Você já se sentiu ansioso sem motivo aparente, apenas por estar perto de alguém que parecia tenso, preocupado ou em alerta?
Talvez tenha notado o coração acelerar, a respiração encurtar e um leve aperto no peito — como se o corpo respondesse a uma emoção que não era exatamente sua. Isso acontece mais do que imaginamos, e há uma explicação científica: a ansiedade pode, sim, ser “contagiosa”.
Como psicólogo, tenho observado esse fenômeno em muitos pacientes. Alguns me dizem:
“Parece que absorvo a energia das pessoas.”
“Quando alguém está nervoso, eu fico inquieto também.”
“Sinto o que o outro sente, e isso me cansa demais.”
Essas falas refletem algo que a ciência chama de contágio emocional — um processo automático e inconsciente pelo qual “pegamos” os estados emocionais de quem está à nossa volta.
Mas o contágio emocional não é, por si só, algo ruim. Ele é parte da nossa natureza empática. O problema começa quando essa sintonia se torna fusão emocional — quando deixamos de perceber o que é nosso e o que pertence ao outro.
Neste artigo, vou explicar por que a ansiedade é contagiosa, como identificar se você está absorvendo emoções alheias, e principalmente, como se proteger sem se tornar frio ou indiferente.
Meu objetivo é ajudá-lo(a) a compreender esse fenômeno à luz da Psicologia Contemporânea e da Terapia Cognitivo-Comportamental, oferecendo estratégias práticas que aplico diariamente em consultório.
O que significa dizer que a Ansiedade é “Contagiosa”?
Contágio emocional: Quando o corpo espelha o outro
O termo contágio emocional descreve a tendência humana de reproduzir automaticamente expressões, tons de voz e posturas corporais de quem convivemos.
Pesquisas em neurociência mostram que esse efeito ocorre graças aos neurônios-espelho — células cerebrais que se ativam tanto quando executamos uma ação quanto quando observamos alguém executá-la.
Em outras palavras, nosso cérebro simula a experiência do outro.
É como se, por um instante, vivêssemos o estado emocional alheio dentro de nós mesmos.
Isso tem um propósito evolutivo: compreender o outro, promover cooperação, criar vínculo. Mas, em ambientes dominados pela tensão e pela preocupação, essa sintonia emocional pode nos colocar em modo de alerta constante, mesmo sem uma ameaça real.
Um exemplo clínico
Certa vez, atendi uma paciente que se sentia ansiosa todos os dias ao chegar no trabalho. Ela dizia que, antes mesmo de abrir o computador, já sentia o corpo tenso. Quando exploramos a situação, percebemos que sua líder era uma pessoa extremamente preocupada, falava rápido, gesticulava demais e transmitia um ar de urgência constante.
A paciente estava espelhando inconscientemente a ansiedade da chefe — não por escolha, mas por empatia automática.
A ansiedade não é um vírus, mas um estado mental e fisiológico que pode ser sintonizado. E quanto mais empático, sensível ou emocionalmente permeável alguém for, mais suscetível estará a absorver esse tipo de influência.
Por que absorvemos a Ansiedade dos Outros
Empatia saudável x Fusão emocional
Empatia é a capacidade de reconhecer e compreender os sentimentos alheios. Ela é fundamental para relacionamentos saudáveis. Mas há uma linha tênue entre sentir com o outro e sentir como o outro.
A empatia saudável permite compaixão e presença sem sobrecarga.
A fusão emocional, por outro lado, é como se perdêssemos nossas fronteiras psicológicas: as emoções do outro se misturam às nossas, e começamos a carregar o que não nos pertence.
Na prática clínica, vejo isso com frequência em pessoas com alto senso de responsabilidade afetiva. Um paciente me disse certa vez:
“Quando alguém sofre, sinto que é meu dever aliviar o sofrimento. Se não consigo, me sinto culpado.”
Essa dinâmica, embora movida por amor e boa intenção, frequentemente gera exaustão emocional e ansiedade secundária.
Esquemas e traços de vulnerabilidade
Determinados padrões cognitivos e emocionais tornam algumas pessoas mais vulneráveis ao contágio emocional da ansiedade.
Entre eles, destacam-se:
• Esquema de autossacrifício: a necessidade de cuidar e priorizar o outro em detrimento de si mesmo.
• Esquema de abandono: leva à vigilância constante do estado emocional alheio, com medo de rejeição.
• Necessidade de aprovação: faz com que a pessoa se molde às emoções do outro para evitar conflito.
Esses esquemas, estudados na Terapia do Esquema, criam um tipo de empatia hiperativa, que não distingue ajuda de fusão.
Sinais de que você está absorvendo a Ansiedade dos Outros
Como saber se a ansiedade é sua ou dos outros?
Essa é uma das perguntas mais comuns em consultório.
Costumo orientar meus pacientes a observar mudanças de humor situacionais, como:
• Você se sente ansioso apenas em determinados ambientes ou com certas pessoas.
• Seu humor muda rapidamente após conversas intensas.
• Sente o corpo tenso, mas não identifica um motivo pessoal.
• Percebe alívio emocional ao se afastar de alguém muito ansioso.
Esses são sinais de que o seu sistema nervoso está reagindo à energia emocional externa — não a um problema interno real.
Por que é tão difícil não se contagiar?
Porque somos seres sociais e neurobiologicamente sincronizados.
Desde bebês, aprendemos a regular nossas emoções através do outro.
Essa capacidade — chamada coregulação — é essencial para o desenvolvimento, mas quando adultos, precisamos aprender a autorregular, ou seja, a não depender da estabilidade emocional alheia.
Quando convivemos com pessoas cronicamente ansiosas, o cérebro aprende que o ambiente é imprevisível e ativa o sistema de alerta — mesmo quando estamos seguros.
