O que é estresse, estressor e estresse pós-traumático?
O estresse é, de forma geral, uma resposta não específica do corpo diante de qualquer demanda. Já o estressor é o agente causador dessa resposta, podendo ser um evento, contexto ou situação.
Embora o estresse seja uma resposta adaptativa, que evoluiu para aumentar nossas chances de sobrevivência, quando se torna crônico pode provocar adoecimento. As respostas clássicas ao estresse incluem: luta, fuga ou congelamento — estratégias extremamente úteis diante de estressores agudos, mas prejudiciais frente a estressores crônicos.
Na atualidade, muitos de nós vivemos sob estresse crônico, como o medo constante da violência urbana. Esse estado de alerta permanente cobra um alto preço do organismo, gerando disfunções que afetam diversos sistemas do corpo humano.
Se você deseja um conteúdo ainda mais completo sobre como funciona o tratamento psicológico e as diferentes abordagens terapêuticas para o trauma, recomendo a leitura do artigo pilar Psicólogo para TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático): Guia Completo para Entender e Tratar o Trauma, que reúne informações aprofundadas, baseadas em evidências e orientações práticas para quem busca ajuda especializada.
Estresse: quando é positivo e quando se torna patológico?
Algum grau de adversidade é necessário ao desenvolvimento humano. Por exemplo, crianças expostas moderadamente a desafios aprendem a desenvolver mecanismos de resiliência: “um mar calmo nunca fez um bom marinheiro”.
Contudo, o estresse negativo ocorre quando as demandas ambientais superam os recursos internos e externos que possuímos, sendo percebidas como ameaças. Já o estresse positivo surge quando esses recursos são suficientes, e o evento é visto como um desafio a ser superado.
O que é o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)?
O TEPT é uma condição que surge após a exposição a um evento estressor potencialmente traumático, resultando em sofrimento intenso e prejuízo significativo na vida do indivíduo.
Quais eventos podem causar TEPT?
Cerca de metade dos eventos traumáticos mais comuns se agrupam em cinco categorias:
1. Testemunhar a morte ou ferimentos graves.
2. Experienciar a morte inesperada de um ente querido.
3. Ser assaltado ou atacado.
4. Sofrer um acidente automobilístico com risco de vida.
5. Enfrentar uma doença ou lesão grave e com risco de morte.
Eventos envolvendo violência interpessoal (agressão, violência sexual, sequestro, tortura) apresentam maior risco de desencadear TEPT, comparados a eventos não intencionais, como desastres naturais.
Além disso, quanto mais eventos traumáticos ao longo da vida, maior o risco e a precocidade do desenvolvimento do transtorno, com consequentes prejuízos sociais e ocupacionais.
Estatísticas sobre a exposição a traumas
Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), com mais de 70 mil participantes em 24 países:
• 70% das pessoas foram expostas a pelo menos um evento traumático ao longo da vida.
• A média é de 3,2 eventos traumáticos por pessoa.
O impacto neurobiológico do trauma
A exposição a traumas afeta profundamente a neurobiologia, reprogramando o cérebro e sistemas corporais para lidar com ameaças constantes. Essas alterações geram disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais.
Em nível profundo, o trauma modifica até mesmo a expressão genética e o neurodesenvolvimento, afetando não apenas o sistema nervoso, mas também os sistemas cardiovascular, digestivo, imunológico e reprodutivo.
A importância da infância
Devido à enorme plasticidade cerebral na infância, maus-tratos precoces deixam sequelas profundas e duradouras, caso não sejam tratados adequadamente.
Por exemplo, estudos mostram que crianças expostas a maus-tratos apresentam, em média, uma diferença de até 20 pontos no QI quando comparadas a crianças não expostas, mas de mesma condição socioeconômica. Esses danos afetam funções cognitivas como:
• Planejamento
• Memória de trabalho
• Controle inibitório
• Tomada de decisão
Na vida adulta, pessoas traumatizadas na infância também sofrem prejuízos em memória episódica, atenção e funções executivas.
Além disso, o trauma pode provocar alterações estruturais, como a redução do volume do hipocampo, região fundamental para a memória e o processamento emocional.
