A relação terapêutica é um dos pilares fundamentais para o sucesso de qualquer abordagem psicoterapêutica, e nas Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCCs) não é diferente. Muito além da técnica e do conhecimento teórico, o vínculo entre terapeuta e paciente influencia diretamente os resultados do tratamento.
Diante disso, este artigo abordará a importância do automonitoramento do terapeuta, do feedback na relação terapêutica e da colaboração do paciente, além de discutir como as características e atitudes do terapeuta impactam no sucesso da terapia.
Automonitoramento do Terapeuta: Reflexão e consciência emocional
Um terapeuta eficaz precisa estar atento não apenas às reações do paciente, mas também às suas próprias respostas emocionais dentro da sessão. Isso é particularmente relevante em situações de contratransferência, onde as emoções do profissional podem interferir na condução da terapia.
Por exemplo, se um paciente muda repentinamente de uma postura relaxada para uma fechada e defensiva, isso comunica uma alteração emocional importante. O terapeuta deve se perguntar:
• O que passou na minha cabeça nesse momento?
• Como posso ajudar o paciente a acessar esse conteúdo cognitivo?
Reconhecer e nomear essas mudanças permite que o terapeuta explore com o paciente suas experiências emocionais, promovendo um maior autoconhecimento.
Feedback: A chave para uma relação terapêutica ativa
O feedback é um dos elementos mais importantes dentro da relação terapêutica. Ele não apenas ajuda o paciente a refletir sobre sua experiência na terapia, mas também permite que o terapeuta ajuste suas intervenções para garantir um tratamento mais eficaz.
Perguntas que podem ser utilizadas para obter feedback incluem:
• Como você está se sentindo aqui e agora?
• O que achou da nossa sessão de hoje?
Além disso, feedbacks negativos não devem ser encarados como algo ruim, mas sim como um indicativo de que o paciente ainda acredita na relação terapêutica e deseja que ela funcione. A aceitação de críticas e a disposição para refletir sobre possíveis falhas são fundamentais para o crescimento do terapeuta.
Outro aspecto relevante é a análise de comportamentos do paciente, como faltas frequentes ou interrupções abruptas no tratamento. Muitas vezes, esses comportamentos não representam apenas resistência, mas também manifestações da própria psicopatologia. Nesses casos, o terapeuta deve investigar:
• O que significa essa ausência para o paciente?
• Há um padrão que se repete em outras áreas da vida dele?
Essas informações podem ser valiosas para desenvolver estratégias que ajudem o paciente a lidar com dificuldades emocionais e interpessoais.
Colaboração na Relação Terapêutica: Como engajar o paciente?
A motivação do paciente é um fator essencial para o sucesso da terapia. No entanto, algumas dificuldades podem surgir no processo terapêutico, como:
• Baixa motivação para a terapia, especialmente quando há melhora inicial e desengajamento posterior.
• Falta de confiança na autoridade do terapeuta, levando o paciente a questionar ou comparar com outros profissionais.
• Vergonha ou culpa, que podem dificultar a exposição de certos temas (como uso de substâncias ou dificuldades financeiras).
• Medo da rejeição ou do fracasso, impedindo o paciente de se abrir verdadeiramente na terapia.
Nesses casos, o terapeuta precisa estar atento para criar um ambiente seguro, onde o paciente se sinta confortável para compartilhar suas dificuldades sem medo de julgamento.
Carl Rogers (1957) destacou que um vínculo terapêutico forte depende da empatia, congruência e aceitação incondicional do paciente. Além disso, estudos mostram que as características do terapeuta têm um impacto até oito vezes maior nos resultados da terapia do que a abordagem teórica utilizada.
O papel do Terapeuta: Quem é o profissional ideal?
A grande questão que surge é: existe um perfil de terapeuta ideal?
Pesquisas indicam que não há um único perfil que funcione para todos os pacientes. Em vez disso, o que importa é a compatibilidade entre terapeuta e paciente, além da capacidade do profissional de construir e manter uma forte aliança terapêutica.
Entre as características desejáveis em um terapeuta, destacam-se:
• Flexibilidade para adaptar-se às necessidades do paciente.
• Experiência e conhecimento técnico.
• Empatia e respeito.
• Capacidade de estimular a expressão de sentimentos, reconhecer erros e pedir desculpas quando necessário.
Além disso, um bom terapeuta deve ser genuíno, saber manejar a contratransferência e estar disposto a reparar rupturas na relação terapêutica sempre que necessário.
Construindo uma relação terapêutica sólida
Para que a terapia seja eficaz, é essencial criar um setting terapêutico adequado, que funcione como um espaço simbólico e emocional seguro para o paciente.
A psicoterapia é um encontro humano, mas com natureza profissional, exigindo ética, sigilo e competência técnica por parte do terapeuta. Algumas estratégias importantes incluem:
• Trabalhar a genuinidade dentro da relação terapêutica.
• Relacionar os temas trazidos pelo paciente com a demanda principal da terapia.
• Empatizar, sintonizar e, quando necessário, confrontar de forma empática.
• Utilizar feedbacks para reforçar os aprendizados da sessão.
Um aspecto importante é a autorrevelação do terapeuta. Quando feita de forma ética e terapêutica, pode ajudar o paciente a se sentir menos sozinho em seu sofrimento, reduzindo sentimentos de vergonha e culpa. No entanto, é fundamental que essa autorrevelação não desvie o foco do paciente e sempre tenha um propósito terapêutico.
Gerenciando os desafios da Relação Terapêutica
Relações terapêuticas fortes também passam por desafios e frustrações. O terapeuta deve estar preparado para momentos de tensão e saber lidar com os limites da relação profissional. Isso inclui aspectos como:
• Respeito ao contrato terapêutico (incluindo horários e pagamentos).
• Manutenção da postura ética e profissional.
• Reconhecimento de falhas e disponibilidade para reparação.
Frustrações fazem parte de qualquer relacionamento humano, e a psicoterapia não é exceção. O terapeuta precisa estar preparado para esses desafios, garantindo que o processo terapêutico continue sendo um espaço seguro e produtivo para o paciente.
A relação terapêutica nas TCCs é um dos principais fatores que determinam o sucesso da terapia. O terapeuta deve estar atento ao seu próprio funcionamento, aberto ao feedback e comprometido com a construção de um vínculo sólido e seguro.
Cada paciente é único, e não há uma abordagem única que funcione para todos. A flexibilidade, a empatia e a capacidade de adaptação do terapeuta são essenciais para criar uma experiência terapêutica significativa e transformadora.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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