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Exposição Interoceptiva: Como enfrentar o medo das próprias sensações e superar o Transtorno do Pânico

Artigo Publicado: 16/10/2025
Por Osvaldo Marchesi Junior, Psicólogo | CRP 06/186.890 – Terapia Cognitivo-Comportamental

Exposição Interoceptiva - Transtorno de Panico - TCC - Psicólogo Online - Osvaldo Marchesi Junior - NeuroFlux

Em minha prática clínica, costumo ouvir frases como: “Doutor, parece que vou morrer. Meu coração dispara, fico tonto, sinto que vou desmaiar. O pior é que acontece do nada — de repente, meu corpo me trai.

Essas descrições são muito comuns entre pessoas que sofrem de transtorno do pânico ou de ansiedade intensa. A sensação é de estar à mercê do próprio corpo — como se o peito, a respiração e o coração estivessem fora de controle.

Mas há um ponto que costumo enfatizar logo nas primeiras sessões: o corpo não é o inimigo. Ele apenas está reagindo a algo que a mente interpreta como ameaça.

E é justamente nesse ponto que entra uma técnica transformadora da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): a Exposição Interoceptiva — um método que, à primeira vista, parece paradoxal, mas que tem um dos efeitos mais poderosos no tratamento do medo das sensações físicas da ansiedade.

O que é Exposição Interoceptiva na TCC?

A Exposição Interoceptiva é uma técnica terapêutica que convida o paciente a experimentar deliberadamente as sensações físicas da ansiedade em um ambiente seguro, até que o corpo e o cérebro aprendam que essas sensações não são perigosas.

Na prática, isso significa reproduzir sintomas como aceleração cardíaca, falta de ar, tontura ou calor, através de exercícios específicos e controlados.

Por exemplo: correr no mesmo lugar por 30 segundos para provocar palpitações, girar rapidamente para sentir tontura ou prender a respiração por alguns instantes para simular a falta de ar.

Esses exercícios ajudam o paciente a dissociar a sensação corporal da interpretação catastrófica, ou seja, a perceber que o coração acelerado não significa um infarto, que a tontura não leva à morte e que o desconforto não é sinal de perigo.

Em resumo: A exposição interoceptiva treina o cérebro para tolerar as sensações internas e reaprender a confiar no corpo.

Por que temos medo das sensações físicas da ansiedade

Ao longo dos anos, percebi que o medo das sensações corporais não nasce do nada. Ele costuma surgir de uma interpretação distorcida e aprendida sobre o próprio corpo.

Um paciente que teve um ataque de pânico enquanto dirigia, por exemplo, pode associar a tontura ou o batimento acelerado à sensação de “perder o controle” e evitar dirigir desde então.

Outro pode interpretar a respiração curta como sinal de sufocamento iminente e, por medo de sentir aquilo de novo, passa a evitar lugares fechados ou atividades físicas.

É assim que o corpo passa a ser visto como um gatilho — quando, na verdade, ele é apenas o mensageiro de um estado emocional.

Com o tempo, o medo das sensações (chamado de ansiedade antecipatória) torna-se mais debilitante do que a própria crise. A pessoa vive em alerta constante, tentando controlar o incontrolável: suas próprias reações fisiológicas.

Como funciona a Exposição Interoceptiva na prática

Durante a exposição interoceptiva, o objetivo não é “relaxar” ou “diminuir os sintomas”, mas permitir que eles aconteçam — e observar o que de fato ocorre.

É um treino de coragem fisiológica, em que o paciente aprende que o desconforto não é sinônimo de perigo.

1. Psicoeducação: Entender o que está acontecendo

Antes de realizar qualquer exercício, explico detalhadamente o funcionamento da resposta de ansiedade: o papel da amígdala, do sistema nervoso autônomo e o motivo pelo qual o corpo reage como se houvesse uma ameaça.