Por que a avaliação de traumas é fundamental na clínica psicológica?
Grande parte do tratamento envolve lidar com as alterações cognitivas e comportamentais associadas ao trauma, como:
• Dificuldades de memória, especialmente a memória verbal.
• Alterações no controle de impulsos.
• Dificuldade no processamento emocional — reconhecer e regular emoções.
Como a psicoterapia tradicional ocorre predominantemente pela fala, prejuízos na memória verbal podem impactar negativamente o sucesso terapêutico, exigindo intervenções mais comportamentais e adaptadas.
Nem todo trauma gera TEPT: quem está mais vulnerável?
Embora a maioria das pessoas se recupere naturalmente após eventos traumáticos, algumas desenvolvem TEPT devido a fatores de risco que aumentam sua vulnerabilidade, tais como:
• Predisposições genéticas
• Fatores psicológicos e emocionais
• Baixo apoio social
• Histórico prévio de transtornos mentais
Reações imediatas ao trauma: o que é esperado?
Logo após o trauma, muitos indivíduos experienciam reações emocionais (medo, raiva, culpa, vergonha) e cognitivas (confusão, desorientação, dificuldade de concentração). Normalmente, essas reações:
• Reduzem significativamente após 3 dias.
• Tornam-se residuais ou desaparecem até 1 mês.
Em casos onde isso não ocorre, e os sintomas persistem ou se intensificam, há risco de desenvolvimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Primeiros socorros psicológicos: Intervenção precoce
Uma das intervenções imediatas recomendadas é a aplicação dos Primeiros Socorros Psicológicos (PSP), que visam:
• Oferecer apoio emocional.
• Reconectar a vítima a seu grupo de apoio (família, amigos, colegas).
• Minimizar o risco de evolução negativa.
Quando se preocupar? Fatores de risco para evolução negativa:
• Ideação suicida
• Abuso de substâncias
• Comportamento agressivo
• Sintomas psicóticos
• Dissociação
• Histórico prévio de transtornos mentais
• Falta de apoio social
Nestes casos, recomenda-se não apenas PSP, mas também monitoramento psicoterapêutico e/ou farmacológico.
Fatores de resiliência: por que algumas pessoas superam traumas?
A resposta ao trauma também depende de fatores que promovem resiliência, como:
• Otimismo e emoções positivas
• Estratégias de enfrentamento ativas
• Reavaliação cognitiva
• Altruísmo
• Rede de apoio social
• Atribuição de sentido à experiência
Sinais e sintomas comuns do TEPT
Reações físicas
• Tensão muscular
• Fadiga
• Insônia
• Reação de sobressalto
• Náusea
• Perda de apetite
• Alterações no desejo sexual
• Taquicardia
Reações interpessoais
• Irritabilidade
• Isolamento social
• Desconfiança
• Sentimentos de rejeição
• Necessidade de controle excessivo
Além disso, indivíduos com TEPT possuem maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, metabólicas, músculo-esqueléticas, além de queixas gastrointestinais, cardiorrespiratórias e sintomas de dor crônica.
TEPT: impacto na saúde pública e na economia
O TEPT representa uma carga econômica expressiva. Em 2018, o custo total estimado do transtorno nos Estados Unidos foi de US$ 232 bilhões, ficando atrás apenas da depressão maior em termos de impacto financeiro.
Prevalência do TEPT
• Risco ao longo da vida: 8,7%
• Prevalência anual: 3,7%
O curso do Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Indivíduos resilientes se recuperam mais rapidamente, discriminando melhor os estímulos traumáticos e extinguindo a memória associada ao trauma.
Contudo, no TEPT, há:
• Superaprendizagem do medo.
• Dificuldade de extinção da memória traumática.
• Aumento da sensibilidade ao estresse.
Grande parte da psicoterapia para TEPT se concentra justamente na extinção dessa memória traumática.
Estratégias disfuncionais que agravam o quadro:
• Evitar pensar no trauma.
• Manter-se ocupado o tempo todo.
• Tentar controlar rigidamente os sentimentos.
• Abusar de álcool e drogas.
