Nos últimos anos, o interesse pelo uso de psicodélicos no tratamento de condições de saúde mental tem ganhado força, com estudos e pesquisas mostrando promissores avanços. Embora o tratamento psicodélico ainda esteja aguardando aprovação oficial por órgãos como a FDA, as evidências científicas sobre seus benefícios não param de crescer. Como psicólogos, é essencial que nos envolvamos com essa evolução, para garantir que os tratamentos sejam aplicados de maneira segura e eficaz, promovendo o bem-estar dos pacientes.

Em agosto de 2024, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) rejeitou uma solicitação da Lykos Therapeutics para aprovar o MDMA (Ecstasy) em combinação com terapia para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) resistente ao tratamento. Embora o MDMA tenha o potencial de ser o primeiro psicodélico aprovado pela FDA, a agência solicitou mais estudos para avaliar sua segurança e eficácia. Apesar dessa decisão, especialistas permanecem otimistas, acreditando que, com mais pesquisas, outros psicodélicos, como a psilocibina e o LSD, podem em breve ser utilizados em tratamentos clínicos.

A Neurobiologia por trás dos Psicodélicos

Pesquisas recentes indicam que os psicodélicos têm a capacidade de alterar conexões neurais no cérebro, promovendo mudanças comportamentais e cognitivas duradouras. Um estudo recente, por exemplo, analisou os efeitos da psilocibina no cérebro de adultos saudáveis, mostrando que a substância pode desorganizar as redes neurais associadas à identidade e ao eu, promovendo uma espécie de “reset” nas conexões cerebrais. Esse processo pode permitir que os pacientes façam novas conexões e mudanças comportamentais, especialmente quando a terapia é aplicada em conjunto com a substância.

Além disso, estudos também sugerem que os psicodélicos podem “desligar” áreas do cérebro responsáveis pela memória episódica, enquanto reforçam as memórias sem detalhes, como familiaridade e reconhecimento. Isso pode ser útil para pacientes que precisam reestruturar comportamentos e padrões negativos, como aqueles que sofrem de depressão, ansiedade e transtornos relacionados ao uso de substâncias.

O papel do Psicólogo na Terapia Assistida por Psicodélicos

Embora a pesquisa sobre psicodélicos seja promissora, ela também exige uma abordagem cautelosa. Como psicólogos, é nosso papel entender profundamente as implicações dessas terapias, garantindo que os pacientes sejam bem orientados sobre os riscos e benefícios. A terapia assistida por psicodélicos não é uma “cura milagrosa”, mas uma abordagem potencialmente poderosa quando aplicada com supervisão adequada.

A psicoterapia desempenha um papel crucial nesse processo, pois é durante o uso de psicodélicos que os pacientes podem explorar e reorganizar seus padrões de pensamento e comportamento. O psicólogo, como facilitador dessa jornada, pode ajudar o paciente a interpretar e integrar as experiências vividas durante o tratamento psicodélico, promovendo a cura de uma maneira segura e estruturada.

Desafios e oportunidades para os Psicólogos

A aprovação de psicodélicos pela FDA ainda é um processo longo, mas os pacientes já estão procurando por esse tipo de tratamento. De acordo com um estudo realizado na Califórnia, quase metade dos profissionais de saúde mental relatou que seus pacientes têm se interessado por psicodélicos como tratamento, mesmo sem aprovação federal. Essa procura exige que os psicólogos estejam bem informados, não apenas sobre os efeitos das substâncias, mas também sobre os protocolos terapêuticos que envolvem esses tratamentos.

Em resposta a essa demanda, programas de treinamento estão sendo desenvolvidos para educar psicólogos sobre os usos terapêuticos de psicodélicos, incluindo sua história, segurança, e modelos de tratamento. A APA (Associação Americana de Psicologia) já está atualizando suas diretrizes de prática para incluir essas abordagens emergentes, e em 2025, um grupo de psicólogos planeja lançar um conjunto de ferramentas e webinars gratuitos para capacitar os profissionais da saúde mental em relação a esse campo.

O uso de psicodélicos no tratamento de distúrbios mentais tem um grande potencial, mas exige uma abordagem cuidadosa e informada. Como psicólogos, temos a responsabilidade de guiar nossos pacientes de forma ética e segura, para que possam se beneficiar de novas opções terapêuticas enquanto minimizamos riscos. Com mais pesquisa e educação contínua, podemos ajudar a moldar o futuro do tratamento psicodélico, garantindo que seja uma opção segura, eficaz e ética para aqueles que mais precisam.

Fonte: Associação Americana de Psicologia (APA)