A empatia é um dos aspectos mais fundamentais da interação humana, permitindo que nos conectemos emocionalmente com os outros e compreendamos suas experiências subjetivas. No entanto, essa habilidade não é simplesmente um traço inato ou puramente aprendido. Estudos indicam que a empatia é influenciada por fatores neurobiológicos, genéticos e ambientais, o que torna seu desenvolvimento um processo dinâmico e flexível. Neste artigo, explorarei as bases da empatia a partir dessas três perspectivas e discutirei estratégias eficazes para seu fortalecimento.
A Neurobiologia da Empatia
A empatia pode ser dividida em dois tipos principais: empatia afetiva, relacionada à resposta emocional ao estado do outro, e empatia cognitiva, que envolve a capacidade de compreender e interpretar as emoções alheias. Essas duas formas ativam diferentes regiões do cérebro:
• Empatia afetiva: associada ao córtex cingulado anterior, à amígdala e ao hipocampo, áreas envolvidas na regulação emocional e na memória afetiva.
• Empatia cognitiva: dependente do córtex pré-frontal dorsolateral, do giro temporal superior e do giro fusiforme, estruturas responsáveis pelo processamento social e pela interpretação das intenções alheias.
• Processos compartilhados entre os dois tipos: a ínsula, que desempenha um papel central na percepção da dor alheia, permitindo tanto sentir quanto compreender o sofrimento do outro.
Esses achados reforçam a ideia de que a empatia não é um único processo mental, mas sim um fenômeno complexo que envolve diferentes circuitos neurais.
A influência genética na empatia: Quanto herdamos?
A empatia, como qualquer outro traço humano, possui uma base genética e um componente ambiental. Estudos de herdabilidade sugerem que cerca de 30% da variação na empatia pode ser explicada por fatores genéticos, enquanto os 70% restantes dependem do ambiente. Isso significa que, embora algumas pessoas possam nascer com uma predisposição maior ou menor à empatia, o ambiente no qual crescem tem um papel determinante em sua expressão.
Para ilustrar, podemos comparar com outros traços comportamentais:
• Depressão: 20 a 30% de herdabilidade
• Dependência química: 40 a 50% de herdabilidade
• TDAH: mais de 80% de herdabilidade
Os estudos também sugerem que a empatia pode ser influenciada por variações genéticas relacionadas ao receptor da ocitocina, um hormônio associado à socialização e aos vínculos emocionais. Pesquisas indicam que indivíduos que possuem pelo menos uma cópia do alelo A no íntron 3 do gene do receptor da ocitocina tendem a apresentar maior empatia e menor reatividade ao estresse.
O impacto do ambiente no desenvolvimento da empatia
Apesar da influência genética, o ambiente desempenha um papel ainda mais crucial no desenvolvimento da empatia. Diversos fatores ambientais podem amplificar ou reduzir a expressão do potencial genético da empatia, como:
• Baixo status econômico e estresse tóxico: crianças que crescem em ambientes de privação, exposição à violência ou falta de suporte emocional tendem a desenvolver menos empatia, pois suas experiências priorizam a sobrevivência em detrimento da conexão emocional com os outros.
• Modelação social: a empatia é altamente influenciada pelo comportamento das pessoas ao redor. O psicólogo Albert Bandura demonstrou em seus estudos sobre aprendizado social que crianças tendem a replicar comportamentos observados, especialmente quando o modelo é semelhante a elas (por exemplo, outras crianças).
Esse efeito foi evidenciado pelo experimento do boneco João Bobo, no qual crianças que assistiam a um adulto batendo no boneco também passaram a agir agressivamente. Ou seja, “crianças veem, crianças fazem”.
Além disso, filhos de mães deprimidas tendem a desenvolver um comportamento de cuidado precoce com elas, o que demonstra como o ambiente pode antecipar ou moldar respostas empáticas.
O que fazer com crianças pouco empáticas?
Se a empatia pode ser modulada pelo ambiente, quais seriam as melhores estratégias para promovê-la, especialmente em crianças que demonstram baixa empatia e têm pais igualmente pouco empáticos?
A pesquisa indica que a punição não é eficaz para aumentar a empatia, pois apenas reprime comportamentos na presença do agente punitivo, sem modificar a percepção da criança sobre o sofrimento alheio. Alternativamente, algumas estratégias mais eficazes incluem:
• Modelação de comportamento: ser um exemplo de empatia no dia a dia, demonstrando interesse genuíno pelos sentimentos alheios.
• Exposição a experiências de ajuda mútua: incentivar a criança a participar de atividades em grupo que envolvem cooperação e cuidado com os outros.
• Diálogo sobre emoções: ajudá-las a nomear e compreender seus sentimentos e os dos outros.
A empatia não é um traço fixo e imutável. Embora tenha uma base genética, seu desenvolvimento é amplamente influenciado por fatores ambientais e sociais. Quanto mais seguro e favorável for o ambiente de uma criança, maior a chance de ela expressar todo o seu potencial empático.
Dessa forma, é essencial que pais, educadores e a sociedade como um todo incentivem a empatia por meio do exemplo, do acolhimento emocional e da construção de espaços onde as crianças possam aprender e exercitar essa habilidade essencial para a convivência humana.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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