Comorbidades associadas ao TEPT
As comorbidades mais comuns incluem:
• Abuso de substâncias: 43%
• Depressão maior: 15% a 53%
• Transtorno bipolar: 16%
• Agorafobia: 22%
• Transtorno de ansiedade generalizada: 7,5% a 76%
• TOC: 8% a 37%
• Fobia social: 8% a 21%
• Fobia específica: até 29%
Em média, 83% das pessoas com TEPT também possuem outro diagnóstico psiquiátrico.
Homens com TEPT têm até 10,4 vezes mais chances de desenvolver quadros de mania e 6,9 vezes mais chances de depressão. Mulheres são 4,1 vezes mais propensas a desenvolver depressão e 4,5 vezes mais propensas à mania.
Além disso, há alta incidência de abuso de substâncias:
• Homens: 34,5%
• Mulheres: 26,9%
TEPT e risco de suicídio
O TEPT é o transtorno de ansiedade mais fortemente associado ao suicídio, especialmente quando ocorre em comorbidade com a depressão maior.
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático é uma condição complexa, com impacto profundo na saúde física, mental e social dos indivíduos. A compreensão do TEPT, desde seus mecanismos neurobiológicos até seus desdobramentos psicossociais, é fundamental para profissionais de saúde, familiares e sociedade.
A identificação precoce e o acesso a intervenções adequadas, como a psicoterapia especializada e os Primeiros Socorros Psicológicos, podem evitar a cronificação do quadro e promover a recuperação e o fortalecimento da resiliência.
Perguntas Frequentes sobre o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
1. O que é estresse?
O estresse é uma resposta fisiológica e psicológica não específica do corpo a qualquer demanda ou ameaça percebida. É uma adaptação evolutiva que visa aumentar as chances de sobrevivência por meio de respostas como luta, fuga ou congelamento.
2. O que é um estressor?
O estressor é qualquer evento, situação ou contexto que gera uma demanda significativa ao organismo, podendo provocar estresse. Exemplos incluem violência urbana, desastres naturais ou conflitos interpessoais.
3. Quando o estresse se torna prejudicial?
O estresse se torna prejudicial quando é crônico, ou seja, quando a resposta fisiológica ao estressor se mantém ativada por longos períodos. Isso pode levar ao adoecimento físico e mental, afetando diversos sistemas do organismo.
4. O que diferencia o estresse positivo do negativo?
O estresse positivo ocorre quando as demandas ambientais são compatíveis com os recursos internos e externos do indivíduo, sendo interpretadas como desafios. O estresse negativo surge quando as demandas superam os recursos disponíveis, sendo percebidas como ameaças e potencialmente desencadeando sofrimento e adoecimento.
5. O que é o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)?
O TEPT é uma condição de saúde mental que ocorre após a exposição a um evento estressor potencialmente traumático, que provoca sofrimento intenso e prejuízo significativo na vida do indivíduo, afetando sua cognição, emoções e comportamento.
6. Quais são os eventos mais comuns associados ao desenvolvimento do TEPT?
Os cinco eventos traumáticos mais comuns são: Testemunhar a morte ou ferimentos graves, Experienciar a morte inesperada de um ente querido, Ser assaltado ou atacado, Envolver-se em um acidente automobilístico com risco de vida e Vivenciar uma doença ou ferimento com risco de vida. Eventos com maior risco de TEPT incluem agressão, violência sexual, assaltos, sequestros e tortura.
7. Qual é a prevalência do TEPT na população geral?
De acordo com dados internacionais: Risco ao longo da vida: 8,7% e Prevalência em 12 meses: 3,7%.
8. Por que algumas pessoas desenvolvem TEPT e outras não?
O desenvolvimento do TEPT depende de múltiplos fatores, incluindo vulnerabilidades genéticas, recursos psicológicos, apoio social, contexto cultural e características do evento traumático. Fatores de risco incluem histórico prévio de transtornos mentais, baixo suporte social e exposição a múltiplos traumas.
9. Como o trauma afeta o cérebro e o corpo?
O trauma gera alterações neurobiológicas significativas, reprogramando o cérebro para lidar com ameaças. Há impacto nos sistemas cognitivo, emocional e comportamental, além de alterações em outros sistemas do corpo, como cardiovascular, imunológico, digestivo e reprodutivo. Mudanças estruturais, como a redução do volume do hipocampo, são comuns, especialmente em vítimas de maus-tratos na infância.
