Por que, mesmo cercados de prazeres, tantas pessoas ainda se sentem vazias?
Vivemos em uma era onde o prazer está a um clique de distância. Comida rápida, séries infinitas, redes sociais, compras online, estímulos constantes — e ainda assim, algo parece faltar.
A resposta talvez esteja numa distinção feita há mais de dois mil anos: há uma grande diferença entre sentir prazer e ser verdadeiramente feliz.
Neste artigo, vou mergulhar na filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles, conectando-a à psicologia moderna, para compreender o que realmente significa ser feliz — e por que a felicidade duradoura é muito mais do que momentos agradáveis.
Felicidade Hedônica: O prazer como fim
Do grego hēdonē, a palavra “hedonismo” refere-se à busca do prazer como bem supremo. Para muitos, felicidade é isso: sentir-se bem.
• Comer algo delicioso.
• Receber curtidas nas redes sociais.
• Comprar algo novo.
• Ouvir elogios.
• Fazer sexo, viajar, descansar…
Nada disso é errado. O prazer é parte legítima da vida.
O problema é quando ele se torna a única medida de felicidade.
Segundo diversas pesquisas em psicologia positiva, a felicidade baseada apenas em prazer:
• É curta e instável.
• Gera habituação (é preciso mais para sentir o mesmo).
• Cria dependência de fatores externos.
• Muitas vezes leva à frustração e vazio.
Prazer é bom. Mas por si só, é superficial.
Felicidade Eudaimônica: Buscar a melhor versão de si mesmo
Enquanto o hedonismo busca o “sentir-se bem”, a filosofia grega clássica propõe outro caminho: o ser-bem.
A palavra eudaimonia significa literalmente: “Estar bem com o seu daimon” – ou seja, viver em harmonia com o seu eu interior.
Para Sócrates, Platão e Aristóteles, a verdadeira felicidade não está no que sentimos momentaneamente, mas no modo como vivemos.
Ser feliz é viver com virtude (areté), sabedoria, justiça, e em conformidade com a natureza da alma.
Areté: A excelência da alma
A palavra Areté pode ser traduzida como excelência ou realização plena do ser.
Sócrates acreditava que a alma humana só pode ser feliz quando vive de acordo com sua natureza mais elevada. Isso exige:
• Autoconhecimento.
• Consciência ética.
• Busca pela verdade.
• Prática da justiça, coragem e sabedoria.
A Areté é, portanto, o estado da alma que vive sua melhor versão — não por status ou aparência, mas por integridade interna.
Anamnese: Lembrar-se de si mesmo
Para Platão, esse caminho de realização interior envolve um processo chamado Anamnese — a lembrança da alma sobre aquilo que ela já conhece, mas esqueceu ao encarnar.
Aprender, segundo ele, é lembrar-se do Bem. A alma já viu a Verdade — e, ao longo da vida, vai despertando através do diálogo, da filosofia e da introspecção.
Esse processo de anamnese é como um despertar. É a alma se lembrando de quem ela é, e por que está aqui. É, em ultima instância, a própria expansão da consciência.
A jornada da felicidade verdadeira: Uma visão integrada
Dessa forma, a jornada em direção à verdadeira felicidade, segundo a filosofia grega, é composta por quatro grandes etapas que refletem o movimento da alma em direção ao seu florescimento pleno.
O primeiro passo é o despertar, representado pelo conceito platônico de anamnese. Aqui, a alma começa a se lembrar de sua natureza essencial — das ideias eternas de Bem, Verdade e Justiça que ela contemplou antes de encarnar. Esse despertar não é apenas racional, mas existencial: é a sensação de que há algo dentro de nós que já sabe, e que precisa apenas ser lembrado. É o início do caminho da consciência.
A partir desse despertar, ocorre a transformação, simbolizada pelo ideal de areté. A alma que se lembra de sua origem busca, então, viver de forma virtuosa, desenvolvendo suas melhores qualidades e expressando sua excelência no mundo. Areté não é perfeição externa, mas integridade interior — viver de forma coerente com o que se sabe ser verdadeiro e bom.
Essa vivência constante da virtude leva à expansão da consciência. Nesse estágio, o indivíduo começa a perceber a si mesmo, o outro e o mundo com mais clareza, profundidade e lucidez. As ações tornam-se mais deliberadas, os valores mais estáveis, e a mente mais tranquila. A consciência deixa de estar fragmentada por desejos imediatistas e passa a integrar razão, emoção e sentido.
Por fim, essa trajetória culmina no estado de eudaimonia — o florescimento completo da alma. Viver em eudaimonia é viver em harmonia com o próprio daimon interior, experimentando um senso profundo de paz, propósito e plenitude. Trata-se de uma felicidade que não depende de circunstâncias externas, mas que brota de uma vida bem vivida, de dentro para fora.
Assim, a felicidade verdadeira não é um ponto de chegada fácil, nem um momento de euforia. Ela é um caminho interior, que passa pelo autoconhecimento, pela prática da virtude, pela ampliação da consciência e, por fim, pelo florescimento da alma.
E na psicologia moderna?
A psicologia positiva, especialmente com autores como Martin Seligman, Carol Ryff e Sonja Lyubomirsky, resgata exatamente essa distinção:
Felicidade Hedônica
• Baseada em prazer, conforto e emoção positiva.
• Curta duração, satisfação momentânea.
• Mais ligada ao consumo e distração.
