Nos últimos anos, como psicólogo clínico, observei que muitos pacientes relatam a mesma sensação: sabem racionalmente que não estão em perigo, mas o corpo reage como se houvesse uma ameaça iminente. O coração dispara, a respiração se torna curta, os músculos tensionam e uma onda de medo domina completamente o organismo. Essa é a manifestação física do medo, uma resposta automática do sistema nervoso que muitas vezes supera a lógica da mente.
Durante minhas sessões, percebo que essa desconexão entre mente e corpo gera frustração e sensação de perda de controle. Foi nesse contexto que comecei a integrar o reset vagal avançado à minha prática clínica. Trata-se de uma técnica simples, mas profundamente eficaz, que permite “desligar” o alarme do corpo e restaurar a sensação de segurança interna. Neste artigo, vou explicar como o medo domina o corpo, como o nervo vago regula essa resposta e como aplicar a técnica passo a passo para desativar o medo.
O que acontece no corpo quando o medo é ativado
O medo é uma resposta automática essencial à sobrevivência. Quando o cérebro percebe uma ameaça — real ou imaginária — a amígdala ativa o sistema simpático, liberando adrenalina e cortisol, preparando o corpo para lutar, fugir ou congelar. Esse mecanismo, conhecido como resposta de estresse agudo, é altamente adaptativo em situações de perigo real. Contudo, quando ativado de forma desproporcional, ele pode dominar a mente e impedir ações racionais.
Além da ativação simpática, há uma inibição do córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e pelo raciocínio, e do córtex cingulado, que modula a resposta emocional. É por isso que, mesmo sabendo que não há perigo, muitas pessoas sentem o medo “tomando conta”. Em sessões, pacientes relatam aperto no peito, tremores e sensação de paralisia, sintomas típicos da hiperativação autonômica.
Segundo Stephen Porges, a teoria polivagal explica que o sistema nervoso possui diferentes caminhos de resposta: o ramo ventral vagal, que promove conexão e calma, e o ramo dorsal vagal, que ativa congelamento ou colapso fisiológico. Compreender esses mecanismos é fundamental para aplicar técnicas de regulação, como o reset vagal.
O papel do nervo vago na regulação do medo
O nervo vago é o principal condutor do sistema parassimpático, responsável por desacelerar o coração, relaxar os músculos e enviar ao cérebro a mensagem de que estamos seguros. Quando ativado corretamente, ele contrabalança a hiperatividade simpática, criando espaço para que o córtex pré-frontal retome o controle.
O reset vagal avançado utiliza estímulos fisiológicos diretos para ativar o nervo vago de maneira prática e segura. É uma abordagem bottom-up, que parte do corpo para restaurar o equilíbrio emocional. Como explica Daniel Siegel, nossa “janela de tolerância” — a capacidade de processar emoções sem ser dominado por elas — é ampliada quando o sistema nervoso está regulado, permitindo que o medo seja sentido sem ser incapacitante.
Reset Vagal Avançado: Como funciona a técnica
O reset vagal avançado é composto por três elementos principais que combinam respiração, isolamento sensorial e vibração sonora:
1. Expiração total
Ao esvaziar completamente os pulmões, ativamos barorreceptores e receptores parassimpáticos, reduzindo a frequência cardíaca e preparando o corpo para o relaxamento.
2. Tampar os ouvidos
O isolamento auditivo reduz estímulos externos e ativa o ramo auricular do nervo vago, promovendo um efeito calmante imediato. Esta etapa ajuda o corpo a focar internamente e amplifica a percepção da vibração sonora.
3. Produzir um som grave “OM”
A vibração ressonante gerada pela emissão do som atua nos nervos laríngeos e vagais, sinalizando ao cérebro que a ameaça acabou. A vibração também regula a frequência cardíaca e induz sensação de presença e aterramento.
Essa sequência, quando aplicada corretamente, permite que o corpo “desligue” o alarme fisiológico do medo, criando um espaço de calma e clareza mental.
Como aplico o reset vagal avançado na prática clínica
Durante uma sessão, oriento o paciente a expirar lentamente até esvaziar os pulmões, tampar suavemente os ouvidos e emitir o som grave “OM”. Em poucos segundos, a frequência cardíaca começa a reduzir, a respiração se estabiliza e a tensão muscular diminui. É surpreendente observar como, mesmo em pacientes altamente ansiosos, o medo perde força diante dessa resposta corporal.