10: Quais são os principais sintomas físicos e interpessoais do TEPT?
Sintomas físicos: Tensão muscular, Fadiga, Insônia, Reações de sobressalto, Náuseas, Perda de apetite, Alterações no desejo sexual e Frequência cardíaca elevada.
Sintomas interpessoais: Irritabilidade, Isolamento social, Desconfiança, Sentimento de rejeição ou abandono, Reclusão e Necessidade excessiva de controle.
11. O que são os primeiros socorros psicológicos?
São intervenções imediatas após a exposição a um evento traumático, com foco em: Promover segurança, Estabilizar reações emocionais, Reconectar o indivíduo com sua rede de apoio, Fornecer informações práticas e Orientar sobre sinais de risco. Esses cuidados reduzem o risco de evolução para quadros mais graves, como o TEPT.
12. Quais fatores aumentam a vulnerabilidade ao TEPT?
Ideação suicida, Uso de substâncias, Comportamento agressivo, Sintomas psicóticos, Dissociação, Histórico prévio de transtorno mental e Baixo apoio social.
13. Como o TEPT pode impactar a vida a longo prazo?
Além do sofrimento psicológico, o TEPT está associado a: Doenças cardiovasculares, Distúrbios metabólicos, Problemas músculo-esqueléticos, Piora da qualidade de vida, Maior risco de suicídio e Redução de produtividade e impacto econômico significativo.
14. O TEPT afeta as funções cognitivas?
Sim. O TEPT está associado a déficits importantes em: Memória episódica, verbal e de trabalho; Atenção e Funções executivas: planejamento, inibição de impulsos e organização. Esses prejuízos impactam diretamente o sucesso da psicoterapia, exigindo adaptações nas abordagens terapêuticas.
15. O que é mais comum após um trauma: desenvolver TEPT ou se recuperar?
A maioria das pessoas expostas a eventos traumáticos apresenta resiliência ou recuperação espontânea, sem evoluir para quadros psiquiátricos graves. O TEPT ocorre em uma parcela menor, geralmente associada a maior carga traumática ou fatores de risco individuais.
16. Quais comorbidades são mais frequentes no TEPT?
• Abuso de substâncias: até 43%.
• Depressão maior: até 53%.
• Transtorno bipolar: até 16%.
• Agorafobia: até 22%.
• Transtorno de ansiedade generalizada: até 76%.
• TOC: até 37%.
• Fobia social: até 21%.
Cerca de 83% dos indivíduos com TEPT preenchem critérios para pelo menos outro transtorno psiquiátrico.
17. Por que o TEPT é associado a um maior risco de suicídio?
O TEPT é o transtorno de ansiedade com maior relação com o suicídio, risco que aumenta consideravelmente quando há comorbidade com depressão maior. Alterações cognitivas, emocionais e neurobiológicas favorecem a desesperança e o comportamento suicida.
18. Quais são as estratégias disfuncionais que podem agravar o TEPT?
• Evitar pensar no trauma.
• Manter a mente constantemente ocupada.
• Reprimir sentimentos.
• Abusar de álcool e drogas.
Essas estratégias dificultam o processamento emocional e a extinção da memória traumática.
19. Como a terapia atua no tratamento do TEPT?
A terapia foca na extinção da memória traumática e no fortalecimento da regulação emocional, com técnicas que promovem:
• Processamento e ressignificação do trauma.
• Treinamento de habilidades cognitivas.
• Melhoria no reconhecimento e regulação de emoções.
• Redução da hipervigilância e do medo condicionado.
20. Quais fatores promovem a resiliência após traumas?
Otimismo, Emoções positivas, Estratégias de enfrentamento ativas, Reavaliação cognitiva, Altruísmo, Apoio social, Atribuição de significado ao evento e Senso de propósito.
21. Qual é o impacto econômico do TEPT?
Em 2018, a carga econômica do TEPT nos Estados Unidos foi estimada em US$ 232 bilhões, superada apenas pela depressão maior entre os transtornos mentais.
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