PUBLICAÇÕES NEUROFLUX

Condicionamento Vicário: O poder oculto de aprender observando

Artigo Publicado: 03/11/2025
Por Osvaldo Marchesi Junior, Psicólogo | CRP 06/186.890 – Terapia Cognitivo-Comportamental

Condicionamento Vicário - Psicologia - Osvaldo Marchesi Junior - NeuroFlux

Em uma das minhas primeiras sessões, um paciente me disse: ‘Doutor, eu fico ansioso só de ver alguém nervoso.

Essa frase me acompanhou por dias. Não se tratava apenas de empatia. Ele havia aprendido a sentir medo observando o medo dos outros — sem nunca ter passado pelo mesmo perigo. Esse é o poder sutil e profundo do condicionamento vicário.

Desde a infância, o cérebro humano é um espelho. Observamos, internalizamos e repetimos. O simples ato de ver alguém reagir — com medo, raiva, vergonha ou alegria — é suficiente para que o nosso sistema nervoso aprenda a associar situações, emoções e comportamentos.

Esse processo é conhecido como condicionamento vicário, e explica como boa parte dos nossos hábitos emocionais e comportamentais se formam sem experiência direta.

A ideia é simples, mas suas implicações são enormes: nós aprendemos observando. E essa aprendizagem molda não apenas o que fazemos, mas também o que sentimos — mesmo décadas depois.

O que é o condicionamento vicário?

Na psicologia, o condicionamento vicário é o processo de aprendizagem que ocorre ao observar o comportamento de outra pessoa e suas consequências.

O termo foi amplamente estudado por Albert Bandura, na Teoria da Aprendizagem Social, que revolucionou o entendimento sobre o comportamento humano.

De forma resumida, Bandura mostrou que:

• Não precisamos passar por uma experiência diretamente para aprender com ela.
• Podemos aprender observando como outras pessoas são recompensadas ou punidas por suas ações.
• Esse aprendizado pode ser emocional, cognitivo ou comportamental.

Por exemplo:

• Uma criança observa o irmão ser elogiado por tirar boas notas → aprende que estudar é valorizado.

• Um adulto vê um colega ser criticado ao expor vulnerabilidades → aprende a reprimir emoções.

• Um adolescente observa influenciadores sendo admirados por aparência → associa valor pessoal à imagem.

Em todos esses casos, há aprendizagem indireta, ou seja, vicária.

O cérebro registra o comportamento, as consequências e a emoção associada — e cria padrões automáticos.

Você já se perguntou quantos dos seus comportamentos atuais podem ser reflexos de algo que apenas observou — e não viveu diretamente?

Como o condicionamento vicário funciona no cérebro

O processo começa de forma silenciosa. Ao observarmos alguém agir ou expressar uma emoção, ativamos em nosso cérebro os mesmos circuitos neurais envolvidos na ação real.

Essas redes são conhecidas como sistema de neurônios-espelho — estruturas localizadas principalmente no córtex pré-motor e no lobo parietal inferior.

Esses neurônios foram descobertos em pesquisas com primatas e depois confirmados em humanos. Eles explicam por que:

• Sentimos empatia quando vemos alguém sofrer.
• Ficamos tensos ao assistir uma cena de perigo.
• Aprendemos habilidades motoras (como tocar um instrumento) observando alguém praticar.

Mas o processo não é apenas motor. O sistema límbico, especialmente a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal ventromedial, participa codificando o significado emocional daquilo que é observado.

Se a cena envolve medo, por exemplo, a amígdala registra o estímulo e ativa respostas fisiológicas — mesmo que o perigo não seja real.

Essa codificação emocional é o que transforma o condicionamento vicário em algo tão poderoso: o cérebro reage à observação como se estivesse vivendo a experiência.

Condicionamento clássico, operante e vicário — as diferenças

Existem três grandes formas de aprendizagem que explicam como adquirimos comportamentos e respostas emocionais: o condicionamento clássico, o condicionamento operante e o condicionamento vicário.

Embora todos envolvam a formação de associações, eles se diferenciam pela forma como o aprendizado acontece.

No condicionamento clássico, proposto por Ivan Pavlov, o aprendizado ocorre por associação entre estímulo e resposta.

É o caso dos cães de Pavlov, que começaram a salivar ao ouvir uma campainha porque associaram o som à chegada da comida.

Esse tipo de condicionamento explica muitas reações automáticas, como sentir medo ao ouvir um som que antes esteve ligado a uma experiência negativa.

O condicionamento operante, estudado por B. F. Skinner, baseia-se em reforços e punições que acontecem após um comportamento.

Se uma ação é seguida por uma consequência positiva, tende a se repetir; se é punida, tende a diminuir.

