Em meus atendimentos é comum ouvir relatos que começam de forma muito parecida. A pessoa chega, senta, respira fundo e diz algo como: “Eu quero mudar. Eu quero muito mudar. Mas, por algum motivo, eu não consigo.”
Isso acontece em diferentes idades, perfis, histórias de vida e contextos. Pode ser alguém extremamente competente no trabalho, mas que trava em decisões importantes; alguém que repete o mesmo padrão afetivo doloroso; alguém que tem grandes metas conscientemente… mas resultados completamente opostos na prática.
E sempre que escuto essas frases, eu aciono uma pergunta interna que guia meu raciocínio clínico:
“O que, lá no fundo, essa pessoa acredita que merece — e o que ela aprendeu que é seguro?”
Porque, com o tempo, observei um fenômeno profundo e recorrente na minha prática clínica em Terapia Cognitivo-Comportamental: as pessoas não avançam em direção ao que desejam conscientemente; elas avançam em direção ao que suas crenças basais dizem que é seguro.
E é justamente nesse ponto — invisível, silencioso e poderosamente determinante — que entra o conceito de intenção subjetiva.
O que é Intenção Subjetiva?
Intenção subjetiva é o conjunto de crenças basais, esquemas e pressupostos inconscientes que direcionam automaticamente suas escolhas, emoções e comportamentos — mesmo quando seus objetivos conscientes apontam para outro caminho. Em outras palavras, é o que realmente conduz sua vida, mesmo sem você perceber.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), chamamos esses elementos invisíveis de crenças centrais: ideias sobre si, sobre os outros e sobre o mundo que se consolidaram tão profundamente que você as confunde com fatos.
Em Terapia do Esquema, chamamos de esquemas iniciais desadaptativos: padrões emocionais e cognitivos que surgem na infância/adolescência e organizam sua percepção adulta.
No cérebro, elas funcionam como predições automáticas, ativadas pela rede de modo padrão (DMN), sempre buscando segurança emocional, mesmo que à custa da sua felicidade.
Como a Intenção Subjetiva se forma?
Pouca gente percebe, mas nossas decisões mais importantes não surgem de pensamentos conscientes. Elas emergem de uma espécie de “base emocional” construída ao longo de toda a vida.
1. Experiências emocionais precoces
Situações de crítica, abandono, punição, invalidação emocional ou excesso de exigência criam “verdades internas”.
2. Aprendizagem por repetição
O cérebro reforça padrões familiares, mesmo negativos.
3. Vieses cognitivos
O viés de confirmação faz você enxergar apenas provas de que sua crença é verdadeira.
4. Narrativas familiares e sociais
“O mundo é difícil”, “homem não chora”, “não se pode confiar em ninguém”, “se eu errar, perco tudo”.
5. Identidade e pertencimento
A criança internaliza crenças para sobreviver ao seu contexto. O adulto continua usando as mesmas crenças para sobreviver à vida.
Exemplo clínico:
Atendi um paciente que travava diante de elogios. Isso o sabotava na carreira.
Após algumas sessões, surgiu a crença basal: “Se eu me destacar, vou ser punido.”
Intenção subjetiva real:
Manter-se invisível = manter-se seguro.
Resultado:
Ele não avançava, mesmo querendo muito crescer.
Como as Crenças Basais Sabotam Suas Metas
Aqui está o ponto principal: Se a sua meta consciente entra em conflito com sua intenção subjetiva, você sempre perde.
Seu objetivo diz: “Quero um relacionamento saudável.”
Sua crença diz: “Eu não sou digno de amor.”
Resultado: Você se aproxima de pessoas emocionais indisponíveis.
Seu objetivo diz: “Quero crescer profissionalmente.”
Sua crença diz: “O sucesso vai me expor e isso é perigoso.”
Resultado: Procrastinação, autossabotagem, ansiedade.
Seu objetivo diz: “Quero emagrecer / terminar meu TCC / estudar mais.”
Sua crença diz: “Eu não consigo.” ou “Eu não mereço.”
Resultado: Tentativas intensas seguidas de recaídas.
Como Identificar Sua Intenção Subjetiva: Exercícios práticos
Aqui estão ferramentas da TCC para descobrir suas crenças profundas:
1. Observe padrões repetidos
Onde você tropeça sempre nos mesmos lugares?
2. Note situações que você “quer”, mas evita
Quando o corpo diz “não” para algo que a mente quer “sim”, existe uma crença ali.
3. Identifique pensamentos automáticos recorrentes
“Não vai dar certo”, “vão me rejeitar”, “não sou capaz”.
4. Pergunte-se: “O que isso está tentando me proteger?”
Toda sabotagem tem uma intenção positiva oculta.
5. Técnica da Seta Descendente (TCC)
Pergunte “E se isso for verdade, o que significa sobre mim?” repetidamente.
Isso revela a crença central.
6. Técnica dos 5 porquês emocional
Perguntar “por quê?” até chegar no núcleo emocional.
7. Registro de pensamentos
Ferramenta base da TCC para mapear gatilhos e significados.
Como Mudar Crenças Basais com TCC: Processo completo
A mudança real acontece no encontro entre compreensão cognitiva e experiência emocional.
