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Psicologia Moral, Filosofia e Moralidade: Dilemas entre a Razão e a Emoção

Artigo Publicado: 15/08/2024

Psicologia Moral  filosofia e moralidade - Dilemas entre a razao e a emocao - TCC - NeuroFlux

A Psicologia Moral e o Conflito entre Razão e Emoção

A moralidade humana é fruto da razão ou da emoção? Somos criaturas naturalmente boas ou a bondade é um produto da sociedade? A busca por respostas a estas perguntas permeia a filosofia, a psicologia moral e a neurociência há séculos. Neste artigo, explorarei esses dilemas através de experimentos clássicos, teorias filosóficas e descobertas científicas que revelam aspectos surpreendentes sobre a natureza moral humana.

O Estudo de Edward Thorndike: Quanto custa a sua Moral?

Em 1950, o psicólogo norte-americano Edward Thorndike realizou um estudo curioso: apresentou a voluntários uma lista de tarefas altamente desagradáveis e perguntou quanto dinheiro eles aceitariam para realizá-las. Exemplos marcantes:

• Quanto me cobraria para comer um inseto?
• Quanto para arrancar um dedo da sua mão?
• Quanto para cuspir na cara da sua mãe?


Uma das questões mais chocantes foi: “Quanto você cobraria para arrancar um dente com alicate, sem anestesia?” A média foi de US$ 74 mil. Quando perguntou quanto cobrariam para matar seu animal de estimação, o valor médio subiu para US$ 164 mil.

O que esses resultados indicam?

As pessoas exigem mais dinheiro não para suportar dor física, mas para transgredir normas morais — ou seja, somos motivados por padrões éticos, não apenas por evitar sofrimento.

Esse achado corrobora com a ideia de Adam Smith, em A Teoria dos Sentimentos Morais: “Por mais egoísta que seja o homem, existem princípios evidentes em sua natureza que o fazem se interessar pela sorte e pela felicidade dos outros”.

A Bondade Humana é Natural ou Cultural?

O debate sobre a origem da moralidade é antigo. Afinal, somos bons por natureza ou nos tornamos bons devido à cultura e à educação?

A visão pessimista: Freud e Hobbes

Sigmund Freud acreditava que as crianças nascem dominadas pelo “id”, seus impulsos primitivos, e apenas desenvolvem a consciência moral (superego) com o tempo.

Thomas Hobbes, por sua vez, via o homem como inerentemente mau: em seu estado natural, a vida seria “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta”. A moralidade, para ele, surge apenas como necessidade social.

A visão otimista: Rousseau e Jefferson

Jean-Jacques Rousseau discordava, argumentando que existe bondade intrínseca no ser humano, corrompida pela sociedade.

O ex-presidente americano Thomas Jefferson também defendeu que o “senso moral” é parte natural da humanidade, como um membro do corpo: “O senso moral faz parte do homem, tanto quanto um braço, sendo concedido a todos os seres humanos, em maior ou menor escala”.

Essa metáfora sugere que, assim como a força física pode ser moldada pelo treino, a moralidade pode ser cultivada — mas está lá desde o nascimento.

Psicologia Evolucionista: A Moral como Estratégia de Sobrevivência

Estudos recentes reforçam a hipótese de que a moralidade é inata e moldada pela evolução. A psicologia evolucionista propõe que as mentes humanas se desenvolveram para favorecer o convívio social, com vantagens adaptativas.

Por exemplo, para caçar um animal de grande porte, era mais eficiente colaborar em grupo. Assim, ajudar e compartilhar garantiam sobrevivência e transmissão genética.

A antropóloga Sarah Hardy destaca que o cuidado comunitário com crianças foi fundamental para o sucesso humano como espécie.

O primatólogo Frans de Waal também documentou comportamentos “morais” em chimpanzés, como empatia, solidariedade e justiça, indicando que o senso moral não seria exclusivo da cultura humana.

Experimentos com Bebês: Indícios de Moralidade Inata?

Pesquisadores da Universidade de Yale, liderados por Paul Bloom, criaram um experimento intrigante: apresentaram a bebês de 6 a 10 meses uma peça teatral com três personagens — um que ajuda, outro que atrapalha e um neutro.

