Atualmente, as terapias cognitivo-comportamentais, ganharam maior aceitação por parte da comunidade científica, justamente, por suas inúmeras contribuições e benefícios no tratamento dos transtornos da ansiedade e de humor.
Mais precisamente, no final da década de 70, com o trabalho de Aaron Beck e o desenvolvimento de um protocolo e de um manual conhecido como a terapia cognitiva da depressão, demonstrou-se de forma bastante robusta, a eficácia psicoterápica obtida a partir de uma intervenção que acessa e que modifica estruturas cognitivas, com impactos positivos, sobretudo, para a mudança de humor.
Quando abordamos, entretanto, o tema transtornos de humor, faz-se necessário a priori o entendimento de conceitos básicos sobre, por exemplo, o que é uma emoção, o que é o humor e o que é temperamento.
O DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental), “removeu”, recentemente, em sua última versão mais atualizada, o transtorno bipolar dos considerados transtornos do humor (depressão, ciclotimia, distimia, entre outros), colocando-o em outra categoria a parte, denominada: Transtornos Bipolares.
Nesta perspectiva, o humor vem sendo considerado, ainda, então como uma característica afetiva mais estável, sem muitas flutuações e oscilações, isso em um relativo estado de normalidade, referindo-se, deste modo, mais ao jeito de ser de um indivíduo.
Por isso, a bipolaridade é considerada, de fato, o mais biológico de todos os transtornos mentais, justamente, por possuir um componente bem forte de temperamento. Assim sendo, o temperamento está relacionado às sensações e motivações básicas e, sobretudo, automáticas no âmbito emocional.
A grosso modo, o nosso temperamento é herdado geneticamente, porém, regulado biologicamente. Desde que nascemos, um certo estilo afetivo de temperamento já é manifestado. Em outras palavras, um recém-nascido já possui a sua própria forma particular de emitir respostas frente aos estímulos do ambiente, com diferenças sensíveis e singulares, apresentando, por exemplo, comportamentos mais ansiosos, mais tensos, mais tranquilos ou, até mesmo, mais calmos, mesmo sem ter tido experiências prévias.
O temperamento de um indivíduo já pode ser observado, de fato, desde os seus primeiros dias de vida, contribuindo para a formação de um estilo afetivo básico (depressivo, hipertímico, ciclotímico ou irritável). E, muito possivelmente, este estilo de enfrentamento poderá influenciar no desenvolvimento de um transtorno de humor subjacente.
Mas, afinal de contas, o que é o transtorno bipolar?
Conceitualmente, a bipolaridade é descrita na literatura como uma doença mental grave, crônica, recorrente e incapacitante, sendo assim, uma condição que quando diagnosticada, irá acompanhar o indivíduo acometido ao longo de toda a sua vida e, justamente, por ter uma característica recorrente, ela pode se agravar, necessitando de intervenções mais específicas, e incapacitante, por ocasionar prejuízos sociais, ocupacionais e econômicos, dentre outros. Configurando, deste modo, um espectro de episódios afetivos que incluem: episódios depressivos, episódios maníacos e episódios hipomaníacos.
De fato, com base no conhecimento do senso comum, tem se a concepção equivocada de que a bipolaridade é uma oscilação repentina de humor, geralmente, em um curto período de tempo, o que de fato, não corresponde a maior parte dos quadros de bipolaridade.
Nos dias atuais, sobretudo, o transtorno bipolar acabou se tornando um problema de saúde pública, na medida que interfere nas relações interpessoais do indivíduo, com grande impacto social e perda na produtividade, devido a faltas no trabalho ou, simplesmente, na incapacidade de manutenção das atividades laborais.
Tal como ocorre em outros transtornos mentais, principalmente, nos transtornos de personalidade, podemos muito frequentemente notar que problemas nas interações e nas relações sociais podem desencadear em custos elevados para os órgãos públicos, para o indivíduo e para seus familiares, às vezes com gastos excessivos, além do custo dos medicamentos e de eventuais hospitalizações.
