A compreensão da saúde mental na infância e adolescência evoluiu de forma significativa ao longo dos séculos. De um tempo em que crianças eram vistas apenas como adultos em miniatura, até a atualidade, com a consolidação de especialidades como a Psicologia do Desenvolvimento e a Terapia Cognitivo-Comportamental Infantil.
Neste artigo, você vai entender como a visão sobre a infância foi transformada, conhecer os marcos históricos da psicologia infantil e descobrir as principais contribuições teóricas que moldaram o atendimento psicológico voltado para crianças e adolescentes.
História da Saúde Mental Infantil: Das raízes históricas ao reconhecimento da infância
O conceito de infância como uma fase única do desenvolvimento humano começou a ser delineado apenas a partir do século XIV. Antes disso, crianças eram percebidas como pequenos adultos imperfeitos, consideradas tábulas rasas, sem qualquer representação artística ou científica significativa.
A Pediatria, enquanto especialidade médica, surgiu somente no século XVIII. Antes disso, não havia registros sistematizados sobre psicopatologias infantis, sendo as alterações comportamentais atribuídas a fatores hereditários e desvios de caráter. Tais comportamentos eram tratados com métodos punitivos e não como manifestações de doenças psicológicas.
Infância e exclusão social: O impacto das concepções históricas
Crianças com déficits intelectuais ou comportamentais graves eram excluídas do convívio social e enviadas a instituições afastadas dos centros urbanos. Esse isolamento reforçou práticas eugênicas, como as propostas por Francis Galton, que defendiam o controle genético para evitar a transmissão de características consideradas indesejadas.
Na medicina da época, poucos registros consideravam a saúde psicológica das crianças. As preocupações restringiam-se a problemas físicos, como convulsões, distúrbios do sono e gagueira.
Primeiros olhares para a Psicopatologia Infantil
A partir de meados do século XIX, algumas obras começaram a abordar o comportamento infantil. Em 1845, Heinrich Hoffmann publicou o livro ilustrado “Struwwelpeter”, apresentando personagens que representavam comportamentos indesejados, reforçando a ideia de que a punição era o método mais eficaz de correção.
Somente anos depois, com o livro “A mente de uma criança”, de William Preyer (1890), passou-se a observar a infância sob a ótica do desenvolvimento, descrevendo os primeiros anos de vida como fundamentais para a formação psicológica.
Negação inicial das Psicopatologias na Infância: Resistência à mudança
Apesar desses avanços, teóricos como Henry Maudsley, em 1895, ainda sustentavam a ideia equivocada de que crianças não poderiam sofrer de problemas psicológicos, acreditando que seus cérebros eram imaturos demais para “enlouquecer”. Hoje, sabemos que a imaturidade neurológica é justamente um fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), transtornos de ansiedade e de humor.
A origem do sistema de justiça juvenil e a atenção à saúde mental
Em 1889, em Chicago (EUA), o caso do primeiro adolescente preso por violar a lei impulsionou a criação de um sistema específico para lidar com menores infratores. Esse marco contribuiu para a construção das bases da saúde mental voltada à infância e adolescência.
O século XX: A infância como centro das atenções na Psicologia
Somente no século XX, considerado o “século da criança”, consolidou-se a ideia da infância como uma etapa central na sociedade. Diversos movimentos, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, contribuíram para esse avanço, como a emergência da Psicanálise, os estudos genéticos e as abordagens comportamentais.
A Psicologia do Desenvolvimento passou a investigar questões como:
• A prevalência de quadros depressivos na adolescência
• O aumento da criminalidade juvenil
• A busca por novas experiências e sensações
• A importância da socialização em grupos
A influência da Psicanálise: Novas perspectivas sobre a Infância
Sigmund Freud foi pioneiro ao formular a teoria do desenvolvimento psicossexual, introduzindo a ideia de que experiências na infância moldam a personalidade adulta. Posteriormente, Melanie Klein e Anna Freud ampliaram essas concepções, com ênfase na relação mãe-bebê, nos aspectos inatos do caráter e nos efeitos da privação dos cuidados na primeira infância.
Winnicott, na década de 1940, enriqueceu a compreensão do desenvolvimento emocional infantil com os conceitos de:
• Mãe suficientemente boa
• Continência emocional
• Estímulo orientado a objetos
Paralelamente, Jean Piaget trouxe a teoria construtivista, defendendo que o conhecimento é construído ativamente pela criança, passando por quatro estágios de desenvolvimento cognitivo.