Resultados:

• A maioria dos bebês escolheu o personagem que ajudava.
• Preferiam o personagem neutro ao “vilão”.

Esses achados sugerem que, mesmo antes de desenvolver linguagem ou consciência plena, os bebês já demonstram preferências morais — distinguindo comportamentos “bons” e “maus”.

Embora a definição do que é moral seja complexa, esses estudos apontam que as bases da moralidade podem emergir antes da socialização formal.

A Moralidade inclui Ajuda e Punição

Ser moral não é apenas ajudar, mas também desejar punição para transgressores. Diversos estudos mostram que crianças pequenas:

• Sentem angústia ao ver outros sofrendo.
• Compartilham espontaneamente alimentos e brinquedos.
• Consolam quem está triste.

Em um experimento clássico, Felix Warneken e Michael Tomasello demonstraram que crianças pequenas ajudam adultos em apuros sem serem solicitadas, sugerindo um impulso natural para a cooperação.

Limites da Bondade: A Moral é discriminatória?

Apesar das evidências de uma moralidade inata, ela possui limites evolutivos. Ajudar parentes ou quem retribui é vantajoso; ajudar completos estranhos, nem sempre.

Jared Diamond, em suas pesquisas com tribos da Papua-Nova Guiné, constatou que aventurar-se fora do próprio grupo era arriscado — quase um suicídio. Assim, a cooperação era restrita aos conhecidos.

Além disso, a “ansiedade de estranhos” é comum em crianças pequenas, que choram ao ver desconhecidos.

Mesmo assim, há padrões universais: crianças demonstram repulsa a injustiças, mesmo quando não são diretamente afetadas.

Diversidade Moral: O Caso da Anedota de Dário

O filósofo Heródoto narra a “Anedota de Dário”, que ilustra a diversidade cultural dos valores morais:

• O rei persa perguntou a gregos quanto aceitariam para comer os cadáveres de seus pais — recusaram veementemente.
• Depois, perguntou aos Callatiae, uma tribo indiana que praticava esse rito, quanto aceitariam para cremá-los — ficaram horrorizados com a sugestão.

Esse exemplo demonstra como os costumes moldam valores, e como cada cultura considera suas práticas as “melhores”.

A Moral muda com o Tempo: Casos Históricos

Embora existam valores morais universais, muitos são mutáveis.

Por exemplo:

• Em 1959, a maioria dos americanos rejeitava o casamento interracial.
• Em 2013, 87% já o aceitavam.
• Hoje, mais de 95% são favoráveis.

O mesmo ocorre com o casamento homoafetivo e outras questões éticas, mostrando como normas morais evoluem conforme transformações culturais e sociais.

Fundamentos Universais da Moralidade

Apesar da diversidade, algumas normas são praticamente universais:

• Repulsa pela violência arbitrária.
• Cumprimento de promessas.
• Tabu do incesto.
• Uso de vestimentas.
• Compartilhamento de recursos.
• Noções de obrigação familiar.

Três Perspectivas Éticas: Autonomia, Comunidade e Divindade

Segundo a psicologia moral contemporânea, os pensamentos éticos se organizam em três bases:

1. Ética da Autonomia: Direitos, igualdade, liberdade — típica das sociedades ocidentais.
2. Ética da Comunidade: Deveres, status, hierarquia — valores coletivistas.
3. Ética da Divindade: Pureza, santidade, pecado — comum em culturas religiosas.

Conservadores tendem a valorizar todas essas dimensões, dando peso à lealdade, autoridade e pureza, além de justiça e dano.

Liberais priorizam dano e justiça, minimizando os demais valores, embora nem sempre percebam que também são guiados por padrões de pureza, em outros contextos.

Entre Natureza e Cultura, a Complexidade da Moral Humana

A moralidade humana é um fenômeno complexo, resultado da interação entre predisposições naturais e influências culturais. Somos, ao mesmo tempo, criaturas dotadas de impulsos morais inatos e profundamente moldadas pelos valores e normas da sociedade em que vivemos.

O estudo da psicologia moral revela que razão e emoção coexistem na formação dos julgamentos éticos, e que, apesar das diferenças culturais, há elementos universais que nos unem enquanto espécie.