Por exemplo: uma criança que é elogiada ao guardar os brinquedos aprende a repetir o comportamento; se é repreendida ao gritar, aprende a evitá-lo.

O foco está nas consequências diretas da ação.

Já o condicionamento vicário, descrito por Albert Bandura na Teoria da Aprendizagem Social, é diferente: o indivíduo aprende observando as consequências que os outros recebem.

Não é necessário vivenciar a experiência — basta assistir alguém sendo recompensado ou punido.

O famoso “Experimento do Boneco Bobo”, de Bandura, demonstrou isso claramente: crianças que viram um adulto agir com agressividade contra um boneco reproduziram o mesmo comportamento depois, sem jamais terem sido incentivadas a fazê-lo.

Em resumo:

• No condicionamento clássico, aprendemos por associação direta.
• No condicionamento operante, aprendemos pelas consequências do nosso próprio comportamento.
• E no condicionamento vicário, aprendemos observando as experiências dos outros.

É essa última forma de aprendizagem — silenciosa e muitas vezes inconsciente — que mais influencia nossos comportamentos sociais, crenças e respostas emocionais no dia a dia.

Exemplos clínicos de condicionamento vicário

Ao longo da prática clínica, é comum perceber que muitos comportamentos emocionais disfuncionais são aprendidos por observação, não por vivência direta.

Abaixo, alguns exemplos comuns que costumo observar em consultório:

1. Quando a ansiedade é aprendida por observação

Uma paciente descrevia crises de ansiedade sempre que precisava sair sozinha.

Durante o processo terapêutico, percebemos que, quando criança, ela observava a mãe reagindo com medo diante de qualquer imprevisto — trânsito, pessoas desconhecidas, mudanças de rotina.

Ela aprendeu a sentir medo ao ver o medo da mãe.

Esse é um caso típico de condicionamento vicário da ansiedade.

2. Reações agressivas internalizadas

Um homem de 35 anos relatava dificuldade em lidar com frustrações e críticas.

Explorando sua história, percebemos que cresceu em um ambiente onde o pai reagia com gritos sempre que se sentia contrariado. Mesmo sem querer repetir o padrão, ele o reproduzia — porque o cérebro aprendeu que “raiva = forma de se proteger”.

Trata-se de reforço vicário, em que a agressividade foi observada como estratégia de sobrevivência.

3. Vicariância emocional e empatia excessiva

Uma adolescente apresentava crises de choro quando via colegas tristes. Não era apenas empatia: era um condicionamento vicário da tristeza.

Ela havia crescido vendo a mãe se sentir culpada por não conseguir “salvar” os outros, e aprendeu a associar o sofrimento alheio à sua própria responsabilidade.

Durante a terapia, costumo ajudar meus pacientes a perceberem quais emoções pertencem realmente a eles — e quais foram ‘emprestadas’ de alguém que observaram.

O impacto do condicionamento vicário na formação de crenças e esquemas

O condicionamento vicário não se limita a comportamentos. Ele molda crenças profundas sobre si mesmo, o mundo e os outros.

Essas crenças — ou esquemas cognitivos, como chamamos na Terapia do Esquema — formam a base da identidade emocional.

Por exemplo:

• Uma criança que vê repetidamente os pais se desvalorizando pode desenvolver o esquema de “não sou bom o suficiente”.

• Um adolescente que observa figuras de autoridade ridicularizando vulnerabilidades pode criar o esquema de “mostrar emoções é perigoso”.

• Um adulto que cresce vendo pessoas desistirem diante de dificuldades pode aprender “não adianta tentar”.

Essas crenças se tornam verdades internas e passam a guiar decisões, relacionamentos e autoestima. São condicionamentos invisíveis, mas profundamente enraizados.

Na TCC, um dos objetivos é justamente identificar essas aprendizagens vicárias inconscientes e substituí-las por interpretações mais realistas e funcionais.

Como o condicionamento vicário se integra à Terapia Cognitivo-Comportamental

Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), entendemos que a mente humana é moldada por aprendizagens passadas — algumas diretas, outras observacionais.

Ao identificar padrões vicários, o paciente passa a compreender de onde vêm suas reações automáticas.

As principais estratégias incluem:

• Psicoeducação: explicar o funcionamento do condicionamento vicário e sua relação com pensamentos automáticos.

• Monitoramento de crenças: identificar quais reações foram aprendidas por observação.

• Reestruturação cognitiva: desafiar e substituir crenças formadas a partir de modelos negativos.

• Experimentos comportamentais: criar novas experiências corretivas que ensinem o cérebro a reagir de forma diferente.

