Cuidar de si ou se evitar?
“Faça skincare”, “tenha sua rotina matinal”, “tome um banho relaxante”, “acenda uma vela aromática”. Nos vendem autocuidado como se fosse cura. Mas… e se, na verdade, for distração?
Vivemos um tempo em que o autocuidado foi transformado em produto e, muitas vezes, em fuga elegante da dor emocional não resolvida.
Neste quarto artigo da série, vou explorar como práticas de bem-estar — legítimas em essência — podem se tornar formas de anestesiar sentimentos difíceis, evitar enfrentamentos internos e manter a ilusão de controle sobre o caos emocional.
O que é autocuidado performático?
Autocuidado performático é quando o ato de “se cuidar” vira mais uma tarefa para mostrar ao mundo — ou para sentir que está no controle de algo, mesmo que internamente o caos esteja instalado.
Exemplos:
• Ter uma rotina impecável, mas não conseguir parar para sentir tristeza.
• Gastar horas em rituais estéticos, mas evitar olhar para traumas emocionais.
• Praticar gratidão compulsivamente, mas não se permitir sentir raiva ou frustração.
• Postar frases de positividade enquanto reprime o choro diariamente.
A busca pelo bem-estar pode virar uma cobrança disfarçada. É o que chamamos de bem-estar emocional tóxico: a obrigação de estar bem o tempo todo.
Quando o autocuidado vira fuga emocional?
A fronteira é sutil. O mesmo banho relaxante pode ser um momento de conexão consigo — ou uma tentativa inconsciente de fugir da ansiedade, da solidão ou da dor emocional reprimida.
A psicologia clínica tem observado um padrão recorrente:
Pessoas emocionalmente sobrecarregadas tentando se manter “funcionais” por meio de rotinas de autocuidado… mas que não sustentam paz, apenas evitam colapsos.
Esse é um tipo de escapismo emocional disfarçado de disciplina pessoal.
O Paradoxo: Mais autocuidado, mais ansiedade
A lógica do mercado de bem-estar vende a ideia de que quanto mais você cuida de si, mais equilibrado se torna.
Mas na prática, vemos muitos pacientes com:
• Ansiedade por não “dar conta” do autocuidado.
• Culpabilização por não conseguir manter a rotina idealizada.
• Sensação de fracasso por ainda se sentirem tristes, mesmo “fazendo tudo certo”.
Esse é um efeito colateral grave do que chamamos de excesso de autocuidado e ansiedade: Quando o cuidado pessoal se torna mais um padrão de exigência, e não um lugar de abrigo emocional.
Como saber se estou me cuidando ou me evitando?
Perguntas-chave:
• Estou fazendo isso para me conectar ou para me anestesiar?
• Isso me aproxima de mim mesmo ou me afasta das minhas dores?
• Estou cuidando do corpo enquanto abandono o que sinto?
• Se eu parar esses rituais, o que aparece?
Se o autocuidado se tornou uma muleta emocional para evitar sentir, pensar ou entrar em contato com suas verdades internas, é hora de reformular a relação com ele.
Autocuidado de verdade inclui o que não é bonito
De acordo com uma perspectiva mais integrativa da psicologia, autocuidar-se é também permitir-se viver o que é desconfortável:
• Sentir raiva e não se julgar.
• Permitir-se o luto, a frustração e o medo.
• Silenciar sem produzir.
• Chorar sem se corrigir.
Autocuidado não é polir a superfície — é sustentar presença no subsolo da alma.
Como a psicoterapia pode ajudar a curar essa distorção?
A terapia é o espaço onde você pode deixar de performar autocuidado e finalmente sentir o que precisa ser sentido.
Na psicoterapia, é possível:
• Identificar padrões de fuga emocional disfarçados de hábitos saudáveis.
• Conectar-se com necessidades emocionais reais (não só sociais ou estéticas).
• Desenvolver autocuidado como gesto autêntico e não como estratégia de controle.
• Validar as emoções que o “mundo do bem-estar” tenta apagar.
Proposta de Prática: Um dia sem rituais
Experimente, por 24h, não realizar nenhum ritual de autocuidado que esteja no modo automático.
Em vez disso:
• Sente-se em silêncio.
• Escreva o que sente.
• Observe os vazios que surgem.
• Perceba o desconforto de não “fazer” — apenas “ser”.
Essa prática simples revela o que o autocuidado tem silenciado dentro de você.
Autocuidado não é aparência — é verdade
Se cuidar não é se esconder em rotinas bonitas. Cuidar-se é ter coragem de sentir, de parar, de mergulhar.
Às vezes, o que você mais precisa não é de um banho de espuma — é de um mergulho em si mesmo.
Perguntas Frequentes sobre Psicologia do Autocuidado, Fuga Emocional e Bem-Estar Tóxico
1. O que é autocuidado performático?
É quando o autocuidado deixa de ser uma prática genuína de conexão consigo mesmo e passa a ser uma obrigação, uma vitrine ou uma estratégia para evitar sentimentos desconfortáveis. Muitas vezes, ele vira uma performance social de “bem-estar” que esconde dores emocionais não resolvidas.
2. Como saber se estou usando o autocuidado como fuga emocional?
Quando o autocuidado serve para evitar sentimentos como tristeza, raiva ou frustração, ele se transforma em anestesia emocional. Se você sente ansiedade ao não cumprir sua rotina de bem-estar ou se usa esses rituais para “se desligar” das emoções, pode estar escapando de si mesmo.
3. Existe um tipo de bem-estar tóxico?
Sim. O bem-estar se torna tóxico quando impõe a ideia de que devemos estar bem o tempo todo, invalidando emoções naturais como dor, dúvida e medo. Essa pressão pode gerar culpa, ansiedade e sensação de inadequação — o oposto da verdadeira saúde emocional.
4. Qual é a visão da Psicologia sobre o excesso de autocuidado?
A Psicologia entende que o autocuidado precisa ser coerente com as necessidades emocionais reais. Quando ele vira exigência, controle ou distração, pode estar mascarando conflitos internos. A psicoterapia ajuda a resgatar o cuidado genuíno, integrando corpo, mente e afeto.
5. Como tornar o autocuidado mais autêntico e consciente?
Ao praticar autocuidado, pergunte-se: “Estou me conectando comigo ou tentando me evitar?” Inclua espaço para sentir, refletir e acolher o que emerge emocionalmente. Autocuidado autêntico inclui descansar, sim, mas também encarar o que dói com compaixão e verdade.
Entender sua mente é o primeiro passo para mudar sua vida. Veja como a TCC pode ajudar você a transformar sua forma de viver.
CLIQUE AQUI PARA BAIXAR O LIVRO
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
Whatsapp: +55 11 96628-5460