Perguntas Frequentes sobre Psicologia Moral, Filosofia e Moralidade

1. O que o estudo de Edward Thorndike revelou sobre a moralidade humana?

O estudo revelou que as pessoas tendem a exigir mais dinheiro para realizar ações consideradas imorais do que para tarefas apenas dolorosas ou desconfortáveis. Isso sugere que a moralidade é um aspecto fundamental da motivação humana, indicando que somos, em essência, criaturas morais.

2. A moralidade é inata ou aprendida?

Diversos estudos indicam que a moralidade possui componentes inatos, ou seja, nascemos com uma predisposição para certos comportamentos morais. Contudo, ela também é moldada pelo ambiente, cultura e experiência social. A Psicologia Evolucionista sugere que a moralidade evoluiu para facilitar a convivência em grupo e aumentar as chances de sobrevivência.

3. Qual é a visão de Freud e Hobbes sobre a natureza humana?

Freud acreditava que as crianças nascem regidas pelos instintos mais básicos, sendo a moralidade um produto do desenvolvimento psíquico e da influência social. Hobbes, por sua vez, defendia que o homem, em seu estado natural, é movido por interesses egoístas, e apenas a organização social civilizada conteria tais impulsos.

4. Existem evidências científicas de que bebês possuem senso moral?

Sim. Pesquisas conduzidas, por exemplo, na Universidade de Yale, mostraram que bebês preferem personagens que ajudam os outros e rejeitam aqueles que prejudicam. Isso sugere uma forma primitiva de julgamento moral e preferência pelo comportamento prosocial desde os primeiros meses de vida.

5. O que é a Psicologia Evolucionista e como ela explica a moralidade?

A Psicologia Evolucionista propõe que certos aspectos da moralidade são resultado da seleção natural, moldando nossos comportamentos para promover a cooperação, o altruísmo e o cuidado com membros do grupo, maximizando assim a sobrevivência e a reprodução ao longo da história evolutiva humana.

6. Outros animais também possuem senso moral?

Pesquisas do primatólogo Frans de Waal indicam que primatas, como chimpanzés, demonstram comportamentos que podem ser interpretados como rudimentos de moralidade, como empatia, ajuda mútua e reconciliação após conflitos. Isso sugere que a moralidade não é exclusivamente humana.

7. A moralidade é igual em todas as culturas?

Não. Embora existam algumas normas morais universais, como o tabu contra o incesto e a valorização da honestidade, os valores morais variam consideravelmente entre culturas. Um exemplo clássico é a anedota de Heródoto sobre os gregos e os Callatiae, que tinham práticas funerárias radicalmente opostas.

8. Como a moralidade muda ao longo do tempo?

A moralidade evolui conforme as transformações sociais, políticas e culturais. Por exemplo, enquanto em 1959 a maioria dos americanos se opunha ao casamento interracial, hoje a ampla maioria apoia. O mesmo ocorre com a aceitação do casamento homoafetivo, que aumentou significativamente nas últimas décadas.

9. Quais são as três principais perspectivas éticas descritas na psicologia moral?

• Ética da Autonomia: Foco nos direitos individuais, igualdade e liberdade.
• Ética da Comunidade: Foco nos deveres sociais, hierarquia e lealdade ao grupo.
• Ética da Divindade: Foco na pureza, santidade e prevenção do pecado.

10. Como o perfil político influencia as bases morais?

Estudos sugerem que pessoas conservadoras tendem a valorizar todas as bases morais, incluindo justiça, lealdade, respeito à autoridade e pureza. Já os liberais enfatizam principalmente os valores de justiça e combate ao dano, dando menos importância à lealdade grupal ou à pureza.

11. A moralidade humana tem limitações?

Sim. A tendência natural é sermos mais altruístas e colaborativos com aqueles que compartilham laços familiares ou que oferecem reciprocidade. A ajuda irrestrita a completos estranhos não é uma característica universal, sendo mais comum a existência de favoritismo em relação ao próprio grupo.

12. Como as crianças demonstram comportamento moral?

Desde muito pequenas, crianças compartilham recursos, confortam pessoas tristes e ajudam espontaneamente adultos em dificuldades, mesmo sem serem solicitadas. Esses comportamentos reforçam a ideia de que a empatia e a moralidade têm bases biológicas e se manifestam precocemente.

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