A moralidade e os costumes variam amplamente entre diferentes culturas e ao longo do tempo, mas há certos padrões universais que permeiam todas as sociedades humanas. A forma como pensamos sobre certo e errado é profundamente influenciada por nossos costumes, crenças e emoções, levando a um interessante debate entre razão e intuição na tomada de decisões morais.
O Poder dos Costumes
Desde a antiguidade, pensadores refletem sobre como os valores morais se diferem entre povos e épocas. Heródoto, o historiador grego, narrou uma anedota sobre o rei persa Dario, que perguntou a gregos e a uma tribo indiana chamada Callatiae sobre suas práticas funerárias. Enquanto os gregos consideravam impensável comer a carne de seus pais falecidos, os Callatiae viam a cremação como algo igualmente impensável. Essa história ilustra como os costumes moldam nossas concepções de certo e errado.
Mesmo hoje, muitos acreditam que as crenças e práticas de sua própria cultura são as melhores. No entanto, a história mostra que os valores morais podem mudar. Por exemplo, em 1959, a maioria dos americanos rejeitava o casamento interracial, mas, em 2013, 87% já o aprovavam. O mesmo fenômeno pode ser observado na aceitação do casamento homoafetivo.
Morais Universais
Apesar da diversidade cultural, há princípios morais compartilhados por praticamente todas as sociedades:
• Repúdio à violência arbitrária
• Cumprimento de promessas
• Pudor sexual
• Importância do vestuário
• Obrigação de compartilhar
• Tabu do incesto
• Noção de obrigações familiares
Esses valores sugerem que, além das diferenças culturais, há elementos básicos que moldam o comportamento humano em todas as sociedades.
Os quadros do Pensamento Moral
O psicólogo Jonathan Haidt propôs um modelo que sistematiza os fundamentos morais em três grandes categorias:
1. Ética da Autonomia – Valoriza os direitos individuais, igualdade e liberdade.
2. Ética da Comunidade – Baseia-se em deveres, hierarquia e lealdade ao grupo.
3. Ética da Divindade – Relacionada a pureza, pecado e santidade.
Haidt subdividiu esses conceitos em cinco bases morais:
• Valorização do dano e justiça (Ética da Autonomia)
• Lealdade ao grupo e respeito à autoridade (Ética da Comunidade)
• Pureza (Ética da Divindade)
Segundo ele, pessoas conservadoras tendem a considerar todos esses valores morais, enquanto liberais priorizam dano e justiça. No entanto, mesmo os liberais são guiados pela noção de pureza, ainda que de forma inconsciente.
O conflito entre Emoção e Razão
Muitas vezes, sentimos que algo é moralmente errado, mesmo sem conseguir justificar racionalmente. Experimentos psicológicos mostram que nosso julgamento moral é guiado tanto por emoções quanto por lógica.
Exemplos clássicos incluem dilemas morais, como:
1. Incesto consensual entre irmãos – Se ambos são adultos e tomam precauções, é moralmente errado?
2. Comer o próprio cachorro após sua morte acidental – A prática é errada ou apenas emocionalmente repulsiva?
3. Usar a bandeira nacional como pano de limpeza em segredo – Isso prejudica alguém ou apenas desafia símbolos culturais?
A sensação de repulsa diante dessas situações revela o fenômeno do assombro moral – um sentimento de que algo é errado sem uma justificativa racional clara.
O papel do Nojo na Moralidade
O nojo é uma emoção universal, associada a substâncias como fezes, urina, sangue e carne apodrecida. A psicologia evolucionista sugere que essa aversão se desenvolveu como um mecanismo para evitar doenças e contaminações. No entanto, essa emoção também influencia crenças morais.
Estudos indicam que pessoas com maior sensibilidade ao nojo tendem a ter atitudes mais negativas em relação a certos grupos sociais, como homossexuais. Filósofos como Martha Nussbaum apontam que, historicamente, a repulsa foi usada para marginalizar grupos como judeus, mulheres e pessoas de castas mais baixas.
Razão vs. Emoção na Moralidade
O dilema do bondinho, estudado por Josh Greene, ilustra o embate entre razão e emoção. Quando pedimos a alguém que resolva um dilema moral em que precisa puxar uma alavanca para salvar cinco pessoas e sacrificar uma, a parte racional do cérebro é ativada. No entanto, quando a decisão envolve empurrar fisicamente uma pessoa para a morte, as áreas emocionais também entram em jogo.
Filósofos como David Hume argumentam que a razão é subordinada às emoções: “A razão é, e apenas deve ser, escrava das paixões.” Adam Smith complementa que, apesar do egoísmo humano, a razão também pode nos levar a agir de forma imparcial e ética.
A evolução da Moralidade
O psicólogo Steven Pinker argumenta que o mundo se tornou moralmente melhor. Antigamente, tortura, escravidão e discriminação eram amplamente aceitas, mas hoje são condenadas. Isso mostra que a racionalidade pode ser usada para estabelecer normas e leis que limitam nossos impulsos e tornam a sociedade mais justa.
A moralidade não é fixa. Ela evolui, influenciada tanto por fatores racionais quanto emocionais. Compreender essa dinâmica nos ajuda a refletir sobre nossos próprios julgamentos morais e a construir sociedades mais justas e empáticas.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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