A hipnose é um fenômeno fascinante que, apesar de amplamente estudado e aplicado na psicologia e na hipnoterapia, ainda é cercado por mitos e mal-entendidos. Diferente do que muitos pensam, a hipnose não é um estado de inconsciência, nem um controle absoluto do hipnotista sobre o hipnotizado. Na realidade, trata-se de um processo natural da mente humana, baseado no foco, concentração e imaginação.

Ao longo deste artigo, irei explorar os princípios da hipnose, seus estados de transe, terminologias, aplicações clínicas e desmistificar crenças errôneas sobre o tema.

O que é hipnose?

A palavra hipnose tem origem no termo grego Hypnos, que significa “sono”. No entanto, a hipnose não é um estado de sono, mas sim um estado alterado de consciência, no qual a mente fica mais receptiva a sugestões.

Esse estado acontece naturalmente no dia a dia. Por exemplo, quando estamos imersos em um filme, série ou livro e nos emocionamos com uma cena fictícia, nossa mente está em um leve transe hipnótico. Embora saibamos racionalmente que se trata de uma história criada, nossa reação emocional é real.

Estados hipnóticos e frequências cerebrais

A hipnose ocorre em diferentes níveis de profundidade, e cada um deles está associado a uma frequência específica das ondas cerebrais:

• Transe Leve a Moderado (Ondas Alfa: 12 a 8 Hz)
• Estado de relaxamento e concentração.
• Ideal para sugestões simples e relaxamento terapêutico.

• Transe Sonambúlico (Ondas Theta: 8 a 4 Hz)
• Estado profundo de hipnose, onde a pessoa pode vivenciar experiências vívidas e altamente sugestionáveis.
• Utilizado para regressão e mudanças emocionais profundas.

• Coma Hipnótico ou Estado Esdale (Ondas Delta: 4 a 0,5 Hz)
• Estado de hipnoanestesia, onde a dor pode ser completamente eliminada.
• Foi utilizado historicamente para cirurgias sem anestesia química.

Os dois primeiros níveis são os mais utilizados na hipnoterapia, pois permitem trabalhar questões emocionais sem necessidade de induções extremamente profundas.

Terminologias importantes

• Hipnotista: Profissional que realiza hipnose.
• Hipnólogo: Pessoa que estuda a hipnose.
• Hipnoterapeuta: Profissional que usa a hipnose como ferramenta terapêutica.
• Emergir: Ato de sair do estado de transe hipnótico.

A mente subconsciente e a aceitação de sugestões

Nem todas as sugestões são aceitas pelo subconsciente. Se uma sugestão for contra a identidade ou necessidades essenciais da pessoa, será rejeitada.

Exemplo: Um professor de matemática dificilmente esqueceria o número 9 por sugestão hipnótica, pois isso comprometeria sua função profissional. Da mesma forma, um juiz dificilmente esqueceria o próprio nome.

A hipnose respeita a integridade do indivíduo, pois o subconsciente sempre protegerá informações fundamentais para sua sobrevivência e identidade.

Freud, Dave Elman e Milton Erickson: Diferentes abordagens da Hipnose

Sigmund Freud utilizou a hipnose por 10 anos, mas abandonou a prática porque percebia que tratava apenas os sintomas, sem resolver as causas dos problemas emocionais.

Já Dave Elman, conhecido como o “pai da hipnose clássica”, desenvolveu um método rápido e eficaz para indução hipnótica, amplamente utilizado em clínicas.

Milton Erickson, por outro lado, criou a hipnose ericksoniana, que se baseia no uso de metáforas e comunicação indireta. Essa abordagem leva mais tempo para induzir o transe, mas é eficaz para acessar o subconsciente de maneira sutil e respeitosa.

Atualmente, todas as formas de hipnose derivam de duas principais linhas: Hipnose Clássica (Elman) e Hipnose Ericksoniana.

Mitos e medos sobre a Hipnose

Muitas pessoas têm receios sobre a hipnose, mas a maioria desses medos é baseada em informações equivocadas. Vamos esclarecer os três maiores mitos:

1. “Ficarei preso na hipnose” – MITO
• É impossível ficar preso no transe hipnótico. Mesmo sem intervenção, a pessoa sairia naturalmente do estado de hipnose.

2. “Vou contar segredos contra minha vontade” – MITO
• Durante a hipnose, a pessoa mantém controle total e jamais revelaria algo que não deseja.

3. “Posso ser forçado a fazer algo constrangedor” – MITO
• A hipnose não pode fazer alguém agir contra seus princípios ou valores éticos.

Aprendendo a hipnotizar

A hipnose é um processo seguro, desde que conduzido corretamente. O primeiro passo é o Pre-Talk, onde o hipnotista explica o que é hipnose e desmistifica possíveis receios.

A hipnose não funciona se a pessoa não quiser ser hipnotizada. O processo depende de 50% do hipnotista e 50% da disposição do hipnotizado em seguir as sugestões.

Técnicas de indução e sugestão

As induções podem ser feitas por meio da fala ou do toque e têm como objetivo levar a pessoa ao estado de transe. A técnica mais utilizada na clínica é a Indução Dave Elman, que consiste em quatro etapas progressivas:

1. Relaxe os olhos.
2. Fracione a atenção abrindo e fechando os olhos três vezes.
3. Relaxe completamente os braços.
4. Conte regressivamente de 100 a 1, até que os números “desapareçam” da mente.

Após a indução, o hipnotista pode aplicar sugestões diretas ou indiretas para alcançar os objetivos terapêuticos.

Hipnose clínica e tratamento de problemas emocionais

A hipnose clínica é um poderoso recurso terapêutico, utilizado para tratar diversas questões emocionais e físicas, como:

• Depressão e Transtornos de Ansiedade
• Fobias e TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)
• Somatizações (como fibromialgia e dores crônicas)
• Vícios (álcool, tabaco, drogas, pornografia)
• Controle da dor (extração dentária, remoção de tatuagem, etc.)
• Déficit de Atenção

Sugestão X Tratamento

Apenas dar uma sugestão para que um problema desapareça não é suficiente para um tratamento eficaz. Questões emocionais profundas são tratadas por meio de regressão e ressignificação, permitindo que o indivíduo lide com a causa do problema, e não apenas com os sintomas.

A hipnose é um processo natural e científico que pode ser usado para promover mudanças positivas na vida das pessoas. Diferente do que é mostrado em espetáculos ou no cinema, ninguém perde o controle sob hipnose, nem faz algo contra sua vontade.

Se aplicada de forma ética e responsável, a hipnose clínica pode ser um método eficaz para tratar traumas, fobias, dores crônicas e transtornos emocionais, ajudando milhares de pessoas a viverem melhor.

Se você tem curiosidade sobre a hipnose ou deseja utilizá-la como ferramenta terapêutica, busque profissionais capacitados e estude a fundo esse campo fascinante da mente humana!