Em minha experiência, integrar o reset vagal à Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é especialmente eficaz. O paciente não apenas sente o corpo relaxar, mas também consegue reconhecer os pensamentos automáticos e crenças que amplificam o medo, criando um ciclo positivo de autorregulação.
Quando o medo domina: O cérebro no modo sobrevivência
Quando o medo assume o corpo, a amígdala sequestra o cérebro, bloqueando a função do córtex pré-frontal. É o famoso “modo sobrevivência”, em que reagimos por impulso e não por raciocínio. Durante crises intensas, pacientes podem sentir paralisia, desorientação ou dificuldade de falar.
O reset vagal atua justamente nesse ponto: restaura a comunicação entre corpo e cérebro, permitindo que a mente racional retome o controle. Em sessões, vejo pacientes perceberem que o medo não desaparece magicamente, mas se torna gerenciável e regulável.
Como praticar o reset vagal no dia a dia
Mesmo fora do consultório, é possível aplicar a técnica para lidar com o medo intenso:
1. Inspire fundo, preenchendo os pulmões.
2. Expire lentamente até esvaziar completamente os pulmões.
3. Tampe os ouvidos com leve pressão.
4. Emita o som grave “OM”, percebendo a vibração no peito e garganta.
5. Repita por 2–3 ciclos, observando a sensação de relaxamento.
Essa prática ajuda a interromper o ciclo de medo antes que ele domine totalmente o corpo, criando maior sensação de segurança interna e presença.
O que a ciência diz sobre o reset vagal e a calma fisiológica
Estudos recentes sobre estimulação vagal não invasiva e respiração controlada mostram que técnicas que ativam o nervo vago podem:
• Aumentar a variabilidade da frequência cardíaca (HRV);
• Reduzir níveis de cortisol;
• Melhorar resposta emocional e regulação do medo.
Esses estudos reforçam a eficácia do reset vagal avançado como ferramenta concreta para desativar a resposta fisiológica do medo.
Aprender a desligar o alarme do medo
O medo é uma resposta essencial à sobrevivência, mas quando domina o corpo, impede ação e clareza mental, torna-se desadaptativo. O reset vagal avançado permite ensinar o corpo a se acalmar, restaurando o equilíbrio entre mente e organismo. Em minha prática, vejo pacientes recuperando o controle emocional e ganhando consciência corporal, aprendendo que sentir medo não significa ser dominado por ele.
Se o medo tem tomado conta do seu corpo, o reset vagal pode ser o primeiro passo para aprender a se regular. Na terapia, podemos integrar essa técnica de forma segura, criando um caminho sólido para reconectar corpo e mente.
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Perguntas Frequentes sobre o Reset Vagal e o Medo
1. O que é o reset vagal e para que serve?
O reset vagal é uma técnica que ativa o nervo vago, regulando o sistema nervoso e permitindo que o corpo retorne a um estado de calma. Serve para reduzir a reação fisiológica intensa do medo, ansiedade ou estresse, promovendo presença e clareza mental.
2. Por que o som “OM” ajuda a acalmar o medo?
O som grave produz vibrações que estimulam mecanicamente os nervos laríngeos e vagais. Essa estimulação envia sinais ao cérebro de que o corpo está seguro, reduzindo a ativação simpática e promovendo relaxamento imediato.
3. Quantas vezes por dia posso fazer o reset vagal?
Pode ser praticado várias vezes ao dia, sempre que sentir o corpo dominado pelo medo. Recomenda-se realizar ciclos curtos de 2–3 repetições, observando a sensação corporal sem forçar a expiração ou a vibração.
4. O reset vagal substitui a psicoterapia?
Não. Ele é uma ferramenta de autorregulação que complementa a terapia. Em sessões de psicoterapia, é possível integrar o reset vagal para melhorar a regulação emocional e acelerar o aprendizado de estratégias cognitivas.
5. Por que mesmo sabendo que não há perigo, ainda sinto medo?
O medo é gerado por respostas automáticas do sistema nervoso, muitas vezes associadas a experiências passadas ou traumas. O córtex pré-frontal pode entender que não há ameaça, mas o corpo reage primeiro. O reset vagal atua nesse nível fisiológico para restabelecer a calma.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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