Esse trabalho é libertador, porque transforma a observação inconsciente em autoconsciência ativa.

Condicionamento vicário nas redes sociais: O novo espelho emocional

Vivemos em uma era em que o condicionamento vicário nunca foi tão intenso — e tão invisível.

Se antes aprendíamos observando nossos pais, colegas e professores, hoje aprendemos observando milhares de pessoas todos os dias, através das telas.

Nas redes sociais, o cérebro é constantemente exposto a comportamentos, emoções e recompensas. Likes, comentários e visualizações funcionam como reforços sociais públicos, moldando inconscientemente o que consideramos desejável, aceitável ou vergonhoso.

Em consultório, ouço com frequência frases como: ‘Sinto que não estou à altura dos outros’, ou ‘Minha vida parece pequena perto das pessoas que sigo.’

Essas comparações são o produto de um condicionamento vicário digital — uma aprendizagem emocional mediada pela observação de vidas idealizadas.

O novo condicionamento vicário digital

O mesmo mecanismo que nos permitia aprender habilidades úteis observando outros, agora se volta contra nós, reforçando padrões de comparação, ansiedade e inadequação.

As redes sociais se transformaram em laboratórios de modelagem emocional, onde a exposição constante à aprovação ou rejeição alheia reconfigura a forma como nos percebemos.

O problema é que o cérebro não diferencia o real do observado: se vemos alguém ser criticado por expressar vulnerabilidade, aprendemos a conter emoções; se vemos outro ser aplaudido por produtividade extrema, aprendemos a não descansar. É assim que o condicionamento vicário moderno se infiltra nas crenças mais profundas sobre valor pessoal, sucesso e amor.

Como romper padrões aprendidos por observação

O primeiro passo para quebrar o ciclo é tomar consciência de que o condicionamento vicário está atuando.

Muitos comportamentos e emoções que parecem “nossos” são, na verdade, aprendizagens emocionais herdadas.

Na terapia cognitivo-comportamental, costumo trabalhar com os pacientes para mapear esses aprendizados invisíveis. A partir disso, aplicamos estratégias concretas para reprogramar respostas automáticas.

1. Psicoeducação e metaconsciência

Compreender que o cérebro aprende por observação é libertador.

Quando o paciente entende que parte de suas reações foi modelada por contextos anteriores, ele se distancia da culpa e se aproxima da autocompaixão.

É a diferença entre pensar “sou fraco” e perceber “aprendi a reagir assim porque esse era o modelo que eu tinha”.

A consciência é o primeiro antídoto contra o automatismo.

2. Identificação de crenças observadas

Muitas crenças centrais são produtos diretos da observação.

Durante a terapia, costumo propor o exercício:

De quem você aprendeu a pensar assim?

Essa simples pergunta ajuda a rastrear a origem vicária de ideias como:

• “Mostrar emoções é sinal de fraqueza.
• “Para ser amado, preciso agradar.
• “Se eu errar, serei rejeitado.

Ao nomear essas influências, o paciente começa a separar o que é dele do que foi aprendido, recuperando a autoria de sua própria narrativa emocional.

3. Reestruturação cognitiva e experimentos comportamentais

Uma vez identificadas as crenças vicárias, trabalhamos na reestruturação cognitiva — substituindo interpretações automáticas por visões mais equilibradas.

Mas o cérebro não muda apenas com insight; ele precisa de novas experiências corretivas.

É aí que entram os experimentos comportamentais, nos quais o paciente vivencia situações que contradizem as antigas associações.

Exemplo:

Se alguém aprendeu a reprimir vulnerabilidade por ter visto vergonha ser punida, pode experimentar expressar emoção em um ambiente seguro — e observar que é aceito.

Esse tipo de vivência “regrava” o condicionamento vicário, substituindo medo por segurança.

4. Prática de autocompaixão

Segundo Kristin Neff, a autocompaixão é tratar a si mesmo com a mesma bondade que se ofereceria a um amigo em sofrimento.

Na prática clínica, esse conceito é essencial para descondicionar respostas baseadas em autocrítica aprendida.

Pessoas que cresceram observando julgamentos constantes internalizam um modelo de “autoaversão vicária”.

Aprendem a se tratar com o mesmo rigor que observaram nos outros.

A autocompaixão, nesse sentido, é uma forma de condicionamento corretivo: aprender a responder ao erro com cuidado, não com punição.

5. Exposição emocional gradual

O condicionamento vicário frequentemente gera evitação experiencial — a tendência de fugir de emoções aprendidas como perigosas.

Na terapia, trabalhamos com exposição emocional gradual, permitindo que o paciente se aproxime, de maneira segura, daquilo que foi condicionado a evitar.