Primeiros usos de psicofármacos e o surgimento da psicofarmacologia infantil
Em 1937, o médico Charles Bradley observou que crianças agitadas se acalmavam com a administração de benzedrina, um inalante com propriedades estimulantes. Apesar dessa descoberta, a psicofarmacologia infantil só começou a ganhar força na década de 1950, com a introdução da Ritalina.
Até então, as intervenções psiquiátricas limitavam-se, em casos graves, à eletroconvulsoterapia (ECT), que, embora tenha sido posteriormente estigmatizada como técnica de tortura, hoje é reconhecida como eficaz em casos específicos, inclusive em crianças e adolescentes refratários a outros tratamentos.
Multidisciplinaridade e os primeiros centros de atendimento infantil
Simultaneamente, surgiram as primeiras clínicas multidisciplinares, inicialmente em Viena, e, depois, espalhando-se pela Europa e Estados Unidos, ainda fortemente influenciadas pela Psicanálise, que responsabilizava os pais pelo comportamento disfuncional dos filhos.
Teoria do Apego: A importância dos vínculos na infância
Na década de 1970, John Bowlby revolucionou o campo com a Teoria do Apego, demonstrando que crianças possuem uma predisposição inata para estabelecer vínculos afetivos com seus cuidadores — elemento essencial para sua sobrevivência e desenvolvimento saudável.
Bowlby identificou três tipos de apego:
• Ambivalente: instabilidade do cuidador gera ansiedade e dificuldade de consolo.
• Evitativo: afastamento emocional do cuidador promove indiferença e invalidação afetiva.
• Desorganizado: maus-tratos e negligência produzem desconfiança e confusão emocional.
Avanços Diagnósticos: CID e DSM na Infância e Adolescência
A necessidade de intervenções baseadas em evidências motivou a criação de sistemas diagnósticos, como a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
Em 1968, o DSM-II passou a incluir seções específicas sobre comportamentos infantis, como ansiedade e agressividade. Com o DSM-III, na década de 1980, houve um salto qualitativo, com a formalização de critérios diagnósticos para transtornos mentais na infância, além do reconhecimento dos estressores psicossociais como fatores importantes no adoecimento mental infantil.
As Terapias Comportamentais e Cognitivas na Infância: Revolução nos tratamentos
A partir dos estudos de Pavlov e Skinner, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ganhou destaque, principalmente no manejo de crianças com comportamentos disfuncionais.
Na década de 1960, Albert Bandura introduziu a teoria da aprendizagem social, enfatizando o papel da modelagem, ou seja, o comportamento dos pais como referência para os filhos.
Simultaneamente, Aaron Beck e Albert Ellis desenvolveram as bases da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), focada no processamento cognitivo, regulação emocional e autocontrole.
Somente na década de 1970 começaram os primeiros estudos sobre TCC aplicada à infância, especialmente para crianças impulsivas, com técnicas de treinamento de autoinstrução, modelagem e continência.
Nos anos 1980, consolidou-se a publicação do primeiro manual de TCC para crianças, impulsionando uma vasta produção científica e de intervenções lúdicas até os dias atuais.
A importância da psicoterapia infantil hoje
A trajetória da saúde mental infantil evidencia a evolução de um olhar que antes era punitivo e excludente para uma abordagem centrada no desenvolvimento, na empatia e na promoção do bem-estar. A Psicologia da Infância e Adolescência continua avançando, oferecendo intervenções cada vez mais eficazes e humanizadas.
Se você busca apoio para compreender ou intervir em questões relacionadas à saúde mental infantil, agende uma sessão com um psicólogo especializado. O acompanhamento profissional é essencial para promover um desenvolvimento saudável e prevenir o agravamento de quadros psicológicos.
Perguntas Frequentes sobre a História da Saúde Mental Infantil
1. Como surgiu a psicologia infantil?
A psicologia infantil surgiu a partir do reconhecimento de que a infância é uma fase única do desenvolvimento humano, com contribuições de teóricos como Freud, Piaget e Bowlby.
2. Quando começou a se falar em saúde mental na infância?
Somente no século XX a saúde mental infantil começou a ser considerada uma área importante, impulsionada pela Psicanálise e pelos avanços diagnósticos com o CID e o DSM.
3. Quais foram os principais marcos na história da saúde mental infantil?
Entre os principais marcos estão: a teoria psicossexual de Freud, a teoria do apego de Bowlby, a introdução da TCC infantil, e a formalização de diagnósticos específicos no DSM.
4. O que é a Terapia Cognitivo-Comportamental Infantil?
É uma abordagem baseada na identificação e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais, com intervenções adaptadas para o contexto lúdico das crianças.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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