No que se refere à prevalência, o transtorno bipolar acomete cerca de 1,5% da população mundial, com idade de início em adultos jovens, por volta dos 20 anos de idade, com a presença dos sintomas e de um quadro mais configurado de bipolaridade. Contudo, podem também, existir crianças e adolescentes com este diagnóstico mas, consequentemente, quanto mais precoce for identificado este transtorno, por outro lado, pior será o curso da doença.
Com relação ao gênero, existe uma certa equivalência na proporcionalidade da manifestação deste transtorno tanto em homens, quanto em mulheres, no entanto, a ciclagem mais rápida do humor ocorre em indivíduos do sexo feminino. De modo geral, as comorbidades mais frequentes, incluem: a ansiedade, o uso de substâncias e o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Com relação ao curso do transtorno bipolar, 75% das recaídas ocorrem em um intervalo de quatro a cinco anos e metade em um ano.
Quanto à sua classificação, o DSM-V, divide o transtorno bipolar em três subtipos: o transtorno bipolar tipo I, o transtorno bipolar tipo II e o transtorno ciclotímico.
Atualmente, a bipolaridade, dentro de uma perspectiva de espectro, encontra-se no meio termo entre a esquizofrenia e os transtornos depressivos. Deste modo, determinados indivíduos com transtornos bipolares apresentarão mais sintomas psicóticos. Outros, contudo, terão sintomas depressivos mais prevalentes.
Assim sendo, em muitos casos, pacientes com transtorno bipolar crônico e não tratados com psicofarmacologia, podem ser confundidos, frequentemente, com indivíduos com transtornos psicóticos. Isso, devido ao fato de que, em cada episódio de mania, ocorre uma perda neural significativa, com prejuízos cognitivos irreversíveis a longo prazo.
Nesta perspectiva, a combinação de um tratamento medicamentoso associado à terapia cognitivo-comportamental é, em última instância, indispensável.
O transtorno bipolar tipo I, trata-se no entendimento atual, do transtorno maníaco-depressivo clássico ou psicose afetiva, descrito inicialmente no século XIX. Neste subtipo, não existe mais a exigência de psicose ou de experiência na vida de um episódio depressivo maior. Assim, a grande maioria dos indivíduos cujos sintomas atendem aos critérios para um episódio maníaco, igualmente, podem ter episódios depressivos ao longo de suas vidas. Neste caso, então, o psicodiagnóstico pode ser realizado somente com base no episódio de mania.
O diagnóstico do transtorno bipolar tipo II, entretanto, requer a presença de um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante a vida. Não sendo, assim, uma modalidade mais leve dos sintomas da bipolaridade, justamente por conta da depressão que costuma ser mais duradoura e intensa, com prejuízos graves no funcionamento pessoal e profissional.
A ciclotimia, muito mais rara, considerada como um diagnóstico de exclusão, caracteriza-se por períodos de flutuação crônica de sintomas de hipomania e depressivos, durante um intervalo de dois anos, com ausência de sintomas em um período menor que dois meses.
Os principais sinais e sintomas de um episódio depressivo, durante um período de duas semanas, são: humor deprimido com tristeza e irritabilidade, anedonia com perda do prazer na realização de atividades prazerosas, alterações de peso com mudanças no padrão do apetite, distúrbios do sono (insônia ou hipersonia), agitação ou retardo psicomotor, sensação de perda da energia ou fadiga, sentimento de menos valia e culpabilidade, redução da capacidade atencional e ideação suicida.
A mania, por outro lado, caracteriza-se por um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, durante pelo menos uma semana, com a apresentação de três dos seguintes critérios: autoestima inflada ou grandiosidade, necessidade de sono diminuída, maior necessidade de se expressar verbalmente, fuga de ideias, distrabilidade, aumento da atividade dirigida a objetos e envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um risco potencial para consequências dolorosas.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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