Esse estado constante de vigilância pode levar à ansiedade vicária, um tipo de ansiedade adquirida por exposição prolongada ao sofrimento dos outros.
Estratégias Psicológicas para se proteger da Ansiedade Alheia
A boa notícia é que é possível se proteger sem se fechar emocionalmente.
A seguir, compartilho estratégias que ensino em sessões de terapia, adaptadas da TCC e da Terapia do Esquema.
1. Reconheça seus limites emocionais
O primeiro passo é perceber que você não é responsável pelas emoções alheias.
Empatia não é sinônimo de salvamento.
Repetir mentalmente frases como “isso não é meu” ou “posso compreender sem absorver” ajuda o cérebro a restabelecer fronteiras internas.
Se você tem dificuldade em fazer isso, a psicoterapia pode ajudar a desenvolver fronteiras emocionais mais saudáveis e a fortalecer sua identidade emocional.
2. Regule o corpo antes de reagir
A ansiedade se propaga através do corpo — respiração, tensão muscular, microexpressões.
Por isso, técnicas corporais são essenciais.
Pratique respiração diafragmática, grounding (sentir os pés no chão) e relaxamento muscular progressivo antes de responder a alguém em crise.
Em consultório, costumo dizer: “Respire antes de absorver”.
Esse pequeno intervalo interrompe o contágio.
3. Reestruture pensamentos automáticos
Na TCC, trabalhamos a ideia de que pensamentos distorcidos alimentam emoções desreguladas.
Ao pensar “Se ele está ansioso, algo deve estar errado”, seu cérebro ativa o modo de ameaça.
Substitua por pensamentos mais realistas:
“A ansiedade do outro não define a minha segurança.”
“Posso estar presente sem me perder.”
Essas reestruturações cognitivas quebram o ciclo de reatividade.
4. Use o “escudo cognitivo”
Uma técnica simbólica poderosa é imaginar uma barreira de luz ou vidro entre você e o outro.
Não se trata de afastamento emocional, mas de proteção energética e cognitiva.
Essa visualização ajuda a manter empatia com discernimento — sentir sem carregar.
5. Reduza a exposição a ambientes ansiosos
Nem sempre é possível evitar completamente pessoas ansiosas, mas é possível equilibrar.
Defina pausas, limite o tempo de conversas negativas e procure ambientes restauradores — natureza, silêncio, leitura, arte.
A mente precisa de espaço para se regular.
Se você sente que está constantemente em alerta por causa da ansiedade dos outros, talvez seja o momento de buscar psicoterapia para desenvolver recursos internos de autorregulação.
Como a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ajudar
A TCC e a regulação emocional
A Terapia Cognitivo-Comportamental é extremamente eficaz para lidar com ansiedade vicária.
Ela ajuda a identificar pensamentos de responsabilidade excessiva, culpa e necessidade de controle.
Ao questionar crenças como “preciso resolver o problema de todos”, abrimos espaço para o equilíbrio emocional.
Um exemplo real: uma paciente enfermeira dizia que, se demonstrasse nervosismo, seus pacientes perderiam confiança. Esse pensamento gerava enorme autocobrança e ansiedade.
Trabalhamos a aceitação da imperfeição e o autocuidado como parte do cuidado ao outro.
Resultado: menos tensão, mais autenticidade.
A Terapia do Esquema e a construção de fronteiras emocionais
Na Terapia do Esquema, focamos em curar padrões emocionais aprendidos na infância.
Pessoas que cresceram em lares emocionalmente caóticos, com pais ansiosos ou instáveis, tendem a “aprender” a sentir pelo outro.
A terapia ajuda a reconhecer esse padrão e substituí-lo por um modo adulto saudável, capaz de acolher o outro sem se dissolver.
Com o tempo, o paciente passa a responder com empatia consciente, e não com fusão automática.
A Ansiedade pode se espalhar — Mas a calma também
A verdade é que emoções são contagiosas em todas as direções.
Assim como podemos “pegar” a ansiedade dos outros, também podemos transmitir calma, segurança e estabilidade emocional.
Quando você aprende a regular suas próprias emoções, se torna uma presença que acalma em vez de amplificar o caos.
E isso não é apenas uma questão de autocontrole — é um ato de generosidade silenciosa.
Em meus atendimentos, percebo algo bonito: quando um paciente aprende a cuidar da própria mente, as pessoas ao redor naturalmente se transformam. A calma é contagiosa.
Se você sente que absorve a ansiedade dos outros e quer aprender a manter sua paz mesmo em ambientes turbulentos, a psicoterapia pode ajudá-lo(a) a construir essa serenidade de dentro para fora. Agende hoje mesmo a sua sessão online de avaliação.
Perguntas Frequentes sobre Ansiedade Contagiosa
1. É possível pegar ansiedade de outra pessoa?
Sim. A ansiedade pode ser transmitida por contágio emocional, um processo em que o cérebro espelha o estado emocional de quem está por perto, especialmente em pessoas empáticas.
2. Por que fico ansioso perto de pessoas tensas?
O corpo reage automaticamente a sinais de tensão — expressões faciais, tom de voz, postura. É uma resposta instintiva de empatia e vigilância.
3. Como não absorver a ansiedade dos outros?
Pratique autorregulação emocional: respiração, grounding, reestruturação cognitiva e definição de limites. A psicoterapia ajuda a fortalecer essas habilidades.
4. Pessoas empáticas são mais vulneráveis ao contágio emocional?
Sim. A empatia sem fronteiras pode se tornar fusão emocional. Aprender a equilibrar empatia com limites é essencial.
5. A calma também é contagiosa?
Sem dúvida. Emoções positivas também se propagam. Ao cultivar serenidade, você influencia positivamente quem está ao seu redor.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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