A relação entre cognição e comportamento é um dos temas centrais da Psicologia Cognitivo-Comportamental (TCC). Essa abordagem, fundamentada nas ciências cognitivas e no behaviorismo, busca compreender como nossos pensamentos influenciam emoções e ações, moldando a maneira como interagimos com o mundo. A partir dos modelos desenvolvidos por filósofos estoicos, behavioristas clássicos e teóricos cognitivistas, a TCC se consolidou como um método eficaz baseado em evidências para tratar diversas psicopatologias.
Cognição e a Construção da Personalidade
A personalidade humana é construída a partir da interação entre fatores biológicos (temperamento) e fatores ambientais (experiências de vida). Essa interação molda a forma como processamos informações e aprendemos ao longo da vida. Dois conceitos fundamentais na biologia ajudam a entender esse desenvolvimento:
• Filogenia: Refere-se à história evolutiva de uma espécie e suas características herdadas dos ancestrais.
• Ontogenia: Diz respeito ao desenvolvimento individual de uma pessoa, moldado por experiências, reforços e punições ao longo da vida.
Dentro da Psicologia Cognitiva, os conhecimentos adquiridos são armazenados de duas formas principais:
• Conhecimento Declarativo: Relacionado às crenças e regras mentais que estruturam nossa visão de mundo. Disfunções nesse tipo de conhecimento são comuns em transtornos como a depressão.
• Conhecimento Procedural: Responsável por guiar a execução de ações e comportamentos. Muitas vezes está envolvido em quadros de ansiedade.
A partir desses conhecimentos, formamos esquemas mentais que influenciam nossos padrões emocionais e comportamentais. Esses esquemas podem ser disfuncionais, levando a distorções cognitivas que reforçam crenças negativas sobre si mesmo e o mundo.
A Influência do Comportamentalismo na Aprendizagem
O behaviorismo foi um dos primeiros modelos científicos a explicar a aprendizagem humana por meio de processos de condicionamento. Ivan Pavlov demonstrou o condicionamento clássico, no qual associações entre estímulos podem gerar respostas automáticas. John Watson ampliou esse conceito para a Psicologia, sugerindo que emoções também são aprendidas por meio da associação de estímulos, como evidenciado no famoso experimento do “Pequeno Albert”.
B. F. Skinner, por sua vez, introduziu o conceito de condicionamento operante, no qual comportamentos são moldados por suas consequências. Comportamentos reforçados tendem a se repetir, enquanto aqueles punidos diminuem de frequência. O reforço pode ser:
• Positivo: Quando algo agradável é acrescentado ao ambiente (exemplo: elogios após um bom desempenho).
• Negativo: Quando algo aversivo é removido (exemplo: alívio de uma dor após tomar um remédio).
Já Albert Bandura trouxe a ideia do aprendizado social, destacando que muitos comportamentos são adquiridos pela observação de modelos. Sua teoria do condicionamento vicário mostra que aprendemos ao observar as consequências das ações dos outros, o que explica como padrões culturais e sociais são transmitidos.
Ansiedade e os Mecanismos de Evitação
Os modelos comportamentais da ansiedade explicam que esse transtorno é mantido pelo condicionamento dos dois fatores, proposto por Mowrer:
1. Condicionamento clássico: O medo é aprendido por meio da associação de um estímulo neutro a uma experiência negativa.
2. Condicionamento operante: O comportamento de esquiva (evitação) impede que a pessoa confronte seus medos, reforçando a ansiedade a longo prazo.
Para tratar esses quadros, técnicas como a dessensibilização sistemática e a exposição gradual são amplamente utilizadas. Elas permitem que o indivíduo reavalie seus medos, modificando suas crenças e reações emocionais.
Terapia Cognitiva e a Modificação dos Pensamentos
Aaron Beck revolucionou a Psicologia ao propor que transtornos emocionais, como a depressão e a ansiedade, estão diretamente relacionados a distorções cognitivas, que são erros no processamento da informação. Ele identificou a Tríade Cognitiva da Depressão, onde o indivíduo desenvolve uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro.
Albert Ellis, outro pioneiro da TCC, desenvolveu o Modelo ABC, que explica como eventos ativadores (A) influenciam nossas crenças (B), resultando em consequências emocionais e comportamentais (C). Isso demonstra que não são os eventos em si que determinam nossas reações, mas sim a interpretação que damos a eles.
A Terceira Onda da Terapia Cognitivo-Comportamental
A partir dos anos 1990, as terapias cognitivo-comportamentais passaram a incorporar abordagens mais amplas, integrando conceitos da Gestalt-terapia, Mindfulness e Teoria do Apego. Essas abordagens enfatizam a aceitação, a compaixão e a flexibilidade psicológica.
Um conceito essencial dessa abordagem é o determinismo recíproco, proposto por Bandura, que sugere que comportamento, cognição e ambiente se influenciam mutuamente. Isso significa que modificar pensamentos pode levar a mudanças comportamentais, e vice-versa.
A relação entre cognição e comportamento é complexa, mas profundamente explorada pelas Terapias Cognitivo-Comportamentais. A capacidade de monitorar e modificar pensamentos permite que os indivíduos desenvolvam estratégias mais adaptativas para lidar com desafios emocionais. Com o avanço das neurociências e das abordagens integrativas, a Psicologia continua a evoluir, proporcionando tratamentos cada vez mais eficazes para diversas condições psicológicas.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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