Quando os exames dizem “nada” e o corpo diz “tudo”
Ao longo dos anos atendendo como psicólogo especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental, uma frase se repete com frequência no consultório: “Meus exames dão normais, mas eu não estou bem.”
Geralmente essa frase vem acompanhada de uma longa história de idas a médicos, emergências, especialistas, exames de sangue, tomografias, ressonâncias e avaliações clínicas que não apontam alterações significativas. Ainda assim, o corpo continua doendo. Falta ar. O peito aperta. O estômago queima. A fadiga paralisa. O medo se instala.
Esses pacientes não estão inventando sintomas. Não estão exagerando. Não estão “fazendo drama”. O sofrimento é real — e profundamente angustiantes.
É justamente nesse ponto que entram os transtornos somatoformes, atualmente chamados de transtornos de sintomas somáticos, um tema ainda cercado de estigma, desinformação e interpretações simplistas. Muitos chegam até mim depois de ouvir frases como “isso é ansiedade” ou “isso é psicológico”, como se isso invalidasse a dor.
Neste artigo, quero explicar de forma clara, científica e humana:
• O que são os transtornos somatoformes.
• Por que os sintomas físicos são reais mesmo quando os exames estão normais.
• Como o cérebro, o sistema nervoso e as emoções participam desse processo.
• E como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ajudar no tratamento.
Se você sente que seu corpo está sempre em alerta, este texto é para você.
O que são transtornos somatoformes e sintomas somáticos?
Transtornos somatoformes, atualmente denominados Transtornos de Sintomas Somáticos, são condições clínicas caracterizadas pela presença de sintomas físicos persistentes e angustiantes, que não podem ser totalmente explicados por uma condição médica identificável — ou cuja explicação médica não justifica a intensidade do sofrimento vivido.
É fundamental destacar algo desde já: os sintomas são reais, a dor é real e o sofrimento é real.
O que diferencia esses transtornos não é a “ausência de doença”, mas a forma como o corpo e o cérebro estão processando sinais internos, emoções, estresse e ameaças percebidas.
Na prática clínica, os sintomas somáticos mais comuns incluem:
• Dores musculares e articulares difusas.
• Cefaleias frequentes.
• Sensação de aperto no peito ou falta de ar.
• Palpitações.
• Tonturas.
• Fadiga intensa.
• Sintomas gastrointestinais recorrentes.
Esses sintomas físicos sem causa médica clara costumam gerar grande ansiedade, levando a ciclos de preocupação, hipervigilância corporal e busca constante por segurança médica.
Sintomas somáticos são “coisa da cabeça”?
Essa é uma das perguntas mais importantes — e também uma das mais mal respondidas.
Existe um erro histórico na separação rígida entre corpo e mente. A neurociência moderna já demonstrou amplamente que toda experiência corporal é mediada pelo cérebro. Isso inclui dor, fadiga, desconforto e sensações internas.
Quando alguém sente dor, o cérebro está envolvido.
Quando alguém sente ansiedade, o corpo responde.
Quando alguém vive sob estresse crônico, o sistema nervoso se adapta.
Dizer que um sintoma é “psicológico” não significa que ele seja imaginário. Significa que processos emocionais, cognitivos e neurofisiológicos estão participando ativamente da experiência corporal.
Lembro-me de uma paciente que chegou até mim após diversas idas ao pronto-socorro por falta de ar. Os exames pulmonares estavam normais. O coração saudável. Ainda assim, o sintoma persistia. O que descobrimos ao longo do processo terapêutico foi um sistema nervoso em constante estado de ameaça, reagindo como se o perigo fosse iminente.
O corpo dela estava tentando protegê-la.
Principais sintomas somáticos: Como o corpo expressa o sofrimento emocional
Os sintomas somáticos variam muito de pessoa para pessoa, mas alguns padrões são frequentes na prática clínica.
Sintomas físicos mais comuns
• Dores crônicas (costas, pescoço, ombros, mandíbula).
• Cefaleias tensionais.
• Sintomas gastrointestinais (náuseas, refluxo, diarreia funcional).
• Falta de ar ou aperto torácico.
• Palpitações e taquicardia.
• Fadiga persistente.
• Sensação de fraqueza ou desmaio.
Muitos pacientes relatam uma sensação constante de que “algo está errado”, mesmo sem conseguir identificar exatamente o quê.
Essa experiência costuma gerar pensamentos automáticos como:
• “Tenho algo grave e não descobriram”.
• “Meu corpo está falhando”.
• “Vou passar mal a qualquer momento”.
Esses pensamentos alimentam ainda mais a ativação fisiológica, fechando um ciclo difícil de interromper sem ajuda adequada.
Diferença entre sintomas somáticos, ansiedade e depressão
Embora os sintomas somáticos, a ansiedade e a depressão frequentemente apareçam juntos na prática clínica, eles não representam a mesma condição — ainda que compartilhem mecanismos psicológicos e neurofisiológicos semelhantes.
Nos quadros de ansiedade, o elemento central é a hiperativação do sistema nervoso. O corpo permanece em constante estado de alerta, como se estivesse diante de uma ameaça iminente. Isso se manifesta por sintomas como taquicardia, falta de ar, tensão muscular, sudorese, tremores e sensação de perigo constante. A mente tende a antecipar cenários negativos, mantendo o organismo preparado para reagir, mesmo quando não há um risco real imediato.
