidiano

A fuga emocional assume inúmeras formas sutis, muitas delas socialmente aceitas.

• Trabalho excessivo: o “viciado em produtividade” que evita o silêncio interior.

• Consumo digital compulsivo: horas nas redes sociais como anestesia emocional.

• Relações superficiais: medo da intimidade travestido de desapego.

• Idealização constante: viver em planos futuros para evitar o presente.

Lembro de um paciente que dizia: “Não tenho tempo para sentir.

Ele trabalhava 12 horas por dia, exercitava-se compulsivamente e estava sempre “resolvendo algo”. Sua fuga era tão sofisticada que parecia sucesso.

Mas, na pausa, vinha o colapso: uma tristeza sem nome.

A esquiva emocional raramente se apresenta como fuga explícita. Ela se disfarça de produtividade, de espiritualidade acelerada, de autocontrole.

E quanto mais fugimos, mais nos distanciamos de quem somos — até que o vazio se torna insuportável.

As Consequências Psicológicas da Esquiva Emocional

Fugir da realidade tem um preço emocional alto.

O que é evitado não desaparece — apenas se desloca.

A evitação prolongada pode gerar:

• Ansiedade generalizada: o medo difuso de “algo ruim” acontecer.

• Depressão encoberta: a dor reprimida se transforma em apatia.

• Somatização: o corpo fala o que a mente cala.

• Despersonalização: sensação de estar desconectado da própria vida.

• Solidão emocional: incapacidade de se sentir verdadeiramente próximo de alguém.

A esquiva também afeta relacionamentos.

Quem não se permite sentir, não consegue sustentar a vulnerabilidade necessária para amar.

Vive “de fora” de si — presente fisicamente, ausente emocionalmente.

Em termos terapêuticos, chamamos isso de anestesia afetiva: o bloqueio inconsciente de emoções que protege a curto prazo, mas causa sofrimento crônico.

Como Parar de Fugir da Realidade: Estratégias Terapêuticas

Enfrentar emoções não é mergulhar de cabeça na dor — é reaprender a ficar com ela por alguns segundos a mais.

Esse é o primeiro passo da cura.

1. Psicoeducação Emocional

Entender que emoções não são inimigas, mas mensageiras.

Na terapia, costumo explicar que emoções primárias (tristeza, raiva, medo, alegria) são adaptativas — servem para sinalizar necessidades.

O problema surge quando as evitamos e geramos emoções secundárias, como vergonha ou culpa por sentir.

2. Exposição Emocional Gradual

Na TCC, utilizamos a técnica de exposição emocional: aproximar-se, pouco a pouco, do que é evitado.

Pode ser uma lembrança, uma conversa, uma emoção.

O objetivo não é sofrer mais, mas diminuir o poder da esquiva.

Em muitos atendimentos, percebo que o ponto de virada acontece quando o paciente consegue ficar alguns segundos a mais com uma emoção antes de fugir.

Aos poucos, o que antes parecia insuportável se torna suportável.

3. Mindfulness e Aceitação

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ensina algo poderoso: não é o conteúdo da emoção que nos destrói, mas a luta contra ela.

A prática da atenção plena nos convida a observar sem julgamento, a respirar com a emoção — em vez de reprimi-la.

4. Tolerância Emocional e Autocompaixão

Aprender a tolerar o desconforto é um treino de maturidade emocional.

E isso exige autocompaixão — reconhecer que sentir não é fraqueza, mas humanidade.

Quando um paciente se permite chorar sem se censurar, algo profundo acontece: a emoção deixa de ser inimiga e se torna fluxo.

É nesse instante que o real contato consigo mesmo começa.

A Coragem de Sentir

Fugir é fácil. Sentir é corajoso. E, na verdade, não há liberdade fora da realidade.

Percebo, em muitos processos terapêuticos, que o sofrimento maior não vem da dor em si, mas da resistência à dor.

A esquiva emocional cria uma vida morna: segura, previsível, mas vazia.

Encarar as emoções é como voltar para casa depois de anos exilado.

No início, há estranhamento. Depois, vem o reconhecimento: “Eu sempre estive aqui.

Quando paramos de fugir, abrimos espaço para que a dor cumpra seu papel — e vá embora.

A emoção quer movimento, não prisão.

Parar de fugir é começar a viver

Fugir da realidade é uma forma de amor mal direcionado: é o desejo de se proteger da dor.
Mas quando o alívio se torna fuga, o preço é alto — a desconexão de quem realmente somos.

Aprender a sentir é reaprender a viver com inteireza.

Não se trata de eliminar o sofrimento, mas de atravessá-lo com consciência, sem deixar que ele nos defina.

Se você sente que tem se distanciado de si mesmo, talvez seja hora de olhar com mais cuidado para o que tem evitado.

A terapia pode ser esse espaço onde a fuga cessa — e o reencontro começa.

Se algo dentro de você reconheceu esse padrão — a vontade de fugir, o medo de sentir, o cansaço de sempre evitar — saiba que há um caminho de volta.

Eu posso te ajudar a trilhar esse caminho com segurança e propósito. Agende uma sessão online comigo e dê o primeiro passo para se reconectar consigo mesmo.

Porque fugir da dor é humano — mas aprender a senti-la é o que nos torna inteiros.

Perguntas Frequentes sobre Fuga da Realidade

1. O que leva uma pessoa a fugir da realidade?

A fuga da realidade ocorre quando o contato com emoções ou situações dolorosas é percebido como insuportável. A mente ativa mecanismos de defesa (como negação, distração ou racionalização) para reduzir o desconforto momentâneo.

2. Fugir da realidade é um sintoma de algum transtorno psicológico?

Nem sempre. A fuga emocional é um mecanismo comum, mas pode estar associada a ansiedade, depressão, dependências e transtornos dissociativos quando se torna persistente.

3. Qual a diferença entre evitar emoções e regular emoções?

Evitar é reprimir o que se sente; regular é reconhecer e redirecionar. A regulação emocional promove maturidade, enquanto a esquiva reforça o sofrimento.

4. Como saber se estou fugindo das minhas emoções?

Sinais comuns incluem distração constante, irritabilidade sem motivo, procrastinação, consumo excessivo de estímulos e dificuldade em ficar sozinho.

5. A terapia pode ajudar quem foge da realidade?

Sim. A terapia — especialmente a TCC e a ACT — oferece um espaço seguro para reconhecer padrões de fuga e desenvolver tolerância emocional. O processo é gradual, mas profundamente libertador.

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