Felicidade Eudaimônica
• Baseada em propósito, virtude, autenticidade e relações profundas.
• Duradoura, estável e significativa.
• Está ligada ao florecimento humano (human flourishing) e a busca constante pela melhor versão de si mesmo.
Estudos indicam que pessoas com altos níveis de eudaimonia têm:
• Maior resiliência emocional.
• Melhor saúde física e mental.
• Maior engajamento com a vida.
• Relacionamentos mais profundos.
Dicas práticas para cultivar a Felicidade Verdadeira
1. Cultive o Autoconhecimento
Dedique tempo para refletir sobre seus valores, crenças e propósito. Estudos mostram que pessoas com maior clareza sobre quem são e o que desejam apresentam níveis mais altos de bem-estar e satisfação de vida.
• Prática: reserve 10 minutos diários para journaling (escrever pensamentos e sentimentos).
2. Pratique a Gratidão Regularmente
A gratidão está associada a emoções positivas duradouras. Expressar agradecimento reforça conexões sociais e ajuda a focar no que há de bom na vida, diminuindo o impacto do estresse.
• Prática: anote 3 coisas pelas quais você é grato todos os dias.
3. Estabeleça Metas Significativas
Ter objetivos alinhados com seus valores promove senso de propósito, que está diretamente ligado à felicidade e ao florescimento.
• Prática: defina metas SMART (específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e com prazo) que façam sentido para você.
4. Cultive Relações Sociais Saudáveis
Laços sociais fortes são um dos maiores preditores de bem-estar emocional e saúde mental.
• Prática: dedique tempo a encontros, conversas e apoio mútuo com familiares e amigos.
5. Desenvolva a Atenção Plena (Mindfulness)
Praticar mindfulness ajuda a aumentar a consciência do momento presente, reduz ansiedade e melhora a regulação emocional.
• Prática: experimente meditar 5 a 10 minutos por dia focando na respiração.
6. Invista em Atividades que Desafiem e Desenvolvam suas Virtudes (Areté)
Engajar-se em atividades que requerem esforço, aprendizado e aplicam seus valores fortalece o senso de competência e propósito.
• Prática: escolha hobbies, estudos ou trabalho voluntário que ressoem com sua ética e que te desafiem positivamente.
7. Pratique o Altruísmo e a Generosidade
Ajudar os outros ativa circuitos cerebrais associados à recompensa e bem-estar, promovendo a eudaimonia.
• Prática: faça pequenos atos de gentileza diariamente, como ouvir alguém, ajudar um colega, ou contribuir para uma causa.
8. Cuide da Saúde Física
Exercícios regulares, sono adequado e alimentação balanceada têm forte impacto na saúde mental e na regulação emocional.
• Prática: caminhe 30 minutos por dia, durma 7-8 horas e mantenha uma dieta rica em nutrientes.
9. Evite Comparações Sociais Destrutivas
Comparar-se constantemente aos outros pode diminuir a autoestima e a satisfação com a própria vida.
• Prática: reflita sobre suas conquistas e aprenda a valorizar seu próprio progresso.
10. Busque o Equilíbrio entre Prazer e Propósito
Combine momentos de lazer e prazer (felicidade hedônica) com ações que promovam significado e crescimento pessoal (felicidade eudaimônica).
• Prática: planeje sua rotina incluindo tempo para diversão e para atividades que te façam sentir útil e realizado.
Essas práticas, respaldadas por estudos em psicologia, neurociência e filosofia, ajudam a construir uma felicidade mais profunda, duradoura e significativa — a verdadeira eudaimonia.
A felicidade como caminho interior
A verdadeira felicidade não está em sentir-se bem o tempo todo — mas em viver bem de verdade.
É ser inteiro, consciente, coerente com seus valores mais profundos. É expandir a alma, despertar sua virtude e viver com propósito. É lembrar-se de si mesmo — e florescer.
“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.” — Sócrates
Perguntas Frequentes sobre Felicidade Verdadeira
1. Qual a diferença entre felicidade hedônica e eudaimônica?
A felicidade hedônica está ligada ao prazer imediato e à busca por sensações agradáveis, como diversão e conforto. Já a felicidade eudaimônica é a sensação duradoura de realização e propósito, baseada em viver de acordo com valores e virtudes internas.
2. Como posso desenvolver a felicidade eudaimônica no meu dia a dia?
Foque no autoconhecimento, pratique a gratidão, estabeleça metas significativas alinhadas aos seus valores, cultive relações saudáveis e envolva-se em atividades que promovam crescimento pessoal e contribuição para os outros.
3. A felicidade eudaimônica é mais difícil de alcançar que a hedônica?
Pode parecer mais desafiadora porque envolve reflexão, disciplina e compromisso com valores profundos, enquanto a felicidade hedônica é mais imediata. Porém, a eudaimonia traz uma satisfação muito mais duradoura e profunda.
4. A ciência comprova a existência da felicidade eudaimônica?
Sim. Pesquisas em psicologia positiva mostram que pessoas que vivem com propósito, autenticidade e relações significativas apresentam maior bem-estar, resiliência e saúde mental ao longo do tempo.
5. Posso ser feliz apenas com prazeres momentâneos?
Embora os prazeres momentâneos tragam alegria temporária, eles não sustentam a felicidade verdadeira a longo prazo. O equilíbrio entre momentos de prazer e uma vida com sentido é o que gera a felicidade mais completa e duradoura.
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DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
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