Na depressão, o padrão predominante é diferente. Em vez de hiperativação, observa-se uma lentificação global do funcionamento físico e mental. São comuns a fadiga intensa, dores corporais difusas, sensação de peso no corpo, diminuição de energia, alterações no sono e no apetite, além de perda de interesse e prazer. O corpo parece funcionar em “modo econômico”, refletindo o esgotamento emocional característico desse transtorno.
Já nos transtornos de sintomas somáticos, o foco principal está na experiência e na interpretação dos sintomas físicos. A pessoa sofre intensamente com sensações corporais reais, que se tornam centrais na sua vida cotidiana. Há uma preocupação persistente com o corpo, medo de doenças graves, hipervigilância às sensações internas e grande impacto funcional, mesmo quando os exames médicos não indicam alterações significativas. O sofrimento não se deve apenas à presença do sintoma, mas à forma como ele é percebido, interpretado e vivenciado.
Na prática clínica, é comum que esses quadros se sobreponham. Um paciente pode apresentar sintomas somáticos associados à ansiedade, à depressão ou a ambos. Por isso, o tratamento eficaz precisa considerar essa complexidade, evitando explicações simplistas e abordagens fragmentadas.
O modelo da Terapia Cognitivo-Comportamental para sintomas somáticos
Na Terapia Cognitivo-Comportamental, entendemos os sintomas somáticos como resultado da interação entre pensamentos, emoções, sensações corporais e comportamentos.
Funciona, muitas vezes, assim:
1. Uma sensação corporal inicial surge (ex.: leve aperto no peito).
2. O pensamento automático interpreta essa sensação como perigosa.
3. A ansiedade aumenta.
4. O sistema nervoso se ativa ainda mais.
5. O sintoma se intensifica.
6. O foco no corpo aumenta.
Esse ciclo pode se repetir inúmeras vezes ao dia.
Um exemplo comum:
“Senti uma tontura → vou desmaiar → ansiedade intensa → mais tontura.”
O corpo responde exatamente como foi programado para responder diante de uma ameaça percebida.
O papel do sistema nervoso e da neurociência nos sintomas somáticos
Grande parte dos sintomas somáticos está relacionada ao funcionamento do sistema nervoso autônomo, especialmente quando ele permanece por longos períodos em modo de alerta.
Quando vivemos sob estresse crônico, pressão emocional, conflitos internos não elaborados ou medo constante, o organismo passa a funcionar como se estivesse sempre em perigo.
Isso envolve:
• Ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).
• Liberação constante de cortisol.
• Tensão muscular persistente.
• Alterações gastrointestinais.
• Hipersensibilidade à dor.
A boa notícia é que o cérebro é plástico. Isso significa que novos padrões de resposta podem ser aprendidos — e reaprendidos.
Transtornos somatoformes não significam que “é tudo psicológico”
Uma das maiores dores desses pacientes é não se sentirem acreditados.
Muitos chegam até mim depois de ouvir que “não têm nada”, quando na verdade têm muito: sofrimento, medo, exaustão emocional e um corpo sobrecarregado.
A psicoterapia não substitui a avaliação médica — ela complementa. O trabalho terapêutico começa quando entendemos que o corpo fala quando algo não está sendo simbolizado emocionalmente.
Tratamento dos transtornos somatoformes com Terapia Cognitivo-Comportamental
O tratamento baseado em evidências envolve várias frentes:
Psicoeducação
Compreender o funcionamento do corpo reduz o medo e a catastrofização.
Reestruturação cognitiva
Identificar e modificar pensamentos automáticos disfuncionais.
Redução da hipervigilância corporal
Diminuir o monitoramento constante das sensações internas.
Exposição interoceptiva
Aprender que sensações não são perigosas.
Regulação emocional
Desenvolver novas formas de lidar com emoções difíceis.
Na psicoterapia online, trabalhamos passo a passo para que o corpo volte a ser um lugar seguro.
Quando o corpo fala, vale a pena escutar com cuidado — e com ciência.
Os sintomas somáticos não são fraqueza. São sinais de um sistema que tentou se proteger por tempo demais.
Com o acompanhamento adequado, é possível reconstruir essa relação com o corpo.
Psicoterapia online para sintomas somáticos
Se você se identificou com este texto, saiba que não está sozinho(a). Sintomas somáticos têm tratamento — e você não precisa continuar vivendo refém do próprio corpo.
Atendo pacientes com sintomas somáticos por meio da Terapia Cognitivo-Comportamental, em sessões de psicoterapia online, com foco na redução do sofrimento físico e emocional, na recuperação da autonomia e na reconexão com o próprio corpo.
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Perguntas Frequentes sobre Sintomas Somáticos
1. Sintomas somáticos são reais?
Sim. Os sintomas são reais e causam sofrimento legítimo, mesmo quando não há uma causa médica identificável.
2. Transtornos somatoformes têm cura?
Muitos pacientes apresentam melhora significativa ou remissão dos sintomas com tratamento adequado.
3. Psicoterapia ajuda mesmo quando a dor é física?
Sim. A psicoterapia atua nos mecanismos que mantêm a dor e o sofrimento.
4. Preciso parar de ir ao médico?
Não. O acompanhamento médico é importante, mas a psicoterapia ajuda a reduzir a dependência excessiva de exames.
5. Quanto tempo dura o tratamento psicológico de sintomas somáticos?
Depende da gravidade, da duração dos sintomas e do envolvimento no processo terapêutico.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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