A morte de um ente querido é uma das experiências mais difíceis que podemos enfrentar. O luto é uma resposta natural à perda, uma jornada emocional única para cada pessoa. No entanto, para algumas pessoas, essa dor se torna persistente e incapacitante, dificultando a adaptação à nova realidade. Esse fenômeno é conhecido como luto complicado.
O que é o luto complicado?
O luto, em sua forma saudável, é um processo dinâmico. Com o tempo, a dor intensa e o choque iniciais vão sendo suavizados, permitindo que a pessoa enlutada reintegre a perda em sua vida e retome sua rotina com um novo significado. No entanto, no luto complicado, esse processo natural é interrompido. A dor permanece tão intensa e presente quanto nos primeiros dias após a perda, prejudicando o funcionamento diário e impedindo a adaptação à nova realidade.
Pessoas com luto complicado frequentemente experimentam um profundo desejo de estar com a pessoa falecida, pensamentos persistentes sobre a morte e dificuldade em aceitar a realidade da perda. Elas podem evitar qualquer situação que lembre o ente querido ou, ao contrário, manter objetos e rituais como se a pessoa ainda estivesse presente.
Luto complicado, depressão e TEPT: Qual a diferença?
Embora o luto complicado compartilhe características com a depressão e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), existem diferenças importantes entre essas condições.
• Na depressão, o humor deprimido é generalizado e não se limita à perda. Há uma visão negativa da vida como um todo, acompanhada por sentimentos de desesperança e baixa autoestima.
• No TEPT, os sintomas estão associados a um evento traumático específico, e a ansiedade está ligada ao medo da recorrência do perigo. No luto complicado, a ansiedade e o sofrimento estão centralizados na ausência do ente querido e na dificuldade de seguir em frente sem ele.
Quem está em risco?
Nem todas as pessoas enlutadas desenvolvem luto complicado. Alguns fatores podem aumentar o risco, como:
• Histórico de transtornos de ansiedade ou depressão;
• Perdas múltiplas ao longo da vida;
• Relacionamentos muito próximos e dependentes com o falecido;
• Falta de suporte social após a perda;
• Circunstâncias traumáticas da morte, como acidentes ou violência.
Além disso, pessoas que foram cuidadoras de um ente querido durante uma doença terminal podem apresentar maior dificuldade para lidar com a perda, especialmente se desenvolveram sintomas depressivos durante o processo de cuidados.
Como superar o luto complicado?
A boa notícia é que o luto complicado pode ser tratado. Uma abordagem eficaz é a Terapia para Luto Complicado, que combina técnicas da terapia cognitivo-comportamental (TCC) com estratégias específicas para facilitar a adaptação à perda.
Os principais objetivos do tratamento são:
1. Aceitar a realidade da perda, reduzindo a sensação de descrença persistente;
2. Diminuir a evitação, ajudando a pessoa a se expor gradualmente a situações e lembranças associadas ao ente querido;
3. Redefinir a relação com o falecido, encontrando maneiras saudáveis de manter uma conexão simbólica sem impedir o avanço na vida;
4. Restaurar o prazer e o propósito na vida, estimulando o envolvimento em atividades que tragam satisfação e um novo sentido à existência.
Luto e crescimento pessoal
Embora o luto complicado seja um desafio significativo, o processo de luto também pode ser uma oportunidade de crescimento. Muitas pessoas, ao atravessarem a dor, descobrem uma nova força interna e desenvolvem uma compreensão mais profunda sobre o valor da vida e dos relacionamentos.
Se você ou alguém que conhece está lidando com um luto intenso e persistente, buscar ajuda profissional pode ser um passo essencial para transformar essa dor em um processo de cura e reconstrução. O luto é um caminho difícil, mas ninguém precisa trilhá-lo sozinho.
Perder alguém que amamos é um dos maiores desafios da vida, e cada pessoa enfrenta essa experiência de maneira única. No entanto, quando a dor se torna um obstáculo permanente ao bem-estar, o luto complicado pode estar presente. Reconhecer os sinais, entender os fatores de risco e buscar tratamento são passos essenciais para restaurar a capacidade de viver plenamente, honrando a memória do ente querido sem ficar preso ao sofrimento.
Se você sente que a dor da perda continua intensa e inalterada, considere procurar ajuda. O luto não precisa ser um fardo eterno – com o apoio certo, é possível encontrar um novo caminho para a vida.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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