1. Psicoeducação
Entender o que está acontecendo já reduz culpa e aumenta clareza.
2. Monitoramento de pensamentos
Registrar pensamentos automáticos é essencial.
3. Reestruturação cognitiva profunda
Desmontar crenças antigas com:
• Evidências contra
• Alternativas realistas
• Experimentos comportamentais
• Questionamento socrático
4. Testes comportamentais planejados
Mudar exige ação guiada. Pequenas situações planejadas constroem novas experiências emocionais.
5. Exposição + regulação emocional
O cérebro aprende pelo sentir. Expor-se gradualmente a experiências novas cria novas rotas neuronais.
6. Construa novas crenças ativamente
“Sou capaz.”
“Eu posso errar e mesmo assim ser amado.”
“Eu mereço ser cuidado.”
7. Manutenção e prevenção de recaídas
A crença antiga ainda existe. Mas agora você aprende a não segui-la.
Exemplos da Prática Clínica
Caso 1 — “Quero ser amado, mas fujo de quem me ama.”
Crença: “Amor machuca.”
Intenção subjetiva: “Proteger-se do abandono.”
Resultados: vínculos instáveis, rupturas, insegurança.
Caso 2 — “Quero crescer profissionalmente, mas me saboto.”
Crença: “O sucesso me coloca em risco.”
Intenção subjetiva: “Ficar pequeno = ficar seguro.”
Resultados: procrastinação, medo de visibilidade.
Caso 3 — “Quero estabilidade, mas sempre escolho caos.”
Crença: “A calma é estranha e perigosa.”
Intenção subjetiva: “O caos é previsível.”
Resultados: relações conturbadas, impulsividade.
Caso 4 — “Quero controlar a ansiedade, mas evito tudo.”
Crença: “Ansiedade é insuportável.”
Intenção subjetiva: “Evitar sofrimento.”
Resultado: círculo vicioso da evitação.
Como saber se sua Intenção Subjetiva está bloqueando sua vida?
Sinais comuns:
• Você sente que “anda em círculos”.
• Procrastina tarefas importantes repetidamente.
• Escolhe relações parecidas demais.
• Sente culpa por necessidades próprias.
• Funciona bem para os outros, mas não para si mesmo.
• Vive entre explosões de motivação e abandono rápido.
• Sente que merece menos do que deseja.
• Tem medo irracional de ser visto ou reconhecido.
Intenção Subjetiva e Neurociência: O que seu cérebro esconde de você
A neurociência oferece uma visão poderosa:
1. O cérebro prioriza mais segurança do que felicidade
A amígdala dispara primeiro; o raciocínio vem depois.
2. A DMN (Default Mode Network) reforça narrativas internas
Ela repete crenças antigas como se fossem verdades absolutas.
3. O cérebro usa memórias emocionais para prever o futuro
Predições automáticas moldam suas ações antes de você “pensar”.
4. Familiaridade significa segurança para o cérebro
Até padrões ruins são mantidos porque são previsíveis.
5. Para mudar, você precisa experienciar o novo, não apenas entendê-lo
Por isso TCC usa exposição, testes comportamentais e prática ativa.
Como alinhar suas Crenças Basais ao que você quer conscientemente
Aqui está um método em 7 etapas:
1. Nomeie a crença.
2. Identifique a intenção positiva por trás dela.
3. Valide a função de proteção que ela teve.
4. Atualize a crença com informações reais.
5. Faça testes comportamentais pequenos.
6. Reforce novas experiências emocionais.
7. Consolide as mudanças no cotidiano.
Pronto(a) para descobrir sua intenção subjetiva e desbloquear seus resultados?
Se você percebe que:
• Repete padrões.
• Se sabota.
• Vive um conflito entre o que quer e o que consegue fazer.
• Sente que existe “algo invisível” te impedindo.
Isso não é fraqueza.
É coerência com uma intenção subjetiva que ainda não foi atualizada.
Na psicoterapia cognitivo-comportamental, eu te acompanho passo a passo para identificar, reorganizar e transformar essas crenças profundas com técnica, segurança e profundidade.
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Perguntas Frequentes sobre Intenção Subjetiva e Psicologia
1. O que é intenção subjetiva na psicologia?
É o conjunto de crenças basais e esquemas inconscientes que orientam automaticamente decisões e comportamentos, mesmo quando seu objetivo consciente é outro.
2. Como identificar minhas crenças basais sem terapia?
Observe padrões repetidos, note onde se sabota, use a técnica da seta descendente e escreva seus pensamentos automáticos para revelar significados ocultos.
3. Por que repito padrões mesmo sabendo que são ruins?
Porque suas crenças profundas priorizam segurança emocional, não felicidade. O cérebro mantém o familiar, mesmo que seja prejudicial.
4. A intenção subjetiva pode ser mudada com TCC?
Sim. A TCC usa reestruturação cognitiva, testes comportamentais e técnicas de exposição para atualizar crenças basais e criar novos padrões emocionais.
5. Quanto tempo leva para mudar crenças nucleares?
Depende da história emocional, intensidade dos esquemas e prática semanal. Em média, mudanças significativas começam entre 8 e 20 semanas de trabalho estruturado.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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