Exemplo clínico:

Uma paciente que aprendeu a evitar o choro por ver a mãe ser ridicularizada ao se emocionar passou a treinar a expressão de tristeza em ambiente terapêutico.

Com o tempo, descobriu que ser vulnerável não a tornava fraca — apenas humana.

Esse processo não apenas dessensibiliza o medo, mas reensina o cérebro a confiar em novas associações.

Reprogramar o observador interno

No fundo, o condicionamento vicário não é apenas sobre o que observamos, mas sobre como continuamos observando a nós mesmos.

Se aprendemos a nos vigiar com julgamento, podemos reaprender a nos observar com curiosidade e empatia.

Esse é o cerne da reprogramação emocional: transformar o olhar crítico em olhar compassivo.

A cura começa quando deixamos de reproduzir o olhar dos outros — e começamos a enxergar com o nosso próprio.

A liberdade de desaprender o que não é seu

O cérebro humano é incrivelmente plástico. Tudo o que foi aprendido por observação pode ser ressignificado pela consciência.

Através da terapia, da autocompaixão e de novas experiências, é possível romper os condicionamentos vicários e construir respostas mais autênticas.

Muitas vezes, o sofrimento não vem do que vivemos, mas do que aprendemos a temer ao observar outros sofrerem.

Quando o paciente compreende isso, algo se abre: ele deixa de ser um espelho do passado e começa a ser o autor da própria história.

Se você percebe que carrega medos, reações ou padrões que parecem não ter origem clara, talvez sejam aprendizagens vicárias inconscientes.

O processo terapêutico pode ajudá-lo(a) a reconhecer, compreender e transformar esses padrões.

Agende uma sessão online comigo e comece a observar a si mesmo com novos olhos — com mais consciência, gentileza e liberdade emocional.

Perguntas Frequentes sobre Condicionamento Vicário

1. O que é condicionamento vicário na psicologia?

É o processo pelo qual aprendemos comportamentos e emoções observando as ações e consequências vividas por outras pessoas, sem precisar passar pela experiência diretamente.

2. Qual a diferença entre condicionamento vicário e modelagem?

A modelagem é uma forma específica de condicionamento vicário em que o indivíduo imita o comportamento observado. No condicionamento vicário, a aprendizagem pode ocorrer mesmo sem imitação, apenas pela observação.

3. Como o condicionamento vicário afeta a saúde mental?

Ele influencia crenças, emoções e comportamentos, podendo contribuir para ansiedade, baixa autoestima e padrões relacionais disfuncionais quando os modelos observados são negativos.

4. O que é um exemplo de condicionamento vicário na infância?

Uma criança que vê um dos pais reagir com pânico a insetos pode desenvolver o mesmo medo, mesmo sem nunca ter sido ameaçada por um inseto — aprendendo o medo por observação.

5. É possível reverter o condicionamento vicário?

Sim. A Terapia Cognitivo-Comportamental e abordagens baseadas em autocompaixão ajudam a identificar padrões aprendidos, reestruturar crenças e criar novas experiências emocionais corretivas.

eBook TCC sem Misterio - Osvaldo Marchesi Junior

Baixe grátis o eBook Terapia Cognitivo-Comportamental sem Mistério

Entender sua mente é o primeiro passo para mudar sua vida. Veja como a TCC pode ajudar você a transformar sua forma de viver.

CLIQUE AQUI PARA BAIXAR O LIVRO

SENTE QUE PREOCUPAÇÕES E QUESTÕES EMOCIONAIS ESTÃO TOMANDO CONTA DA SUA VIDA?

ALGUMAS DORES NÃO CICATRIZAM SOZINHAS. IGNORAR ESSES SINAIS PODE TORNAR TUDO MAIS DIFÍCIL.
A boa notícia é que você não precisa passar por isso, sem apoio especializado.
A Psicoterapia pode ajudá-lo a entender suas emoções, encontrar clareza e construir um caminho mais leve e equilibrado.

Psicólogo - Dr. Osvaldo Marchesi Junior - CRP - 06/186.890 - NeuroFlux Psicologia Direcionada

DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890

Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.

Whatsapp: +55 11 96628-5460

SAIBA MAIS

ENDEREÇO

Zona Sul - Aclimação
São Paulo - SP


CONTATO

Tel / WhatsApp:
+55 (11) 96628-5460
E-mail:
contato@neuroflux.com.br

HORÁRIOS
Segunda à Sexta - 9 às 20h
Sábado - 9 às 19h
(Fuso-Horário de Brasília)


Dr. Osvaldo Marchesi Junior
Psicólogo - CRP - 06/186.890

Hipnoterapeuta

WhatsApp