Quando o paciente entende que os sintomas são reações naturais do corpo (e não sinais de loucura ou fraqueza), ele começa a se sentir menos refém deles.

2. Escolha das sensações-alvo

Listamos juntos quais sensações mais provocam medo ou desconforto.

Exemplos comuns:

• Coração acelerado.
• Falta de ar.
• Tremores.
• Tontura.
• Calor súbito.
• Visão turva.

Cada sensação se torna uma oportunidade de aprendizado emocional.

3. Indução das sensações físicas

Depois, passamos para os exercícios práticos, adaptados ao perfil de cada paciente.

Alguns exemplos clássicos:

• Hiperventilação (respirar rápido por 30 segundos) → provoca tontura e formigamento.

• Girar em cadeira giratória → induz vertigem.

• Correr no lugar ou subir escadas rapidamente → acelera os batimentos cardíacos.

• Prender a respiração → gera leve desconforto respiratório.

Durante o exercício, o foco não é “evitar sentir”, mas notar o que acontece sem julgamento.

4. Dessensibilização e reinterpretação

Após o exercício, conversamos sobre o que ele sentiu e pensou.

Note como seu corpo voltou ao normal sozinho.

Você percebeu que o coração acelerado não significou perigo real?

A repetição gradativa desses experimentos ensina o cérebro a descondicionar o medo e a reagir com menos alarme a cada tentativa.

Exemplo clínico: Quando o corpo vira professor

Lembro de uma paciente, a quem chamarei de Laura, que chegou até mim com medo de sair de casa.

Durante as crises, ela sentia o coração bater forte, ficava tonta e tinha certeza de que desmaiaria em público. Evitava filas, supermercados e até encontros com amigos.

Nas primeiras sessões, trabalhamos a compreensão da ansiedade. Quando propus a exposição interoceptiva, ela hesitou — afinal, a ideia de “provocar o que me faz mal” parecia absurda.

Começamos de forma leve: Ela girou na cadeira por 15 segundos.

Sentiu tontura e começou a rir nervosamente:

Olha, é a mesma sensação da crise!

Fizemos uma pausa, respiramos. A tontura passou.

Perguntei:

“O que você percebeu?”
“Que a tontura vai embora… e que meu corpo dá conta.”


Esse foi o início da virada. Com o tempo, Laura passou a perceber que as sensações eram passageiras — e que o que as mantinha era o medo de senti-las.

Quando o medo caiu, o corpo deixou de ser o vilão.

Por que a Exposição Interoceptiva funciona?

Do ponto de vista neurocientífico, essa técnica atua na reconsolidação da memória de medo.

Toda vez que o paciente se expõe à sensação temida sem consequências negativas, ele corrige a previsão catastrófica do cérebro. É o que chamamos de aprendizado corretivo.

Além disso, há um efeito fisiológico poderoso: a repetição controlada das sensações diminui a sensibilidade interoceptiva, ou seja, o grau em que o indivíduo percebe e reage às sensações corporais.

Com o tempo, o corpo se torna menos reativo e a mente mais confiante.

Integração com outras técnicas da TCC

A Exposição Interoceptiva costuma ser combinada com outras intervenções cognitivas, como:

• Reestruturação cognitiva: questionar pensamentos automáticos (“Vou morrer”, “Vou enlouquecer”) e substituí-los por interpretações mais realistas.

• Treino de aceitação e mindfulness: aprender a observar o corpo e as emoções sem resistência.

• Técnicas de respiração e grounding: usadas não para evitar a ansiedade, mas para ancorar o foco no presente.

Durante a terapia, costumo dizer: “Não é sobre eliminar as sensações — é sobre reaprender a habitá-las.

Se você sente que vive em guerra com o próprio corpo, esse é um ponto importante de reflexão. A terapia pode ajudá-lo a fazer as pazes com o que sente, sem precisar lutar contra cada batida do coração.

Erros comuns e resistências na Exposição Interoceptiva

É natural que muitos pacientes resistam à técnica — afinal, ninguém gosta de se sentir desconfortável.

Alguns tentam controlar a respiração, outros pedem para “parar logo”. Isso é compreensível, mas também é parte do processo.

Explico que evitar o desconforto é o que mantém o ciclo da ansiedade ativo.

Quando o paciente permanece no exercício até o desconforto reduzir sozinho, ocorre a habituação — o cérebro aprende que não precisa mais reagir com alarme.

Diferença entre Exposição Interoceptiva, In Vivo e Imaginária (In Vitro)

A TCC utiliza três principais formas de exposição:

1. In Vivo → confronta situações externas reais (andar de metrô, sair sozinho).

2. Imaginária (in vitro) → trabalha memórias ou cenários mentais.

3. Interoceptiva → foca nas reações internas do corpo.

Gosto de pensar que, enquanto as duas primeiras treinam o contato com o “mundo de fora”, a interoceptiva treina o contato com o “mundo de dentro”.

É o aprendizado de confiar nas sensações sem interpretá-las como ameaça.

Quando a técnica não é indicada

A Exposição Interoceptiva é segura, mas deve ser sempre conduzida por um psicólogo treinado em Terapia Cognitivo-Comportamental e com avaliação prévia de saúde física.

Em casos de problemas cardíacos, respiratórios ou neurológicos, a técnica deve ser adaptada ou substituída por outras formas de exposição.

Nunca é recomendável praticá-la sozinho, sem orientação profissional.

Resultados esperados

Os resultados começam a aparecer entre 8 e 12 sessões, dependendo da frequência e do engajamento do paciente.

A maioria relata:

• Redução significativa dos ataques de pânico.
• Diminuição do medo das sensações físicas.
• Maior liberdade para retomar atividades antes evitadas.
• Sensação de controle emocional genuíno.

É comum que o paciente diga algo como: “Agora, quando o coração acelera, eu sei que é só meu corpo reagindo — e não um perigo real.

Esse é o ponto de virada: Quando o corpo deixa de ser um inimigo e volta a ser um aliado.

Fazer as pazes com o corpo é o início da cura

A Exposição Interoceptiva é, acima de tudo, um reencontro. Um reencontro com o corpo, com as sensações e com a confiança em si mesmo. O corpo não precisa ser controlado — ele precisa ser compreendido.

Em muitos casos, é o medo de sentir que perpetua o sofrimento. Quando você aprende a acolher o que sente, o que antes era pânico se transforma em presença.

Se você se identificou com essas experiências e quer aprender a não temer suas sensações, saiba que é possível.

Durante a terapia, trabalhamos passo a passo para que seu corpo deixe de ser um gatilho e volte a ser um espaço seguro.

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Perguntas Frequentes sobre Exposição Interoceptiva

1. O que é exposição interoceptiva na TCC?

É uma técnica que recria as sensações físicas da ansiedade de forma controlada, para ajudar o paciente a perder o medo delas e perceber que não representam perigo real.

2. Para que serve a exposição interoceptiva?

Serve para tratar o transtorno do pânico, fobia de sensações corporais e ansiedade generalizada, reduzindo o medo das reações fisiológicas do corpo.

3. Como é feita a exposição interoceptiva na prática?

O psicólogo orienta exercícios que provocam sintomas físicos, como tontura, aceleração cardíaca ou falta de ar, e guia o paciente a observar as sensações até que o corpo se acalme naturalmente.

4. A exposição interoceptiva é perigosa?

Não. Quando conduzida por um profissional treinado e com avaliação clínica adequada, é uma técnica segura e eficaz, recomendada em protocolos internacionais de TCC.

5. Quanto tempo leva para ver resultados com TCC para Transtorno do Pânico?

Geralmente entre 8 e 12 sessões, dependendo da gravidade dos sintomas e do engajamento no processo terapêutico.

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